Outono em mim

Viajar é fazer uma jornada para dentro de si mesmo.

Capítulo 47

- Danny Kaye

A vida tem um jeitinho meio tortuoso de mostrar que não temos controle sobre nada. Eu que tinha tudo planejado e já me via dentro de uma casa branca com uma enorme garagem bagunçada, agora estava aqui pensando se amaria alguém novamente do jeito que amava Thomas, ou se algum dia sentiria aquela extrema felicidade quando estava ao lado dele.

Antes de ele surgir na minha vida, tinha sempre 3 planos para seguir; o plano A: morar em um país por algum tempo e depois quem sabe voltar ao meu país de origem; Plano B: casar e ter filhos com uma profissão razoável e feliz; e plano C: comprar um apartamento, morar sozinha, ser uma mega ultra mulher bem sucedida ficando com caras só para minhas necessidades e se caso surgisse o amor, que bom, se não, dane-se.

Daí Thomas apareceu e meu plano B se tornou o A, e nenhum outro plano parecia bom quanto este. Mas agora inevitavelmente o antigo plano B não era tão mais uma opção.

Meu plano A estava lá, invicto, de vento em polpa voltando ao seu devido lugar. E talvez eu precisasse disso mesmo, seguir essa opção que sempre alinhei para a minha vida, precisava espairecer, pegar novos ares, descobrir novos lugares e pessoas. Carecia desesperadamente de alguma coisa que me fizesse sentir viva. Necessitava saber que esse coração pulsava ainda e que eu estava vivendo de fato o presente devendo assim parar de continuar vivendo no passado.

Acordei atrasada para o trabalho e quando cheguei lá, minha colega estava falando

sobre onde passaria a sua lua de mel. Aquilo foi como uma facada no meu peito. Eu não queria pensar nisso, aliás, odiava a palavra casamento e seus derivados. Eram

palavras bloqueadas na minha mente desde que...

- Você acha que a gente deveria pensar em morar juntos com quanto tempo? -

Thomas me perguntou de repente.

.- Porque está me perguntando isso? - estranhei a pergunta repentina.

- Não sei... Que tempo você acha ideal? Porque sei lá, tenho isso na minha cabeça deve ser no máximo dois anos de namoro e depois acho que temos que ter a nossa vida sabe? Uma casinha só pra nós.

.- Huh... Não sei, acho que é um tempo bom dois anos... - eu não sabia o que dizer a ele, Thomas me pegou completamente desprevenida.

- Mas acho que não precisamos esperar por esse estereótipo que criei. Digo, todo

esse tempo. Acho que ano que vem já está de bom tamanho.

- Ano que vem é daqui a seis meses! - eu protestei.

- Pois então! Falta muito tempo ainda! - ele se defendeu.

- Falta muito pouco! Calma aí!

Nós rimos e ele começou a meu beijar com as mãos no meu corpo me deixando louca.

Acho que ele entendeu que talvez estivesse falando uma coisa muito prematura, afinal,

recém estávamos juntos.

- Você mentiu.

- O quê?

- O que o quê? - perguntei à minha colega que estava me olhando confusa. - Você

disse que eu tinha mentido...

Oh meu Deus eu tinha falado isso em voz alta? Eu estava em uma linha tênue entre a loucura e a sanidade definitivamente. Limpei a garganta e fui sincera. - Huh, não!
Estava pensando em outra coisa, desculpa...

- E não estava prestando atenção ao que eu te disse né? - ela respondeu levemente

irritada.

- Claro que eu estava!

- Então me diga o que eu disse?

Eu fiquei em silêncio. Ela já tinha ganhado essa discussão. Eu não lembrava de

absolutamente nada. Era irônico lembrar que Thomas tinha pressa em ter uma vida a dois comigo e sem mais nem menos nos tornou singular. Tentei ignorar aquela

lembrança que fazia arder os meus olhos e tomei uma decisão: eu iria sair do país.

Capítulo 47, Outono em mim