Cap. 32

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Me senti encurralado, no canto do banheiro, recebi diversos socos na costela e no abdômen. Eu já estava sentindo uma profunda falta do Kurt... Mas ele não tinha a obrigação de me defender, afinal de contas, nunca seremos amigos de novo.
- Parem, por favor, parem... - Sussurrei com a respiração falha, eles me xingaram de "putinha", antes de saírem rindo com um Hi-Five. Levei minha mão ao tórax, ergui a blusa no espelho e estava muito inflamado, como me doía... Juntei meu esforço como sempre, joguei a mochila no ombro,  com bastante dificuldade e saí do banheiro. Eu queria ter forças o suficiente para revidar e acabar com eles. De repente, parei o olhar em Kurt. Estava sentado no pátio, estudando biologia. Me lembrei brevemente que estava de recuperação. Fixei meu olhar nos meus sapatos e tentei caminhar normalmente, coisa impossível. Ele ficou alerta, eu não olhei em seus olhos.

Observava com bastante inexpressão o prato em cima da mesa. Eu tinha que me enganar de muitas coisas, que eu não tinha nada intalado na garganta, que Martín não era um idiota e que aquela família era a melhor possível. Enquanto eles discutiam sobre algo, eu começei a pensar em Kurt e tudo que nós vivemos. As melhores memórias que eu já tive. E daí que ele é um psicopata, eu amo ele, eu não estou suportando ficar longe dele, não só porque cada dia mais suas lembranças me assustam, também porque meu rosto está limpo, mas meu corpo está misturado entre pardo/roxo/vermelho. Nunca estive tão vulnerável. Me levantei com pressa, depois de receber muitas encaradas do meu primo. Puxei meu moletom e saí perdido por aí. Eu queria gritar, eu queria morrer, eu queria sumir do mundo!! Eu caí no asfalto como naqueles filmes de drama, estava muito fraco pra poder levantar...
- Eu odeio, odeio, odeio!! - Berrei pra mim mesmo. - EU MEREÇO MESMO TUDO ISSO?! NÃO É JUSTO, POR FAVOR, ME DÊ UMA VIDA NORMAL, DEUS!! EU NÃO QUERO MAIS ISSO!!! DÓI MUITO!
Acordei vendo um bar, pelas minhas laterais, eu perdi meus domínios, dei um riso malvado pra mim mesmo, senti a necessidade de derramar álcool na minha garganta. Sentei no balcão e pedi uma cerveja só. Uma música do Kendrick Lamar tocava, tinha muita gente bebendo, os garçons pareciam ocupados. Então, engoli a bebida, engolindo minha raiva da vida, engolindo mais vazio e mais dor.
- Então, cara. Alicia tá querendo um anel de diamantes e nem me demonstra nada, tá sabendo? - Ouvi vozes conhecidas dialogando, qual é, destino! Eu só quero encher a cara na paz! Escondi meu rosto no cabelo.
- Cara, você nem tem dinheiro pra um anel de diamantes.
- Não seja bobo, ela tá caidinha por mim... Mas ela tem que demonstrar algum agradinho, né... Estamos juntos a anos, e eu nunca passei a noite com ela.
- Ah cara, pois porque não termina com ela?
- Porque eu demorei muito pra conquistar aquela gata.
- Haha, mas você mesmo disse que não gosta dela.
- Eu tenho que comê-la antes, depois eu termino... - Riram. Meu coração começou a bater mais forte, nenhuma garota merece passar por essa humilhação, sabia que eles eram cretinos, mas aquilo já era o exagero do exagero.
- Hey... Maria Chorona! - Senti dedos no meu cabelo. Inferno...

ninguém quer dançar com vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora