..:..:..Capítulo 53 - Parte 1..:..:..

10.1K 611 6
                                    

Julia

Passo a mão em minha barriga e sussurro algumas palavras para acalmar o meu bebê, que se agita assim que ouve minha voz.

  - Você disse alguma coisa? - pergunta Matt.
  - Não. - respondo. 

O carro é espaçoso e o ar condicionado trabalha a todo vapor. Encolho as pernas e junto os braços para tentar aquecê-los melhor, o que não acontece,  já que o carro está superfrio. Suspiro. Apoio minha cabeça na janela e observo a paisagem mudar na medida que o tempo passa. Estamos cada vez mais distantes da cidade.
  - Por que você está fazendo isso? - pergunto, com os olhos agora semiabertos. 

Ele hesita antes de responder, parece agitado.
  - Para te salvar. - Ele continua com a mesma desculpa sem sentido.
  - Ha! Até parece... 
  - Julia... Eu te amo.
  - Não ouse dizer que me ama! - grito. - O que você pretende fazer?
  - Já estamos chegando.
  - Não foi isso que eu perguntei. - juro que esse cara ainda vai me matar de tanta raiva.
  - Eu sei, mas eu te conto tudo quando estivermos em casa. - Ele olha para mim e sorri.
  - Que casa? - indago.
  - Você faz muitas perguntas, senti saudades disso. - Matt olha mais uma vez para mim e dessa vez seu foco não é meu rosto, mas todo o meu corpo, ele logo percebe que estou encolhida no canto do carro.
  - Você está com frio? 
Não respondo, sou orgulhosa demais para admitir que estou com frio. Ele bufa.
  - Mas é claro que você está com frio. 

Matt aproveita o sinal vermelho para vasculhar em uma bolsa, mais parecida com uma maleta, que está no banco de carona, no lugar que eu deveria estar sentada se não estivesse sendo sequestrada, e de lá Matt  tira um casaco de couro. Ele me entrega, com um sorriso que, se fosse há algumas semanas atrás eu teria acreditado que é um sorriso amoroso. Mas pelo visto ele é um louco obcecado por mim e ótimo ator ou algo do tipo.
Aceito o casaco com certa relutância. Só o aceitei porque os meus dedos estão ficando roxos de frio.
  - Como vai o nosso bebê? 
Estreito os olhos e cerro os punhos.
  - Ele nunca foi seu e nunca será. - digo entredentes.
Minhas palavras parecem tê-lo machucado como uma faca afiada. Ótimo, é isso mesmo que eu quero e ele que se prepare, pois estou afiando minha faca e logo logo ela será mortal.
Matt aperta o volante, até os nós de seus dedos ficarem brancos.
  - Não foi isso que me disse quando Dhiren não estava com você.
  - Não importa o que eu disse antes. Isso foi quando meu amigo Matt ainda existia.
  - Eu ainda estou aqui, continuo o mesmo Matt de sempre.
  - Não, não continua. 

Ele estaciona o carro de frente para uma casa rústica, mais parecida com um chalé. Assim que desço avisto uma árvore enorme, parecida com um salgueiro, e nela há uma balanço de pneu pendurado em um dos galhos. Mais afastado, nos fundos da casa, mais precisamente, está o lago que eu lembro vagamente dele ter mencionado. Meus pés afundam um pouco na terra úmida.
  - Espere um pouco, apressadinha. - Ele brinca, pena que eu não estou com humor para isso.
  - Meu nome é Julia. - reclamo.
Ele ignora. Cruzo os braços e espero ele se aproximar.
  - Então, o que achou? - ele pergunta, com os olhos brilhantes de curiosidade.
  - Uma merda. - minto.
Matt parece ofendido e magoado e, por alguns instantes, esqueço que ele me sequestrou e sinto um pouco de pena.
  - Tá, até que não é tão merda assim. - tento amenizar, ele sorri, um sorriso tão lindo que eu logo me vejo sorrindo junto. 
Viro o rosto, não posso ser amigável com uma pessoa que acabou de me sequestrar.
  - Você vai me fazer ficar aqui em pé, parada, esperando?
  - Desculpa! 
Matt segura minha mão e assim que percebe que estou tentando me esquivar, ele aperta um pouco mais.
O clima está ameno, delicioso e seria tudo perfeito se eu não estivesse de mãos dadas com o meu sequestrador. O céu alaranjado dá um clima especial ao lago e a casa, o que torna cada vez mais urgente minha vontade de ter Dhiren ao meu lado. Consigo até mesmo imaginar nós dois sentados no deque, com os pés no lago, admirando o pôr do sol. Eu apoio minha cabeça em seu ombro e ele beija minha testa, insatisfeita puxo a gola de sua camisa e beijo seus lábios quentes e logo estamos deitados prestes a ficar sem uma única peça de roupa.
  - Julia!?
  - Quê? - Acabei não percebendo que Matthew havia me chamado.
  - Seria bom que você andasse.
Com uma carranca, sigo em frente.
A casa mantem todo o estilo rústico que possui na área externa. Os móveis tem uma pegada vintage e os tons variam em torno do marrom. Matt aponta para o sofá de couro. Deixo o orgulho de lado mais uma vez e me sento, pois minhas pernas estão me matando. O que mais me preocupa é que faltam poucos dias para eu parir meu bebê, então preciso sair desse lugar o mais depressa possível. Aliás, Matt ainda me deve uma explicação.
  - Você já pode falar. - me apoio em uma das almofadas e aponto para a ponta do sofá. 
Ele senta e fica em silêncio por alguns segundos antes de começar.

  - Julia, meu amor, há uma pessoa que... Bem, ela deseja acabar com a vida dos irmãos Ward e de todos que se relacionam com eles e... Vocês está na lista das pessoas a serem eliminadas.
  - Por que eu? O que eu fiz? - sinto o suor escorrer na palma da minha mão, mantenho os olhos fixados na lareira de tijolinhos cor de telha.
  - Você ficou com o Dhiren, mesmo recebendo mensagem pedindo para que você o deixasse. 
Sim, eu lembro das mensagens, mas eu nunca as tratei com relevância, para mim era só algum pirralho querendo se divertir às minhas custas.
  - O QUÊ? Você acha mesmo que eu ia dá crédito a uma mensagem anônima? - questiono, ainda sem processar direito o que ele falou. 
  - O problema é que você continuou com ele, você ignorou os avisos dela e por esta razão foi parar na maldita lista, assim como a Beatriz, visto que ela também recebeu mensagens como as suas e não cumpriu o que lhe fora imposto.
Então quer dizer que a Bea também recebia mensagens. Por que ela nunca me contou nada? Se bem que... Eu também nunca falei sobre as que eu recebia, até porque nem me importava com elas, só apagava e cagava para a pessoa que as enviavam. Agora eu entendo o por quê de ela ficar pálida toda vez que acabava de ler uma mensagem
  - E como você sabe de tudo isso? - É muito suspeito ele saber dessas coisas.
  - Ela é... Nós...
  - Fala de uma vez! - eu não aguento ter de esperar e ficar com essa ansiedade me matando.
  - Eu também queria acabar com eles, Maxon e Dhiren, nós meio que trabalhamos juntos nessa, por isso eu me aproximei da Beatriz, eu tive que fazer isso.
Após ele confessar que queria acabar com Maxon e Ren milhares de perguntas e questionamentos surgem em minha cabeça, entretanto, só consigo proferir uma.
  - Como é? Então você quer dizer que esse tempo todinho você enganou a todos? Você enganou a Bea, o Maxon, o Ren e... - encaro-o com ódio - e a mim.
  - Não! A você não! Eu te amo de verdade, nunca menti sobre isso.
  - Para! Cala a boca! Não fala mais nada.
  - Ju, se eu não tivesse feito isso, te trazido pra cá, ela iria tentar alguma coisa contra você, ela já tentou com a Bea! - vocifera, com o rosto vermelho e as mãos enterradas no cabelo. - Eu te amo, caramba! Não podia deixar que algo te acontecesse, ou melhor, não vou deixar! Nunca me perdoaria...
  - O que fizeram à minha amiga!? 
Ele permanece calado.
  - Responde!
  - Ela... Ela foi atropelada.
  - O QUÊ!? O que, o que... Ai meu Deus... O que aconteceu com ela?
  - Acho que ela perdeu o bebê.
Enterro meu rosto nas mãos e choro. 
Ele se aproxima, coloca a mão nas minhas costas e começa um leve afago. Este gesto me acalma um pouco, porém não posso permitir que esse nojento encoste em mim.
  - Não encosta em mim!
  - Ju, eu...
  - Você não ouviu o que a garota falou? - uma voz feminina questiona, com autoridade.

Meu coração dá um pulo, levanto a cabeça e vejo uma garota linda, com longos cabelos encaracolados louros e brilhantes e olhos... Olhos lindos, que eu já vira em algum lugar e que são um tanto familiares...

O Idiota do Meu Chefe #wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora