The Cure - Jikook

57

  -Pois bem, que fique com raiva de mim como queira. -resmunguei ao entrar no quarto e fechar a porta.
  Jungkook tinha ido na frente, já estava no meio do quarto, me ignorando a quase vinte minutos. Era compreensível ele estar com raiva, mas era o melhor para ele. Eu não o tinha incluído no plano, e isso devia soar como uma traição.
  Parado no meio do quarto, ele se voltou para mim. O rosto estava lívido de qualquer cor, e então eu entendi que estávamos entrando numa zona diferente a todas que já estivemos antes. Já tínhamos brigado, mas foi um término forçado, agora estávamos prestes a brigar por um motivo criado por nós mesmos.
  Era novo, assustador.
  -Fale comigo. -pedi, quase implorando. -Como posso tentar resolver se você não me responder. Ao menos reclame.
  -Eu acho que não preciso reclamar quando é algo tão óbvio. -ele disse, seco. -Por favor, Jimin. Eu estou cansado de hoje.
  Eu estava ficando desesperado. Não dormiria se brigasse com ele e deixasse por isso. Corri até ele e me postei frente a frente. Jungkook era mais alto alguns centímetros, muito bonito e tinha o cheiro que eu amava. Era difícil continuar uma briga assim.
  -Você vai me responder. -eu disse, tentando soar o mais autoritário possível. -Estamos namorando a pouco tempo, e eu não vou deixar você dormir remoendo raiva de mim. Se quiser brigar comigo, estou disposto agora.
  Ele analisou meu rosto, por um instante achei mais que queria me beijar do que brigar, mas então ele fechou a cara de novo. Jungkook deu uma risada raivosa e pousou às mãos nos meus ombros.
  -Eu não quero brigar. Só estou chateado que você tenha me deixado de fora disso.
  -Há. Eu sabia!
  Ele respirou fundo.
  -Por que fez isso? Sabe que eu vou ficar aqui morrendo de preocupação.
  Me forcei a baixar a cabeça, ou não conseguiria terminar de falar se continuasse olhando seus olhos.
  -É uma coisa minha e dele. Você ficou entre nós da última vez e quase morreu. Não vou deixar isso acontecer de novo. -respondi, baixo, como se as outras pessoas pudessem ouvir além das paredes. -Você não me deixaria ir se fosse você no meu lugar.
  Ele ficou em silêncio, talvez eu tenha falado a coisa certa.
  -Você vai levar o YoonGi. Eu... fiquei com ciúme. -disse meio tímido. -É idiotice. Desnecessário. Mas eu não posso mudar oque eu senti.
  Ergui o rosto e ele já não parecia mais com raiva, estava... triste.
-Eu vou ficar aqui, sem fazer nada, esperando uma notícia sua, se está bem ou não. E se for um ou não? O que eu vou fazer estando a quilômetros de distância?
Era uma pergunta válida, e difícil de responder. Não tinha oque dizer, oque ele faria? Nada.
Me sentei na cama e respirei fundo.
-Não tenho como te responder. -dei de ombros. -É egoísmo pensar só no que vai me fazer bem, saber que você está seguro aqui. -suspirei. -Mas eu te prometi um dia que eu nunca deixaria ele encostar em você... errei miseravelmente.
  Quando ergui o olhar, Jungkook estava com a testa franzida, como se estivesse tentando lembrar de quando eu tinha prometido isso. As mãos nos quadris. De frente para as portas transparentes, Jungkook parecia muito diferente de quando eu o conheci. Antes, ele tinha os ombros mais relaxados, e não parecia alerta a todo o momento. Por minha culpa, ele não estava assim agora.
  -Eu... realmente não me lembro. -conclui. -Você não precisa me prometer isso, Jimin.
  Quando nossos olhos se encontram, uma resposta velada passa entre nós, e já não precisamos dizer mais nada.
Não é sua escolha. Eu digo pelos meus olhos.
Eu sei. Ele responde.
  Em silêncio, vou tomar banho para dá-lo um tempo sozinho. Pego minha toalha e vou para o banheiro, com o peito apertado e segurando o choro numa bolinha de gude na garganta.
  Quando volto a sair, já recuperado, cheirando a sabonete de limão e com roupas limpas, o encontro deitado na cama de barriga para cima. Os olhos encarando o teto como se estivesse em frente a um quadro cheios de conta de matemática. Ainda sem falar nada, me deito ao seu lado e deito a cabeça no peito dele.
  -Você está bem? -pergunto baixinho.
  Ele pisca devagar e respira fundo.
  -Estou. -ele volta o rosto para mim e beija minha testa. -Estou.
  Foi o suficiente, já não estávamos mais brigados. Ele levantou e foi tomar banho, a perna imobilizada não o ajudava em nada, ouvi ele colocando o plástico ao redor dela no banheiro. Enquanto isso, me agarrei a um travesseiro e respirei o cheiro dele. Odiava aquela situação toda. A única coisa que havia me feito bem fora a volta da minha mãe, e naquela hora ela devia estar se divertindo com o notebook que eu a emprestara. Ela precisava se atualizar do mundo, e quando sugeri que poderia dormir ali com ela para lhe contar tudo, ela disse que estava muito ansiosa para termos nosso momento, só que ela também percebera Jungkook e me disse que eu deveria cuidar disso primeiro. Mamãe era incrível.
  Dez minutos depois, Jungkook saiu do banheiro coxeando, vestido com uma camiseta preta e calças de moletom - a perna direita da calça dobrada até o joelho.
  -Não fique com essa cara. -ele disse risonho. -Parece que tivemos uma briga de quebrar os móveis e agora você está com medo de falar comigo.
  Eu rio, é exatamente essa sensação.
  -Não está mais bravo comigo? -pergunto, mesmo sabendo que aquilo não daria em nada.
  -Bem... -ele meneia a cabeça, enquanto deita ao meu lado. -Assim, não estar mais bravo definitivamente... não. Eu ainda estou com um pouquinho de raiva, mas acho que se você me prometer voltar para casa, eu posso ficar bem.
  Me aninhei perto dele e ri.
  -Sou péssimo com promessas.
  -Mas essa você não vai quebrar. -ele disse.
  -Normalmente as pessoas quebram minhas promessas por mim.
Ele assentiu devagar, me puxou mais para perto e me abraçou forte, como se quisesse tirar toda a preocupação dele com aquele abraço, e eu devolvi, sentindo que podia explodir e viver como mil estrelinhas flutuando por aí, misturada as dele. Em pensamento o prometi mais uma coisa:
Nem que os tempos se tornem ruins o suficiente para nós dois, não tem nada que vá me fazer mudar oque eu sinto por você. E oque importa, é que eu juro, eu te amo.