Cap. 18

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- A jaqueta. - Ele disse me entregando. Rápido deduzi que Martín não caiu por acidente.
- O-o que você fez? - Eu perguntei como um sussurro, ele fingiu que não ouviu e abriu a porta do carro pra eu entrar. Seguimos o caminho em silêncio, ele estava concentrado e eu um pouco medroso. O carro foi parando numa clínica, eu estranhei total.
- Porque estamos aqui, Kurt? - Perguntei.
- Tenho que fazer uma coisa, você me espera? - Ele disse, eu assenti. Saiu me deixando no carro. Depois de alguns minutos eternos, ele estava demorando, então saí também. Entrei na clínica, parecia um bando de loucos, todos de jaleco. Tinha uma velha sentada num banco falando com algo ou alguém, mas não tinha ninguém perto dela. Tinha outros pacientes que pareciam um monte de zumbis... Quis dar um passo para trás, mas a porta estava fechada por eles. Meu coração tremeu de medo. Era pouco barulhento, os enfermeiros caminhavam de um lado para o outro... Mas então vi Kurt entrar numa sala específica, psquiatria. Estranhei tudo aquilo, fui até a janela. Minha vista não me enganava, Kurt estava lá dentro, pelo que vi na brecha da persiana, deitado com as mãos entrelaçadas enquanto a possível pscóloga o analisava. Encostei na parede esperando e esperando...
- B-bert... - Ele disse um pouco triste, por me ver ali assim que saiu da sala.
- Quem é, sr. Cobain? - A moça falou simpáticamente.
- Este é o amigo que lhe contei, Kelly. Bert McCracken. - Ela estendeu a mão pra mim impressionada, correspondi tímido com segundos depois.
- Ah, você? O Kurt fala muito de você. - Disse com um riso. - Você é uma peça fundamental para o tratamento dele, obrigado pelo que vem fazendo.
- Ah... De nada? - Eu não tinha feito absolutamente nada, e nem sabia do que estava acontecendo. Olhei pra Kurt, ele estava corado.
- Então já posso ir embora, Kelly? - Ele disse constrangido.
- Claro, vou mandar o relatório para seu médico. Parece que você fez progresso esta semana... Pegue o resultado logo amanhã, ok?
- Tá... Ok... - Ele disse, ela se despediu de mim com um cumprimento. Ele me puxou pelo braço, paramos de falar mais uma vez.

- Porque não ficou no carro? - Perguntou brevemente e rouco.
- Bem, você estava demorando... Você está bem? - Ele levou o olhar pra mim. - A moça disse que você fez progresso...
- Bert, eu não quero que... Saiba.
- Ela disse que eu posso te ajudar, seja o que for, eu quero te ajudar, Kurt.
- Não. - Disse voltando a atenção ao volante. - Não quero te perder também, por favor... - Ele chorou sincero.
- Você não vai me perder... - Eu disse lhe afagando. - Porque me perderia?
- Eu tenho problemas mentais, Bert, você não entende isso. - Ele disse, eu me afastei um pouco confuso e com medo.
- Problemas mentais... - Eu repeti, olhando a estrada, não quis mais remexer no assunto. - Todos nós temos...
- É complicado, Bert. - Ele disse sacudindo a cabeça. Eu quis chorar, ele percebeu meu olhar cheio de água. - Ah não, não, me desculpa, não chora...
- Como não vou chorar, Kurt? Você é mais meu amigo do que eu sou seu... Eu quero cuidar de você também, me deixa te ajudar.
- Fica pra sempre comigo, você já ajuda muito, Bert. - Ele disse tocando minha bochecha, transformei a gota em um riso de canto.

ninguém quer dançar com vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora