Eu nunca me importei com o Jimin, nunca. Morávamos na mesma casa, tomávamos café juntos, "conversávamos", íamos para a mesma escola, mas eu nunca me importei com o que ele fazia, ou sentia. De verdade, eu acho que nunca me importei com ninguém. Até o ver chorando por minha causa. Algumas pessoas dizem que não sabem quando foi que começaram a se importar ou gostar de outra pessoa. Eu soube naquele instante que limpei as lágrimas dele. Em três segundos ele conseguiu se tornar uma pessoa que eu levaria para o resto da minha vida, ao meu lado ou nos meus sentimentos, se ele quisesse ou não.
Já disse antes que quero mostrar o mundo para ele, mas no momento eu queria o trancar nos meus braços e não deixá-lo sair mais nunca, o mundo iria machucar ele se eu o soltasse.
-Jiminie. -sussurrei e ele murmurou em resposta. -Não se sinta mal por isso, ok? Se tiver que acontecer alguma coisa, vai acontecer e não vai ser sua culpa, vai ser minha ou do mundo.
-M-Mas... eu não quero decepcionar. -fungou se afastando minimamente de mim.
-Você vai me decepcionar se ficar muito preocupado com isso. -acariciei seus cabelos e ele suspirou. -Não tem problema nenhum sentir alguma coisa por mim.
-Para o meu pai tem.
-Se você viver pensando nele, você não vai fazer nada na sua vida. E daí se ele acha errado? A vida é sua. -ele levantou o rosto me encarando muito próximo.
-Você não se importa com o que os outros pensam?
-Só você. E algumas pessoas que podem me dar emprego. -eu ri e ele retribuiu. -Está melhor?
-Estou.
-Quer voltar para lá ou... podemos ir nesse café aqui. -apontei para a parede de tijolinhos e ele parou pensando.
-Lá dentro está chato. -eu ri e o puxei pela mão até a porta do café.
Ele entrou lá como uma criança, de boca aberta e quase pulando de alegria. Ele lia as frases nas paredes e me sussurrava o nome do filme, e continuou fazendo isso até que sentamos perto da janela.
-Gostou? -perguntei rindo da reação dele.
-Muito. Eu assistia esses desenhos, nos sábados. -ele olhou mais e descobriu que nas mesas haviam miniaturas do Michelângelo das Tartarugas Ninja. -É o meu favorito! -disse apontando para o boneco que enfeitava o porta guardanapo.
-Você é uma criança de dez anos.
-Com prazer. -ele continuou mexendo no boneco, até a garçonete vir pegar nossos pedidos. Eu disse a ela oque queríamos, no caso eu sugeri para ele, e quando voltei a olhá-lo ele estava emburrado.
-O que foi?
-Machuquei o dedo. -ele mostrou o mindinho com uma linha de beliscão. -Eu prendi o dedo na mesa.
Eu tentei não rir, como alguém prende o dedo no espaço mínimo entre a mesa e borda metálica?
-Não ria de mim! -ele cruzou os braços e bufou. -Doeu.
-Ok. Ok. -eu segurei o riso e ele se esticou para me bater. Aquele dia estava tendo pontos altos e baixos, e seguindo a regra, depois do bom vinha o ruim, e foi nesse momento que o celular dele tocou.
Eu o assisti atender a ligação e parecer aflito, ele arregalou os olhos para mim e não parava de responder 'sim'. Quando desligou, ele se levantou e respirou fundo.
-Temos que ir.
-Por que? -eu já esperava oque ele disse em seguida.
-Meu pai sabe que saímos do Museu. Ele está nos esperando no carro.
-Ok. -fui no balcão cancelar o pedido e de qualquer jeito eu paguei. Voltei e Jimin parecia muito nervoso. -Ei, calma. Jimin, ele só vai reclamar, como sempre. Só falar. -eu segurei seus ombros e ele assentiu, mas torcia as mãos de nervoso.
-M-Mas...
-Foi minha culpa, certo? Você só veio comigo para não me deixar sozinho. Estávamos andando e eu fiquei com alergia a poeira das coisas lá. - Se aquilo fazia parte do meu plano? Não, mas iria me servir para mais um ponto na vida dele. Jimin arregalou os olhos e sussurrou.
-Quer que eu minta? Jungkook!
-Faz isso por mim? Eu odeio ouvir ele reclamando com você. Se quiser eu mesmo falo isso.
Ele suspirou e parou pensando, quando voltou a me olhar, ele riu de nervoso e passou as mãos no rosto.
-Só você para me fazer mentir. -eu sorri e o levei para fora do café.
Lá fora, avistamos longe o carro do Sr. Park. Ele nos esperava com os braços cruzados. Eu podia sentir o nervosismo de Jimin, queria poder segurar a mão dele, mas isso levaria mais uma hora de reclamação. Cruzamos a rua quase correndo e chegamos do outro lado, a medida que nos aproximávamos, o Carcereiro parecia mais raivoso.
-Antes de começar a reclamar. -eu disse. -Jimin não teve nada a ver com isso.
-Não? Então o que ele estava fazendo lá?! -perguntou, as narinas dilatadas, parecia um touro, se bem que um touro é mais bonito.
-Eu tive um ataque alérgico a poeira lá de dentro, o Jimin me ajudou saindo do Museu.
-Entrem no carro. -apontou com para a porta do carro. -Agora!
-Ok. -olhei para o lado e Jimin estava encarando o chão e nao demorou a entrar no carro. -Vai lá. -eu disse pondo uma mão nas costas dele. Jimin me olhou confuso. -Entra no carro. -ele foi, mas Ainda meio apreensivo sobre aquilo. -Eu quero conversar com você.
-Comigo? -riu o Sr. Park, então parou e me olhou como se fosse um coisa absurda. -Entre no carro.
-Você pode deixar ele assustado, mas você não é nada meu, então eu vou ignorar oque você diz. -me aproximei dois passos e ele fechou as mãos, se ele me batesse, seria um ponto para mim ou para ele? Para mim. -Pare de nos tratar como crianças, eu não sou criança e muito menos o Jimin. -eu havia dito o contrário mais cedo, mas ele não tinha ouvido. -Você atormenta a vida dele desse jeito e vai arruinar ele. Jimin é paranóico com você e isso é errado.
-Ele vive perfeitamente bem. -ele rosnou para mim. -Você não tem que se meter nisso! Quem você pensa que é?
-Creio que o único amigo dele! -eu queria bater nele, como eu me segurei naquele momento para não espanca-lo ali. Dizer que o meu Jiminie vivia bem com aquela coisa, era terrível. -Você não deixa ele respirar! Saímos do Museu para o outro lado, e você fica com raiva?! Ah, por favor, deixe de ser ridículo!
Eu não senti na hora, mas ele me deu um soco no rosto, e eu só realmente cai na real quando duas portas do carro abriram. De uma eu vi os saltos da minha mãe correr até o Carcereiro e sim eu estava no chão, da outra eu vi os sapatos de Jimin enquanto ele vinha até mim. Eu me sentei e ele se abaixou do meu lado.
-Jungkookie. -ele sussurrou segurando meu rosto para ver onde havia sido o soco. -Você não devia ter feito isso.
-Eu odeio ele. -sussurrei de volta, não importava se ele estava ouvindo ou não.
-Vamos para casa, acho que você já entendeu. -disse o Sr. Park, mas eu ri, mesmo o queixo dolorido e acho que eu mordi a boca na hora, com a pancada eu podia sentir o sangue.
-Sim, eu entendi. Você não consegue deixar de ser patético. -eu me levantei com ajuda de Jimin e o olhei, minha mãe ao seu lado, como se não pudesse fazer nada. Entrei no carro e esperei que eles entrassem também.
Não demorou muito. Enquanto ele cuspia veneno dentro do carro, eu pus meus fones e ignorei ele com um volume alto de Mamacita. Eu odiava ele. Infelizmente, isso não me impedia de estar quase apaixonado pelo Jimin.
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The Cure - Jikook
Hayran Kurgu"Devíamos amar quem quiséssemos, não é? Pessoas são pessoas." Jimin vivia sob ordens de um pai rigoroso. Jungkook era seu meio irmão, livre para fazer suas escolhas e forçado a aceitar aquele segundo casamento da sua mãe.