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Não fizemos nada de inteligente, nem elegante. Simplesmente pulamos cada um para um lado quando ouvimos o ranger da porta.
Eu devia ter pensado em trancar a porta, ao menos teria me dado tempo de me esconder, mas já não tínhamos mais tempo. Virei a cabeça de lado, e o vi parado bem ali, a poucos metros de mim. Bufando como um touro, quase era possível ouvir o rangido dos seus dentes. Meu pai me encarava com uma expressão irada. Dei um passo para trás, agarrando os dedos nas flores de Lis do gradil. Jungkook, diferente de mim, não parecia abalado, deu um passo à frente, com as mãos largadas ao lado do corpo e um sorriso brincalhão e perigoso.
-Boa noite. -disse Jungkook. Me perguntei qual era o grau de loucura que ele estava atingindo no momento, certamente eu era a pessoa mais sã naquele quarto. -O que o senhor está fazendo aqui?
Meus dedos agarraram ainda mais o ferro, como se em algum momento aquilo me fosse útil. Era inútil, eu sabia, mas eu precisava me manter firme, as pernas queriam virar gelatina. Respirei bem fundo e o encarei, ele olhava de mim para Jungkook, e então para mim novamente.
  -Você... -foi uma única palavra, tremida e espremida entre os dentes, mas que me tirou todo o fôlego.
  -Você nada. -Jungkook disse com insolência. Deu mais um passo e apontou para ele. -Ele vai ficar aqui, você não manda nele.
  Um frio subiu minha espinha. Eu me tremia inteiro. Tomei coragem de dar uns passos e segurei o braço de Jungkook, apesar de todo modo inconveniente como estava agindo, ele estava com os braços rígidos como uma pedra.
  -Calem a boca! -meu pai gritou. -Jimin, venha aqui agora ou eu vou aí buscar você!
  Me peguei em duvida. Jungkook não me deixaria ir sem ele, e o meu pai simplesmente não me deixaria ficar. Olhei para Jungkook e ele tinha os olhos queimando de raiva igualmente. Eu sabia que aquele dia chegaria, mas não sabia que seria ali, quando as possibilidades estavam voando em frente ao meu rosto. Meu pai tremia tanto de raiva que as mãos pareciam peixes fora d'água.
  Dei um passo à frente e Jungkook agarrou meu pulso para me fazer ficar.
  -Vai ser pior se você insistir em ficar. - Meu pai rosnou.
  -Jungkook, fica aqui, por favor. -pedi em desespero. Me virando bruscamente para ele e com a outra mão tentando segurar o pulso dele.
  Jungkook riu cinicamente.
  -Esse idiota já te espancou numa vez que te deixei ir embora, oque acha que vai acontecer agora?
  -Eu sabia. -Meu pai rosnou, mas parecia para si mesmo. -Era óbvio, não me surpreendi por você não estar no seu quarto. -ele riu. -Qual é a sua brilhante ideia, Jimin? -ele entrou no quarto, chegando mais perto a medida que falava. -Vai namorar com ele, hum? E depois? Vão fugir?
Tudo parecia uma grande brincadeira para ele, mas eu entendia as palavras por trás das insinuações. Estava me provocando em relação ao meu futuro. Jungkook tentou andar, mas eu o empurrei para trás e fiquei na sua frente. Um instante depois eu estava cara a cara com o meu pai.
-E se eu pretender tudo isso? -Por incrível que pareça, minha voz saiu firme. -Vai me bater outra vez? Qual a sua brilhante ideia?
Ele se empertigou e olhou fundo nos meus olhos. E em reflexo, eu pude ver os seus, naquela escuridão do quarto de Jungkook, estávamos próximos da varanda e o poste nos iluminava de luz amarela. Os olhos dele eram esferas escuras e sem brilho, como veludo preto fosco, fazendo companhia aos lábios apertados e o nariz bufante.
Dizem que quando estamos em pânico a primeira coisa que fazemos é olhar para oque queremos proteger. Naquele instante eu não podia olhar para trás, mas eu podia sentir Jungkook se movimentando, podia imaginar a inquietação do coração dele.
Eu ainda estava planejando como deixa-lo fora disso quando o meu pai esticou o braço e agarrou meus cabelos, me levando ao chão em poucos segundos. Minha vista turvou, eu não soube oque estava acontecendo até minha cabeça bater no chão. Ouvi gritos, a maioria da voz do Jungkook, mas eu estava atordoado demais para saber oque estava acontecendo, como se minhas forças tivessem saído com a pancada. Alguma coisa quente tocava minha bochecha, fluía lentamente até a minha boca, minha vista estava pontilhada. Foi quando tudo escureceu.

***

  -Jimin!
  Alguém gritava no meu ouvido, estava distante e ao mesmo tempo perto. Abri os olhos devagar, tudo parecia lento e baixo, eu via botas paradas perto de mim.
  -Jimin! -a voz gritou de novo, mas se distanciava.
  Meus braços estavam dormentes, minhas pernas negavam meus comandos. Eu estava inerte no chão, sentindo o gosto de metal nos lábios, a cabeça latejando e zumbindo.

The Cure - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora