XLIII.✓

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Mirella segura uma de minhas mãos enquanto a outra limpa suas lágrimas, ela aperta minha mão tentando transmitir conforto

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Mirella segura uma de minhas mãos enquanto a outra limpa suas lágrimas, ela aperta minha mão tentando transmitir conforto.

— O que... — sua voz falha. — O que aconteceu depois?

Respiro fundo olhando em seus olhos enquanto continuo a contar:

— Assim que passei pelas poucas pessoas... — coço a garganta — vi os restos do carro em que... — Fecho os olhos com força apertando sua mão, ela retribui com uma carícia calma sobre minha palma. — O carro que eles deviam estar. Ele estava completamente destruído. Um caminhão médio estava com sua frente também muito danificada, mas... — Abro os olhos encarando as esferas completamente azuis que Mirella possui. Ela me olha como se entendesse minha dor. — Mas nem se comparava ao estado do carro... Ele estava, estava irreconhecível. Era uma grande bola amassada de metal. — Quando Mirella me olha transmitindo conforto, como se pudesse me livrar de todo esse peso, eu não aguento. Meus ombros se curvam e meus braços caem ao lado do corpo não suportando. Mirella me abraça forte, apoiando meu meu rosto em sei peito. Abraço forte seu corpo. — Era impossível eles terem sobrevivido. Mas eu ainda tinha esperança, sabe?

"Corri até os destroços gritando por eles. Quando a emergência e os policiais chegaram, minhas mãos estavam em carne viva. Eu estava descontrolado! Tentei a todo custo abrir algum tipo de passagem... — Respiro fundo ouvindo seus batimentos cardíacos acelerados. — Só precisava vê-los, pra mim eu iria conseguir salva-los, mas... Bom, fui contido por alguns policiais enquanto Mary tentava me acalmar em vão. Fui sedado, pois estava incontrolável e quando acordei já estava no hospital. Logo sai a procura de Henrique e da Ester, mas... Bom... — Os dedinhos de Mirella se embrenham nos meus fios, trazendo conforto. — Fui avisado que Ester morreu no acidente, mas Henrique... — Fecho os olhos sentindo os beijos dela em minha testa. — Ele chegou com vida no hospital, eu não estava de todo errado. Mas ele só está vivo com ajuda dos aparelhos ainda. Quando pude ir vê-lo... — Abro os olhos encarando os da Mirella, estamos deitados um de frente para o outro, ela corre seu polegar por meu rosto. — Não tem um dia que não me lembro do seu estado. Ele todo pequenino em uma cama que parecia gigante demais. Diversos aparelhos ao lado da cama. Seus bracinhos furados por agulhas enormes, além dos vários hematomas e machucados. Completamente debilitado. Completamente a mercê das máquinas. Aquele não era meu garotinho, meu pequeno homenzinho. Mas demorei cerca de quatro meses para aceitar isso. Quatro malditos meses passei naquele hospital ao lado do corpo do meu filho que já tinha ido junto com a mãe. Mas eu não aceitava, meu anjo, eu não podia. — Circulo o rosto delicado dela com minhas mãos. — Ele era a única coisa que eu tinha nesse mundo, não poderia perdê-lo. Mary sempre me ajudando nesse período, me aconselhando do jeito dela a deixá-lo seguir seu caminho. Eu não queria. Mas no fim foi o que fiz. Na tarde em sábado ensolarado, eu assinei os documentos permitindo que as máquinas fossem desligadas. E eu podia jurar que ouvi sua gargalhada infantil, quando eu o pegava para fazer cócegas o jogando sobre meus ombros. Olhando seu rostinho bem mais magro que antes, seu corpo já raquítico, percebi que meu garotinho não habitava aquele corpo há tempos.

"No domingo ele foi enterrado ao lado da mãe levando tudo o que eu achei que sobrara de mim. Passei um ano trancafiado naquela casa. A piscina que Ester tanto estava ansiosa pelo término nunca seria acabada. O cheiro deles permaneceu no lugar por cerca de seis meses depois do acontecido. Mas depois de todo esse tempo, dependendo onde você entrava, ainda poderia sentir. Era o que eu fazia. Buscava fragmentos deixados deles. — Minha voz cansada evidência minha desistência. — Mary sempre tentava me ajudar a todo custo. O filho dela, Ronnie, aquele que tive uma briga uma vez. — Mirella assente. — Nós éramos muito amigos. Mesmo antes de eu conhecer a Ester. Mas quando me casei com ela acabei que me afastando dele que mais viajava que tudo, então acabamos que voltamos a nos falar, nos encontramos e ele me apresentou as famosas prostitutas de luxo. Até então eu não tinha interesse nessas coisas. — Ela não me olha com nojo ou repreensão, mas sim com calma e doçura. — Isso foi mais ou menos uns cinco anos depois. Eu já havia voltado a trabalhar, mas nunca ficava por muito tempo em uma cidade só. Então quando voltei ao Brasil ele me apresentou esse outro lado do mundo. Eu peguei gosto pela coisa e quando vi já estava frequentando regularmente bordéis ilegais, com tráfico de pessoas e até mesmo opções de bonecas sexuais humanas. Isso eu nunca experimentei, eu juro. Nunca nem as vi, nem sei se são mesmo de verdade — garanto. Mirella assente me incentivando a continuar: — Passei a alugar garotas, tentando tapar esse buraco deixado — pego a mãozinha dela e coloco sobre meu peito — aqui. No fundo eu sabia que nada daquilo adiantaria. Mas quando aluguei a primeira eu achei a melhor coisa do mundo. O problema era que eu enjoava delas, em uma ou duas semanas. Fiz tanta merda nesse tempo, pequena. Você me odiaria mais se te contasse tudo. — Respiro fundo. — Eu matei minha família, virei sócio em bordéis ilegais onde de tudo rolava e ainda comprei uma pessoa. — Toco seu nariz.

— Eu sinto tanto, Estevan — fala com tanta sinceridade que sorrio. Mirella me abraça forte, me pegando desprevenido. — Sinto muito mesmo. — Fecho os olhos enquanto circulo seu corpo com meus braços. — A culpa não foi sua. Não foi de ninguém. Quem poderia imaginar uma coisa dessa? — Se afasta apenas o suficiente para que nossos olhares se encontrem. — Ninguém. Então não se culpe. Você não poderia ter mudado nada. — Sorrio desolado.

— Você só pode ser um anjo perdido aqui mesmo. Quando no mundo alguém trataria uma pessoa como eu, mesmo já tendo feito tantas barbaridades com você, dessa forma? — Balanço a cabeça negativamente. — Desculpa, menina — peço ainda impressionado por ela não ter me olhado com repulsa em nenhum momento, só com carinho e tristeza. Mas eu sei que esse momento ainda vai chegar.

Ela faz uma careta.

— Não se desculpe, Stevs. — Aproxima seus doces lábios dos meus depositando beijos meigos típicos somente dela. Seu olhar carinhoso, como se soubesse exatamente do que eu preciso, e compreensível. — Você precisa descansar. — Volta a se deitar me levando junto. Ela beija minha testa e me observa enquanto acaricia meus cabelos. — Durma, Stevs. Vai ficar tudo bem. — Essa é a única vez que acredito que tudo pode realmente ficar bem. Vou navegando nos seus olhos até não ter mais forças para manter os meus abertos. Sinto apenas suas carícias pelo meu corpo, seu carinho, seu cuidado de mãe, irmã e mulher. Tudo apenas nesse serzinho pequeno e delicado.

Thanks!

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Thanks!

Kess.

20.07.2016

Inocência✓ - Livro 1 da série Corrompidos.Onde histórias criam vida. Descubra agora