Capítulo 27

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Era cedo demais quando eu acordei, mas nem sequer me importei com isso, eu só precisava tomar um banho e juntar minhas coisas para buscar Sophie. Era finalmente o nosso final de semana. De alguma forma, no fundo do meu peito eu sentia o medo me corroer e isso me agoniava pra caralho. Não saber até que ponto ir com alguém que costumava ser a única pessoa com quem você podia fazer o que quer que fosse, é mais complicado do que parece. Pedi James para avisar que eu já estava no hall a esperando e ela desceu, uma calça preta rasgada nos joelhos, o moletom branco da GAP, o cabelo em um coque, o vans preto surrado nos pés. Eu nunca conseguia me acostumar em vê-la na minha frente e saber que ela é minha. Ou era.

-Olá - ela se aproximou, deixando um beijo em minha bochecha, sorri amigavelmente para ela enquanto pegava sua mochila de suas mãos.

-Obrigada, James – acenei para o porteiro - Está linda, Sophie.

-Obrigada, Harry.

Coloquei uma música qualquer durante o caminho de meia hora até o local onde aluguei. Não era bem uma casa de campo, eram alguns chalés, bem tradicionais no meio de uma espécie de campo. Me pareceu romântico o bastante. O tempo não estava contribuindo muito, assim que o carro encontrou a estrada a chuva começou a cair. Sophie falava animada, como sempre fazia durante nossos passeios de carro. Me fez lembrar de quando estivemos em Bath, tudo era muito mais fácil naquele tempo. Eu era bem menos babaca do que hoje, talvez isso tornasse tudo mais fácil. Por que não aceitei simplesmente voltar com ela quando me procurou? Eu dificultei para mim mesmo algo tão simples. Estúpido.

Um homem barbudo e baixinho saiu da guarita da entrada do local, conferindo meu nome e autorizando minha entrada, me entregando a chave da casa que seria a nossa. Eu me sentia na porra de um motel com todo esse ritual. O caminho até a casa onde ficaríamos ainda foi longo, uma área verde enorme em volta, tudo o que se olhava era verde. Parecia realmente um lugar agradável. Pelo menos agora parece que não errei tanto.

-É lindo, Harry! - ela desceu do carro olhando a casa toda de madeira escura a nossa frente e eu sorri satisfeito.

Peguei minha mochila e a dela e abri a porta do lugar. O cheiro de limpeza era agradável sem parecer aquele cheiro horrível de lavanda, tudo por dentro era rústico. Havia uma lareira na sala, e pequenos pedaços de troncos já colocados para facilitar ao acender. A chuva continuava a cair lá fora, e qualquer tipo de passeio ou caminhada, me parecia vetado a esse ponto. Eu tinha medo da conversa, de onde ela iria parar se nos esforçássemos demais.

-Vou guardar algumas comidas que eu trouxe e tudo isso – a olhei e ela ainda olhava em volta por todo o lugar – Quer um leite quente?

-Sim, tá bem frio aqui – ela esfregou uma mão na outra e soprou, e segurei meus pés firmes para que eu não me movesse um pé sequer para acalentá-la. Parecia demais agora.

-Vou fazer então - tirei de uma bolsa térmica tudo o que havia trago de comida para hoje e amanhã, era o bastante, eu sei que sim.

Demorei o que pareceu uma eternidade para ligar o fogão, mas não queria chamá-la apenas para isso e parecer um completo estúpido. Quando finalmente o leite me pareceu quente o bastante fui até um dos quartos, Sophie estava deitada na cama, embaixo de cobertas, o cabelo agora solto.

-Aqui – estendi uma xícara para ela, que sorriu e se sentou na cama.

Rodei meus calcanhares para ir até meu quarto quando sua voz me resgatou.

-Onde você vai? - ela soprou a xícara, merda, ficou quente demais.

-Para o outro quarto? - ela soltou uma risada baixa e puxou a coberta.

-Fique aqui comigo, Harry. - a olhei desejando que ela simplesmente não desistisse daquilo agora – Vem.

