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Eu meio que esperava acordar e ver o teto branco da sala de casa. Também pensava que iria ver o teto da ambulância. Ou como nos filmes, esperava ver as luzes brancas do hospital passando rápido pelos meus olhos. Mas nada disso aconteceu.
Acordei atordoado de dor, ouvindo um zumbido alto, como se minha corrente sanguínea rugisse nos meus ouvidos. Meu peito queimava, mas me contive antes de abrir os olhos. Por sob as pálpebras, eu via uma luz branca, e ouvia ruídos de aplausos de uma tv. Pelo menos isso indicava que eu não estava mais na casa. Fiquei quieto a princípio, depois comecei a fazer testes. Mexi os dedos do pé, todos funcionando. Depois os das mãos, tão bons quanto. E me arrisquei a tomar uma respiração profunda.
  Foi a pior decisão.
  Senti meus pulmões queimando tanto que os olhos lacrimejaram. Abri os olhos de repente, arquejando de tanta dor. Vi o quartinho de hospital que eu estava, e a tv barulhenta. Um rosto apareceu no meu campo de visão, mas eu não consegui reconhecer imediatamente, os olhos ainda estavam embaçados.
  Dedos frios agarraram meu pulso, enquanto a outra mão esfregava meu braço para que eu me acalmasse.
  -Calma, querido. -ouvi a voz da minha mãe dizer. -Respire devagar e vai passar.
  Fiz oque ela mandou. Comecei a respirar com mais calma, e a medida que o sopro ficava mais fraco, a dor diminuía. Não por completo, isso era impossível, mas melhorava.
  Abri os olhos devagar, olhando seu rosto avermelhado. Reconheci quase imediatamente que ela estava chorando, eu ficava com o mesmo aspecto quando o fazia. Mamãe estivera chorando. Ela estava usando uma camiseta com um pônei feliz na frente e jeans. O cabelo estava preso para trás e eu via o rabo de cavalo balançando. Olhei para sua camisa e esbocei um sorriso.
  Mamãe baixou o olhar e viu do que eu achava graça.
  -Foi seu amigo quem comprou. Hoseok.
  O nome ativou uma enchente de memórias. Agarrei seu braço com firmeza, mas a garganta ainda estava muito seca para que eu conseguisse falar. Fui dominado pelo pânico e pela dor novamente.
  -YoonGi. -consegui sussurrar entre a secura.
  Ela entendeu, mas antes de me responder, correu para a garrafa de água e me trouxe um copo. A água escorreu pelo meu queixo quando tentei engolir tudo o mais rápido possível.
  -Ele está bem. -ela respondeu. -Chorou muito. Ele foi o primeiro dos seus amigos a te ver... bem, em más condições. Chegou junto com a polícia.
  Foi então que notei algo estranho em mim, e não era só a garganta seca, era a dor de antes. Percebi que sentia uma pressão no peito, e quando toquei por cima da roupa hospitalar, senti ataduras e gaze endurecida. Olhei para minha mãe pedindo explicação.
  -Você foi baleado. -ela disse, e baixou o rosto. -ChungHo o atingiu quando ouviu a polícia chegando.
  Franzi a testa. Não era para a polícia tocar o sinal. Devia ter sido um erro. Deitei a cabeça de novo no travesseiro. Sentia a cabeça girando.
  -E quanto a... ChungHo? -perguntei com medo da resposta dela. Eu lembrava de tê-lo visto apontando a arma para o próprio queixo. -Está morto?
  -Mais vivo não há. -disse mamãe.
  Arregalei os olhos.
  Ele ainda estava vivo.
  Dentro de mim uma esperança se acendeu. Eu senti que queria chorar, mas o machucado não me deixava respirar com mais força, então segurei as lágrimas.
  Olhei ao redor do quarto me certificando se estávamos sozinhos, e infelizmente estávamos. Eu não queria que ela se sentisse insuficiente, mas eu precisava de mais alguém. Eu esperava que ela entendesse.
  -E o Jungkook? -perguntei. -Cadê ele?
  -Foi comprar um café. -ela disse, com um sorriso. -Imagino como vai ficar quando te ver acordado. Ele ainda está mancando, mas se nega a deixar que alguém faça qualquer coisa por ele. Chegou aqui aos prantos, dizendo que você devia ter deixado ele ir.
  Eu ri em meio a dor e balancei a cabeça, surpreso com como meu namorado podia quebrar fácil, por mais que ele negasse.
  Assim que mamãe parou de falar, a porta abriu. Jungkook entrou, mas parecia tão cansado que não notou que eu estava acordado.
  -O café pela manhã é melhor. -resmungou ele, tomando um longo gole de café. -A essa hora é sem graça.
  Ele vestia um sobretudo preto, sobre uma camisa azul clara e jeans. Parecia quentinho, comparado aquele quarto gelado. Eu queria ele comigo.
  -Yaegiya, não tome se não quiser. -pedi, com a melhor intonação que consegui.
  -Ah, não, está tudo bem... -sua voz sumiu, então se voltou para mim de olhos arregalados. Deixou o copo de isopor na mesinha perto do sofá. Seus olhos encheram de lágrimas quando me viu e ele chegou perto da cama hesitante.  -Oi, bebê.
  -Oi, achou que ia se livrar de mim fácil, Jeon? -perguntei para brincar com ele, mas comecei a tossir no momento seguinte.
  -Não não não. -ele balançou as mãos, pousando uma no meu cabelo e outra sobre a minha barriga. -Sem esforço. O médico disse que você tem que ficar caladinho.
  Balancei a cabeça e fiz um último esforço em pegar sua mão e entrelaçar os dedos sobre a minha barriga. Mamãe sentou-se no sofazinho e respirou aliviada, percebi que não estava mais tão tensa.
  -Quantos dias? -perguntei com a voz baixa.
  Jungkook contou nos dedos.
  -Uma semana.
  Arregalei os olhos e pisquei rápido, confuso.
  -Uma semana...
  -Você levou um tiro, seu idiota. -ele reclamou. -Podia ter morrido.
  -Você também levou um.
  -Então você é um invejoso. -ele disse. Jungkook sorriu e beijou o dorso da minha mão. -Você vai ficar bom logo. Temos que continuar a escola. Com ele preso, você vai poder ter uma vida normal. Isso significa que, -ele sentou na borda da cama e acariciou meus dedos. -Vamos sair com os meninos. Vamos nos shows do Hobi, no camarote. Você vai poder me ajudar com química.
Eu ri, mas meus olhos estavam cheios de lágrimas. A menção de que ele estava preso tinha sido o suficiente. Eu estava aliviado, quebrado, mas eu sentia que podia pular e abraçar o Jungkook até que eu sumisse dentro dele. ChungHo estava longe de mim e da minha família. Tinha quilômetros de distância entre nós, e o mais importante... grades.

The Cure - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora