-X- Jimin -X-
Seus dedos estão na minha cintura, sinto o queixo dele no meu ombro, o som da sua respiração, a conversa banal dos outros quatro que também assistiam a movimentação da rua apoiados no parapeito, assim como eu e ele. Apesar da quentura da tarde e da calma que ficar ali me trazia, meu coração ainda dava solavancos ao lembrar que não podíamos demorar muito. Meu corpo estremecia lembrando do rosto do meu pai. Eu estava indo contra todos os seus princípios, isso me apavorava. Se ele explodia com minimas coisas, como aconteceu naquele dia, imagina com algo dessa grandeza. Estou tendo alguma coisa com o garoto que mora na casa dele, e fato, ele é um garoto; estou no topo de um prédio com pessoas que ele viu uma vez na vida e que eu sei que já os qualificava como pessoas de quem eu deveria ficar longe; não estudei hoje à tarde; menti sobre o dentista que demoraria por ter muita gente. O que Jeon Jungkook não conseguia me influenciar a fazer? Eu não sou alguém influenciável, mas eu sou alguém apaixonado e para vê-lo sorrindo, eu até dançaria na frente de todos da forma mais esquisita possível.
Me aperto mais contra os seus braços, como se pudesse me cobrir todo com o seu corpo. Ele chega bem perto da minha orelha, sinto seus lábios tocarem o lóbulo dela. Arrepio.
-Quando quiser ir, é só avisar. -sussurra e eu afirmo com a cabeça.Os outros quatro ainda estão falando animadamente do show, daqui a alguns dias. Show que aliás, eu vou ter que ir, e mais uma vez desobedecer meu pai. Como eu vou conseguir esconder dele que eu sai? Não sei. Só vou rezar mesmo para que quando eu o diga boa noite, ele acredite e não vá verificar se estou mesmo dormindo. Que desastre seria se ele me encontrasse fugindo pela janela com o Jungkook, não sei quem de nós iria ser mais responsabilizado. Eu não o deixaria tocar no Jungkook, claro que não, ele nem deveria se atrever a isso. Eu já sou acostumado com essa "ditadura", desde sempre e como disse, por mínimos detalhes. Jungkook é a melhor coisa na minha vida atualmente, meu único meio de escapar dessa pressão, ele abre a portinha da gaiola para eu poder voar, infelizmente eu sempre volto para ela, e ele, mesmo a contragosto, a tranca de novo.
Olho os prédios do outro lado, coloridos como pecinhas de lego gigantes. Penso em como deve ser a vida das pessoas naqueles apartamentos, queria poder saber, oque elas fazem, se vivem sozinhas ou se sentem sozinhas, se estão presas. Se querem fugir... como eu. Coloco as mãos sobre as dele, sinto seus dedos, maiores que os meus, mas incontestavelmente o encaixe das minhas mãos. Me lembro de quando eu o levei para dormir na minha cama, quando ele me fez quebrar duas das regras pela primeira vez, de ficar acordado até tarde e deitar com um homem. Quando acordei sentindo-o atrás de mim e fiquei nervoso porque eu me senti bem daquela forma, e porque ele havia me perguntado de verdade se eu me sentia mal sobre o meu pai, como ninguém havia feito ainda.
Não o amo por causa de uma situação, como nos filmes, ele me tirou do meu mundinho e me fez ver as coisas, como ele dizia, igual a Jasmine do Aladim. Não estamos em um filme, e tudo pode dar errado, eu posso ir para uma universidade longe quando acabarmos o colégio, podemos nos afastar com o tempo, talvez um dia ele perceba que não vale a pena lutar por mim. Milhões de coisas podem dar errado. Acho difícil, mas não é impossível, que nos apaixonemos por outras pessoas, é normal isso acontecer. Namorar não é casar, não estamos em um compromisso, aliás nem namoramos ainda e se fazemos é sem sentir. O mundo gira, o tempo passa, pessoas mudam, mas é inegável que ele sempre vai estar guardadinho comigo. Mesmo que ele encontre alguém melhor assim que sairmos daqui.
Respiro fundo e olho o relógio no pulso do Namjoon Hyung que está ao meu lado esquerdo, já estava na hora de irmos. Com delicadeza, me desfaço do abraço do Jungkook e fico apenas segurando sua mão, ele me olha com as sobrancelhas erguidas, já sabendo oque estou fazendo. Afirmo e ele me puxa mais para o seu lado, enquanto se vira para os outros.
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The Cure - Jikook
Fanfiction"Devíamos amar quem quiséssemos, não é? Pessoas são pessoas." Jimin vivia sob ordens de um pai rigoroso. Jungkook era seu meio irmão, livre para fazer suas escolhas e forçado a aceitar aquele segundo casamento da sua mãe.