Andei rápido até a cama e coloquei a xícara em um móvel que estava bem do lado, puxando a coberta para mim também. Sophie permaneceu sentada do meu lado, o semblante suave como eu não via há muito tempo. Deixei que um suspiro saísse da minha boca.

-Não tem que agir como se fôssemos estranhos, não é isso que quero dizer com ir devagar, caso esteja se perguntando.

-O que? - a olhei confuso.

-Quero dizer, não somos estranhos, muito pelo contrário.- ela colocou a xícara no móvel que havia do seu lado, exatamente como deste lado da cama e se virou para mim – Eu conheço cada pedaço de você, Harry. Não precisa ser tão cuidadoso, não vou quebrar.

-Isso é... relaxante – senti meu corpo inteiro amolecer quando ela passou o indicador na ponta do meu nariz e sorriu para mim - Você gostou da casa?

-É incrível! E é bom que esteja frio, podemos ficar dentro de casa e... não sei, acender a lareira, conversar.

Meu rosto com toda a certeza suavizou com suas palavras e eu não pude evitar de sorrir. Ela não sentia receio do que quer que fosse entre nós, enquanto eu parecia um tolo receoso o tempo inteiro. Quero beijá-la, mas não se posso. Ela se levantou da cama, abrindo a mochila e guardando seus pertences em um armário grande que estava no canto do quarto, enquanto revezava de tomar seu leite quente.

-Posso arrumar suas roupas aqui também? - ela perguntou, mordendo a boca por dentro. Merda, aquela boca.

-Tem certeza? Não precisa fazer isso – dei de ombros.

-Onde está sua mochila?

-Está na sala – ela começou a sair do quarto, os pés em meias enquanto andava na ponta dos pés - Posso por alguma música?

-Claro – ela gritou da sala enquanto buscava meus pertences.

If I Lose Myself da One Republic começou a tocar pelas pequenas caixas que estavam conectadas em meu celular enquanto Sophie voltava.

If I lose myself tonight, it'll be by your side

-A última vez que fiz isso estávamos em Bath, se lembra? - ela sorria enquanto dobrava uma blusa minha, me olhando nos olhos – Sinto saudades dos meus pais, não os vejo desde então.

-Podemos voltar lá - respondi rápido demais, foda-se – Quero dizer, se quiser, você sabe.

-Seria bom, mas meu pai-

-Seu pai me odeia, certo? - franzi a testa enquanto ela murmurava, concordando – Eu odiaria o cara que fizesse com minha filha o que fiz com você. É compreensível.

-Não fez nada, Harry – ela tombou a cabeça para o lado, o olhar compreensivo em mim – Eu quem fiz.

-Eu fiz, Sophie – falei o mais baixo e controlado que consegui – Te deixei ir. Contei todos os meus erros e esse é o primeiro da lista, os outros não chegam nem perto do quanto errei com você quando te deixei ir. Eu via em seus olhos o quanto fui errado quando foi até a academia.

-Sim, sua mãe estava preocupada com você.

-Pare com isso – me aproximei, levantando da cama e ficando do seu lado – Sabe que não foi até lá pela minha mãe, ou quem quer que fosse. Niall me acharia se quisesse.

Suas mãos subiram até meu cabelo e ela enfiou seus dedos ali, segurando como se dependesse daquilo para estar de pé. Meus olhos foram automaticamente para a sua boca e eu rezei para que ela fizesse o mesmo e tirasse seus olhos dos meus por um segundo e olhasse para minha boca. Era a brecha que eu precisava para beijá-la, mas ela não o fez. Seu olhar continuou firme em meus olhos até que eu desisti e correspondi o olhar.

-Você vai algum dia me amar de novo, Sophie? - sussurrei e ela tirou suas mãos de mim, me fazendo xingar baixo.

-Eu não deixei de te amar, Harry.

-Você está com medo?

Ela deu um passo para trás, engolindo seco.

-Sim.

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