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Pode parecer estranho - ou incrível - mas quando terminei de ler a carta, eu estava calmo. Minhas mãos não tremiam, nem sentia vontade de chorar. E embora o frio, meu breve estremecimento não fora por causa do ar-condicionado. Eu simplesmente já esperava a proposta. Não sabia qual seria a intenção da conversa, mas sabia que ele iria querer me encontrar de novo.
  Eu estava calmo. Não significa que meus amigos estavam.
  Olhei ao redor e vi Taehyung abraçando Hoseok Hyung por trás, com os ombros tensos. Do lado deles, Yoongi Hyung estava lívido, com as mãos nos bolsos e encarando chão à sua frente. Minha mãe e Jungkook demonstravam a mesma calma triste, eles tinham sido mencionados na carta, nenhum dos dois poderia ir comigo. Era uma "missão" de um só. Uma conversa final, segundo ele.
Adeus.
  O que ele queria dizer? Iríamos conversar e ele iria embora, ou eu que iria? Se seu objetivo fosse me machucar, eu estava mais do que aliviado por Jungkook e minha mãe não poderem ir. Afinal, eles já haviam sido muito machucados, e tudo por minha causa. Minha máxima culpa.
  -Você... não vai sozinho, não é? -perguntou Taehyung, hesitante. -Quero dizer, você vai ficar sozinho com ele? Não completamente.
  Não respondi. Baixei a cabeça para a carta em minhas mãos. Quis amassa-la, mas aquilo era mais uma prova para acusá-lo eternamente. Em vez de me deixar formular uma resposta, Jungkook tomou a frente da pergunta:
  -Ele vai.
  Todos pareceram confusos com a afirmação. Mas eu entendi. Ele estava sentado na cadeira ainda, a perna engessada deveria estar coçando porque ele fazia uma careta de tempos em tempos e dava tapinhas no gesso. Agora ele parecia sério, o tipo de seriedade que eu via nele depois de toda a experiência traumática com o meu padrinho.
  Hoseok Hyung limpou a garganta.
  -O que quer dizer, Jungkook?
  -Ele quer dizer, -eu falei. -Que não importa oque digam, eu vou.
Abateu-se um silêncio na sala. Era possível sentir seus pensamentos sobre mim, julgando a decisão, imaginando quão louco eu já devia estar para aceitar aquilo.

   É, eu não estava louco. Estava apenas aterrorizado. Guardando todos os sentimentos e escondendo-os dentro de mim. Eles não precisavam ver, precisavam acreditar que eu estava bem apesar de tudo.

Me levantei e olhei para minha mãe.
-Vou descer para falar com a diretora do hospital. Se ele já solicitou que você estava liberada, essa hora já devem ter os documentos de confirmação. -dobrei a carta e a enfiei no bolso. -Alguém vai comigo?
Olhei esperançoso para eles. Yoongi levantou a mão. Jungkook até se ofereceria, mas andar tudo aquilo de novo seria tortura. Antes que eu saísse, ele me segurou pela mão, me puxou para perto e sussurrou no meu ouvido, tão baixo que nem naquele quarto silencioso eles o ouviriam.
-Nem pense que não vamos conversar.
Apenas balancei a cabeça e segui Yoongi para fora do quarto. Quando a porta de fechou atrás de mim, respirei fundo e passei as mãos nos cabelos.
Alguns passos à frente, Yoongi riu.
-É, Jimin, nem tudo a gente pode aguentar sozinho.
O olhei e ele também parecia triste.
-Eu consigo. Não vou deixar eles se arriscarem por mim.
Ele deu de ombros, como se dissesse: faça como queira.
-Ele não está em condições de ir comigo. -continuei. -Ela muito menos. Não vou deixar vocês irem. -eu falei baixo, andando para perto dele, alguns metros longe da porta. -Eu não estou em condições de ver nenhum de vocês machucados.
-Eu entendo. -ele pôs as mãos nos meus ombros. -Mas isso é suicídio, ir sozinho.
-Eu não consigo... -meus olhos ardiam, fechei-os por um instante. -Eu não posso deixar isso acontecer.
-Você diz que não está em condições de ver ninguém machucado. Jungkook também não está em condições de te perder. -ele disse, ríspido como um professor ao descobrir um aluno bebendo atrás da escola. -Hoseok? Ele é o seu melhor amigo.
-Você está me fazendo sentir pior! -minha voz elevou um pouco, mas trarei de me acalmar. -Por que?
-Para você perceber que não está sozinho. Se sentir pior significa que você sabe que tem gente esperando por você aqui. Então trate de olhar para mim e dizer o que você vai fazer, porque eu não vou deixar eles se sentirem mal.
Arregalei os olhos. Ele estava me pedindo um plano, caso as coisas se descontrolassem. Respirei fundo e soltei devagar. Era loucura, mas era tudo que eu tinha.
-Certo. Eu vou sozinho...
-Não foi oque eu quis dizer. -ele interrompeu, tirando as mãos de mim.
-Calma, me deixa explicar. Então...-olhei para trás, apenas para conferir a porta. -Eu tenho um conhecido, o nome dele é Luke...

The Cure - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora