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-Jimin-

  Naquela segunda eu senti que poderia me parabenizar, pela primeira vez desde o término, eu não havia dormido chorando. Eu me sentia fraco, era verdade, sempre que eu caminhava pelo corredor da escola nova, toda vez que eu procurava seu rosto entre os alunos da sala, mas ele não estava lá. Nem Taehyung, meu bobão favorito, ou nenhum dos hyungs, Yoongi com o seu amor recluso ao Tae, Namjoon quebrando as coisas e sendo protetor, ou Jin com o seu humor único e a competição de Candy Crush. Aqueles pensamentos me perturbavam à noite, eles chegavam sorrateiros e do nada me faziam perguntas que me abalavam. No espelho, essas perguntas estavam levando meu peso, meu rosto estava magro. Eu não estava comendo o suficiente, porque a ideia de comer na mesma mesa que o Jungkook e o meu pai era perturbadora. Ver o rosto dele triste por sentir a minha presença, e a ameaça constante do meu pai sentado na cadeira ao lado. Eu estava fraco por dentro e por fora, sentia a cada dia meu corpo mudando, como se eu estivesse encolhendo até eu ficar do tamanho do meu coração, pequenininho e apertado. Eu não era mais o Jimin sorridente, que estava animado para a próxima aventura que o namorado insistente iria levá-lo. Agora, eu era o Jimin solitário, com um ex-namorado de coração quebrado e sem esperança. Meu ânimo estava tão baixo que eu nem me lembrava do show do aniversário do Taehyung, só me lembrei, quando naquela segunda, um grupo de garotas passou ao meu lado gritando "J-Hope" assim como Taehyung fazia. O mesmo que me serviu para lembrar do aniversário dele, me fez definhar em nostalgia. Talvez eu tenha me dado os parabéns muito cedo. Os corredores estavam vazios demais para o meu gosto, e eu estava andando sozinho numa manhã de aula, onde os alunos deveriam está caminhando pelo corredor. Aquilo foi perfeito, a gota d'água, o sentimento de culpa se misturou a solidão que eu já sentia, e o vazio do corredor complementou essa solidão. Então antes que eu pudesse aguentar, corri para o banheiro mais próximo a direita, ele me pareceu vazio, eu fechei a porta e parei diante do espelho retangular que cobria um quarto da parede sobre a pia. Foi onde vi meu rosto, e as olheiras, e os olhos opacos, os cabelos frágeis demais, o rosto com a pele esticada. Eu estava com a mesma aparência de anos atrás, quando a ideia da banheira foi aceita. Meus dedos apertaram o mármore da pia, a bolsa pendeu pelo meu ombro e caiu no chão, meus braços tremeram de força e então eu cai no chão com as pernas bambas. As lágrimas esquentaram meu rosto e logo eu estava em prantos, no chão do banheiro, abraçado as minhas pernas, soluçando mais do que nunca. Os soluços vieram com a falta de ar, e foi então que uma das portas do banheiro se abriu, eu não me importei, continuei olhando para o chão, sentindo as lágrimas arderem meus olhos e nariz.
-Por que você está chorando? -perguntou uma voz gentil, muito diferente de como alguém comum daquela escola faria. Levantei o rosto e vi ele abrir um sorriso iluminado para mim, vestia-se muito diferente de um aluno. Com uma camisa de botões um pouco transparente e calças coladas. -Você está bem? -perguntou se abaixando para me ver de perto.
-Não foi nada. -digo limpando as lágrimas, mas mesmo assim eu não consegui parar de chorar.
-Você está chorando muito, está me deixando preocupado. -ele se abaixou do meu lado e eu não tinha a menor ideia de quem ele era naquele instante. -Eu... te conheço.
  Esfreguei os olhos e me virei para ele, o cabelo laranja, o sorriso, esse sim era conhecido. Eu sabia daquele sorriso de algum lugar, foi então que eu cai na real. Era o Hoseok, da escola primária. Ele havia sido meu melhor amigo por um ano antes de ser transferido para alguma escola que eu não me lembro. Ele abriu um sorriso maior ainda quando me encarou e eu vi seus olhinhos brilhando.
-Jimin. -disse baixinho, logo me puxando para um abraço, mesmo ali, no chão do banheiro. -Faz muito tempo. -disse animado ainda me apertando.
Minha mente estava muito lenta para processar o abraço naquele momento, e o reencontro também. Eu deveria estar mais animado por ter o encontrado depois de tantos anos, mas eu estava muito mal e o abraço me fez querer chorar mais. E foi oque fiz, com o rosto no ombro dele, chorei novamente enquanto ele ainda me apoiava sem reclamar.
-Ei, oque aconteceu? -perguntou com gentileza, acariciando meus cabelos como uma mãe faria. Que eu me lembre dele, ele sempre fora muito protetor comigo, chegando ao ponto de se meter em briga por minha causa. -Agora está me preocupando mais ainda.
-Eu sinto muita falta dele. -solucei no seu ombro e puxei o ar com dificuldade. -E-Ele chorou por minha causa, eu sou um péssimo namorado.
-Ah, você brigou com o seu... namorado? -perguntou surpreso.
Me afastei dele com o choro mais controlado, ainda sentindo a pedra fria do chão resfriar minhas pernas. Ele se sentou da mesma forma na minha frente, esticou a mão e limpou umas lágrimas do meu rosto.
-É bom te ver, Hobi Hyung. -eu disse tentando um meio sorriso. -Desculpa te fazer me ver assim.
-Quer me contar oque esta acontecendo? Ainda tenho muitos minutos.
Eu não me aguentei, senti que eu devia confiar nele, mesmo depois de tantos anos longe. Hobi Hyung parecia ser confiável, então fiz um resumo para ele de tudo que estava acontecendo. Falei do JungKook, os meninos, o meu pai, desabafei com ele como eu nunca fiz antes. E ele não se incomodou nenhum momento, ao contrário, ele prestou atenção e se aproximava de mim cada vez que percebia que eu estava prestar a desmoronar de novo. Sem percebermos, estávamos encostados na parede lado a lado. Eu desabafei tudo que eu estava carregando no peito e ele ouviu, e ouviu, e por fim segurou a minha mão.
  -Eu não esperava te ver assim, Jiminie. -disse Hobi Hyung, sem o sorriso radiante, mas ele continuava a ser uma presença grande perto de mim. -Eu sempre me perguntei se você tinha conseguido se misturar depois que eu saí, me preocupei muito, mas... eu não pude ficar mesmo.
  -O que você está fazendo aqui?
  -Vim me apresentar e fazer um comunicado que a escola me pediu para fazer. -disse com simplicidade, eu poderia ter o reconhecido ainda mais naquele momento. Mas eu estava confuso e triste, como poderia o associar ao pôster? -Eu deixei de ser só Hoseok faz um tempo, é estranho ouvir me chamando assim.
  -Hobi Hyung. -repeti rindo. -Hyung, eu senti a sua falta.
  Ele me puxou de lado e me acomodou num abraço novamente, não importava se eu estava perdendo aula, eu havia reencontrado o Hobi, meu único amigo durante muito tempo e oque foi tirado de mim. Por sorte ele não havia mudado, nem tinha esquecido nossa amizade, ela continuava como se nunca tivéssemos nos afastados.
  -Esse JungKook só te fez chorar, não gostei dele.
  -Ele não só me fez chorar. -eu ri. -Eu amo ele.
  -Ah, Jimin-ah, então vou ter que me meter numa briga de novo por sua causa? -ele me afastou pelos ombros e riu ao passar os polegares nas minhas bochechas. -Vamos, eu vou tentar te fazer se sentir melhor.
   -Como? -perguntei.
  Ele se levantou e me esticou uma mão, a aceitei e ele me ergueu. Peguei a mochila no chão e a coloquei nas costas novamente. Agora o espelho refletia um rosto cansado e inchado de choro, também refletia o Hobi Hyung, que parecia elegante demais.
  -Jimin, primeiro eu vou te levar em casa, depois eu vou combinar umas coisas por aí e então te ligo. -disse me virando pelos ombros e me empurrando pela porta à fora.
  Ainda estava vazio lá fora, só nós dois no corredor, a mão dele no meu ombro me fez me sentir melhor, não tanto, mas tirou um pouco da solidão. Caminhamos pelos corredores, cada um mais vazio que o outro, mas um barulho ainda era ouvido, como varias vozes repetindo a mesma coisa. Quanto mais nos aproximávamos mais eu conseguia ouvi-las, e a poucos passos do refeitório eu pude entender oque elas gritavam.
  -J-Hope? -perguntei confuso, tentando lembrar de onde eu conhecia esse nome. 
  -É, é um bom nome não é? Fiquei em dúvida por um tempo.
  -Espera. -eu disse o segurando pela manga da camisa, ele parou e franziu a testa. -Você é o J-Hope?
  -Sou.
  Eu não podia ter outra reação se não começar a rir desesperadamente. Pois isso significava que o cara por quem o Taehyung havia gritado tanto no meu pé do ouvido, era o meu melhor amigo, e eu tinha o melhor presente do mundo para ele.
  -Me faz um favor?

The Cure - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora