..:..:..Capítulo 53 - Parte 2..:..:..

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Tô na casa da minha avó (aqui não tem internet), por isso a demora.
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Observo a loira se aproximar. Olhando bem, agora posso ver certa semelhança entre ela e Matt, o mesmo cabelo, os mesmos traços, porém os olhos da garota não são azuis. Ela parece estar com raiva, muita raiva, na verdade. Matt fica na minha frente, de modo protetor, seu maxilar está tenso. Será que ela seria capaz de fazer algo contra mim? Não, ela nem mesmo me conhece, por que faria algo? E de qualquer forma ela pediu para que Matt me soltasse, apesar de que... bem, ela não parecia se importar nem um pouco com o que ele estava prestes a fazer comigo, parecia que ela só queria contrariá-lo, como uma criança mimada. Calma Julia, você já está ficando paranoica. Puxo uma boa quantidade de ar, respiro fundo e tento acalmar meus músculos tensionados.
Matt e a garota misteriosa se encaram por um longo tempo, ela poderia muito bem ser a personificação da raiva e do ódio, pois seus olhos brilham de ira. Matt mantem seu rosto sem nenhuma emoção, entrementes, o pouco que eu conheço dele faz com que eu saiba que bem lá no fundo ele está nervoso e preocupado. Se alguém aparecesse agora, provavelmente iria pensar que eu e Matt somos amantes e a loira, a esposa traída, louca para acabar com nós dois. Eu até riria se não estivesse na posição que estou agora.
Minhas mãos gelam e um arrepio de medo se dissipa por todos os meus membros assim que ela me lança um olhar de desdém e ódio. Mas que droga! Eu preciso me acalmar, meu bebê precisa e eu não vou deixar que essa coisa estúpida de lindos cabelos angelicais, me tire a paciência e muito menos que me intimide.
- Seu traíra desgraçado! – grita a loira, com a testa enrugada e as mãos em punho.
Engulo em seco, era só o que me faltava ter que ficar no meio de uma briga.
Matt cruza os braços e sorri com condescendência, o que só deixa a garota ainda mais irritada.
- Você não tem nada a dizer? – ela questiona, com o queixo empinado e os olhos estreitos.
Preciso colocar a mão na boca para não rir dela.
- O que é que você tem? – indaga a mim, com os olhos fatais cravados em meu rosto.
Matt dá um passo para frente, na tentativa de me defender e proteger caso seja preciso.
- Eu nem te conheço, garota. – respondo, com um sorrisinho de indiferença, para mostrar que ela não me intimida.
- Você pode até não me conhecer, mas não é a primeira vez que fala comigo.
Ah, que ótimo! Agora vou ter que descobrir se ela fala a verdade ou não. Mesmo que seus olhos me sejam familiares, eu nunca a vi em toda a minha vida, disso eu tenho total certeza. Então como ela pode dizer que não é a primeira vez que fala comigo?
- Katherine! – repreende Matt.
Ao menos agora eu sei seu nome.
- Não, deixa ela falar. Tenho certeza de que ela não veio à toa. – digo, olhando diretamente para Katherine, que sorri.
- Garota esperta. – ela ajeita a franja, o decote da camisa (que deixa óbvio que seus peitos são siliconados) e se joga no sofá. – Então vamos sentar.
Matt não se move. Minhas pernas estão tão doídas do peso da minha barriga, que cedo e sento na extremidade do sofá.
- Não vai apresentar sua irmã? - Matt a encara com ódio. – Certo, então eu me apresento. Meu nome é Katherine, sou irmã do Matthew e foi eu que te enviei aquelas mensagens. – ela estende a mão, simples assim, como se tivesse dito apenas um simples “bom dia”.
Rio. Katherine abaixa a mão e me fuzila com o olhar
- Do que você está rindo?
- Minhas suspeitas estão corretas, por isso estou rindo.
- E quais eram as suspeitas da Sherlock?
- Eu suspeitava que as mensagens eram de algum pirralho sem noção, querendo se divertir às minhas custas.
Matt finalmente se mexe e vem até mim. Ele segura meu pulso com um pouco mais de força que o necessário e me adverte com o olhar.
- Olha, que lindo! Meu irmãozinho tentando proteger a namoradinha sem graça. Como você consegue sentir algo por ela? Ainda mais com essa barriga! Parece uma porca prenha.
Sinto meu corpo queimar de ódio.
- Isso não é da sua conta. – Matt replica, com os dentes cerrados.
Katherine me olha com indiferença e eu não posso me segurar. Solto meu pulso do aperto de Matt e vou pra cima da vaca siliconada. Agarro seu pescoço e lhe digo tudo o que estava entalado em minha garganta. Sinto os braços de Matt na minha cintura, tentando me afastar da diaba. Assim que percebo que ela já está ficando roxa (e considerando que eu não quero ser uma assassina), livro seu pescoço e deixo que Matt me afaste.
- Você está louca? – ele sussurra.
- Cale a boca. Só estou aqui por sua causa.
- Por favor, Ju, é pelo seu próprio bem. Não provoque minha irmã.
- Não me diga o que fazer. O que você quer? Que eu fique calada enquanto ela me insulta?
- Você vai pagar caro por isso.
Matt e eu viramos. Ela está com uma arma apontada em minha direção. Meu coração dispara e minhas pernas vacilam por um momento.
- Não me diga que agora está com medo? – a filha da mãe provoca.
- Katherine, não! – Matt grita.
- Por que não? Você me traiu!
- Não me digam que vocês cometeram incesto? – indago, com a curiosidade corroendo os meus ossos.
- O quê!? – os dois me encaram, incrédulos.
- Você acabou de dizer que ele te traiu. – esclareço.
- Sim, porque esse idiota ia me abandonar para te proteger! – ela volta a ficar de frente para ele - Como você pôde? Estávamos juntos nessa, ao menos você disse que estávamos.
Encaro Matt, mas ele desvia o olhar, constrangido. Droga, então ele falou a verdade... e eu simplesmente... oh, céus! Que posição desagradável. Ele só queria me proteger e eu o insultei... não! Mas... de qualquer forma ele não é uma boa pessoa, se ele estava envolvido com essa cobra da irmã é provável que ele já tenha feito coisas das quais prefiro nem saber.
Antes que eu possa falar ou fazer qualquer coisa, a porta é escancarada, fazendo um barulho estrondoso assim que bate na parede. Um lindo quadro de um cavalo cai no chão. Um cara armado, com uma touca preta na cabeça aparece e assim que põe os olhos em Katherine, um sorrisinho surge por entre o buraco da touca.
- Temos algo pra senhora. – ele anuncia.
Katherine sorri, com os olhos brilhando de excitação.
- Não me diga que você os tem aí? – ele balança a cabeça em concordância.
Ela corre e o beija com voracidade. Katherine chupa o lábio dele sem piedade e o barulho faz meu estômago se revirar, assim como a imagem. O bandido coloca as mãos por dentro de sua saia, ela joga a cabeça para trás e grita de prazer. Louco de prazer, ele derruba todas as coisas que estão na mesa e a coloca em cima. Não sei mais o que eles fazem em seguida, pois viro a cabeça. O que eu menos quero no momento é vomitar. Matt está de costas, tentando controlar a raiva.
- Vamos embora daqui.
- O quê? Mas... ela...
- Ela nos deu essa chance, pelo visto ainda tem um pouquinho de afeto por mim.
Pego minha bolsa e ele me ajuda, sempre olhando para o lado contrário onde está sua irmã e seu amante numa pegação louca.
- Tira a mão de mim, caralho! – meu coração acelera. Eu conheço essa voz.
- Vamos, Julia! – Matt diz, com urgência, porém eu fico parada, com os pés colados no chão, incapaz de me mover.
- Dhiren... – meus olhos se enchem de lágrimas.
Ele para de se contorcer e me observa. Ren solta um pesado suspiro, vejo o alívio passar por seus olhos assim que percebe que estou bem e viva. Maxon está ao seu lado preso por uma corda e sendo arrastado por um outro bandido de touca preta, assim como o que carrega Ren.
- Vamos, Julia! – chama Matt, agora desesperado. – Ou vamos agora ou não saímos mais.
E é isso que a droga do amor faz, você ignora todo os problemas só para estar ao lado de seu amado, você ignora as consequências, as pessoas que estão em volta... tudo o que importa é vocês estarem juntos e isso é uma merda.
De um lado está Matt, com a mão estendida e um brilho de medo em seus olhos que eu nunca vira antes, pronto para me ajudar a sair desse inferno antes que o pior aconteça, ele é a minha liberdade. Do outro lado está Ren, preso, vulnerável, com os olhos cheios de amor e preocupação para comigo. Ele é a minha tábua da salvação, posso continuar presa, porém não vou deixa-lo, nunca seria capaz de fazê-lo.
- Não posso... ele está aqui por mim, não vou abandoná-lo. – digo a Matt, com os olhos cravados em Ren.
- Julia... e o bebê?
Droga! Não posso deixar meu bebê em perigo, mas...
- Não vou abandonar o Ren e de qualquer forma eu vou proteger o meu bebê, não se preocupe.
Ele passa a mão pelo cabelo, num gesto de exasperação, ouço-o xingar baixinho.
Ela solta um suspiro e diz:
- Também não vou te abandonar.
Encaro-o surpresa. É extremamente desconfortável ter alguém apaixonado por mim, sem eu corresponder seus sentimentos. Sua preocupação parece ser sincera e isso só piora as coisas para mim. Preferiria que ele me odiasse e me desejasse o pior.

Levanto a cabeça e observo meu Ren mais uma vez. Ele devolve o olhar e me passa uma sensação de conforto. Sorrio. Maxon está ao lado, com o pensamento longe e um olhar vazio. Ele deve estar morrendo de saudades da Bea e do... ah, o bebê...
Não sei o que seria de mim se o meu bebê... não quero nem pensar!
Eu estou com os pulsos amarrados, por sorte foi Matt que amarrou, logo a corda não está me incomodando. Também não estou no chão como os outros, Matt fez o favor de convencer a irmã a me colocar no sofá. Estamos todos presos como reféns. A louca e seus capangas estão armados, qualquer tentativa de fuga e estamos ferrados. Como eu não quero minha linda cabecinha ferrada por uma bala idiota, permaneço em silêncio, esperando por um milagre.
- Ei! – Ren chama Katherine.
Ela se vira e o encara com o cenho franzido.
- Tenho uma proposta.
- Diga.
- Você pode fazer o que quiser comigo, pode me matar do modo que desejar, mas você precisa liberar a minha mulher.
Quando ouço o “minha mulher”, um arrepio me pega de surpresa, mesmo em tais condições. Eu não presto... mesmo estando prestes a ser condenada, não paro de pensar nas milhares de coisas indecentes que poderíamos estar fazendo.
- Com ela aqui ou não, você terá o mesmo fim. – ela ri.
O bandido que ela beijou antes se aproxima, a envolve por trás e mordisca a orelha dela. Ninguém merece...
- Não terei mesmo, pode ter certeza. – ele diz, com veemência.
- Veremos. E de qualquer forma eu dei chance para que eles fugissem, mas pelo visto eles gostaram daqui.
Dhiren me repreende com o olhar. Reviro os olhos.
- Katherine! – grita um dos bandidos.
- O quê!?
- Encontramos uma loirinha gostosa espionando por detrás do arbusto.
Os olhos de Maxon se arregalam e ele fica pálido, branco como uma folha de papel. Ele se remexe em meio aos nós que o prendem, impaciente.
- Tragam-na!
- Já a predemos e ela não está sozinha.
Os escrotos entram com a Bea amarrada, e assim que ela me vê dá um sorriso que não chega aos olhos. Maxon sussurra algo que parece ser um “não bea...”e fecha os olhos, ele parece estar sofrendo. Logo atrás está o pai de Maxon. Que diabos ele está fazendo aqui?
- Pai!? – Maxon e Dhiren gritam assim que o vê.
Ren fecha a boca assim que percebe as palavras que acabou de proferir.
Katherine parece estar em êxtase.
- Irmãozinho... agir como herói foi a melhor coisa que você fez até agora! – ela corre e o abraça, ele a empurra. – Não precisa ficar assim, você juntou todas pessoas que queremos dar um fim. Eu te amo.
Ele bufa. Os olhos de Katherine estão tão paranoicos que pela primeira vez eu sinto medo, essa menina é louca!
- Eu não quero mais isso, não quero saber de vingança nenhuma! Deixa eles viverem em paz.
Ela encara o irmão.
- Você vai deixar barato o que fizeram ao nosso pai? – ela vocifera.
- Eles não têm nada a ver com o que aconteceu com o nosso pai! O único que tem culpa aqui é ele. – ele aponta para o pai de Maxon, que se encolhe com o gesto.
- Será que alguém pode explicar alguma coisa!? – Grito. Todos me encaram, com os olhos arregalados. Ren sorri.
- Claro, fofinha.
Ela anda um pouco pela casa, calada, só para dar mais tensão. Retardada!
- Matt e eu somos filhos de Edward Lovengood.
Ela faz uma pausa. Pelo canto do olho vejo o senhor Ward arregalar os olhos e ficar pálido. O engraçado é que esse é o mesmo nome do pai de Dhiren... meu Deus! Os olhos de Katherine... ele... são iguais aos de Ren!
Edmund começa a tossir.
- Pai! – Maxon grita.
Ren quase fez o mesmo, mas se conteve.
- Não morra ainda, velho idiota! – Katherine resmunga. – Não é esse fim mole que eu quero pra você. Mas vamos logo ao que interessa. Seu pai idiota estava de casamento marcado com a... como era mesmo o nome da vadia?
- Mais respeito! Nora é uma mulher incrível. – Edmund responde.
- Isso mesmo! A mulher era de uma família cheia da grana e o garanhão aí não perdeu tempo. Só que Nora dizia amar o meu pai e o meu pai a amava cegamente, só que ela não podia casar com ele, um pobretão que a família dela nunca aceitaria. Então eles acabaram se afastando, só que anos depois eles se reencontraram e viveram um lance aí de novo, que deu origem a um bebê que não chegamos a conhecer.
Não... será!? Só pode ser isso mesmo! O bebê que eles não chegaram a conhecer só pode ser o Dhiren!
Olho para Ren e parece que a ficha caiu pra ele também.
- Só que o que a Nora não sabia é que meu pai já tinha alguém bem antes, minha mãe. Quando meu pai conheceu Nora, minha mãe tinha acabado de descobrir que estava grávida de Matt. A mãe de vocês seduziu o meu pai! Então na segunda vez que eles se encontraram, Nora foi quem engravidou e logo depois minha mãe descobriu que estava grávida de mim. Ela me contou que meu pai também tinha outra amante, só que nunca a descobriram, outra vadia!
- Ainda não entendi o motivo da vingança, dá pra ser direta!? – Reclamo.
- O senhor Ward mandou matar o meu pai!

O Idiota do Meu Chefe #wattys2016Onde histórias criam vida. Descubra agora