A porta dele estava ali a dois passos de distância de mim. Era só me esticar que eu tocaria a maçaneta. Mas lá estava eu; com medo, parado no meio do corredor como um fantasma à porta do amante, um vulto de pijama de Ursinho Pooh e pés descalços. Olhei para os dois lados do corredor, a minha esquerda estava o fim do corredor, meu quarto logo ao lado do dele, e a minha direita descia a escada para o patamar onde vinha a única luz provida da janela basculante. Estar ali era aterrorizante, pouca luz e silêncio eram coisas essenciais para um filme de terror, um personagem assustado e um vilão horroroso. Se bem que nos últimos tempos os vilões eram bem atraentes.
Dei um passo, inseguro, agarrei a maçaneta sentindo o metal gelado. Meu nervosismo era tanto que eu ouvia meu coração nos ouvidos. Repensei antes de virar a maçaneta, eu podia ir para o meu quarto e vê-lo amanhã, ou eu podia entrar no quarto e procurar a carta enquanto o abraçava.
Fechei os olhos e respirei fundo. Eu girei a maçaneta, mas meu esforço foi nulo, antes que eu pudesse abrir a porta já estava sendo aberta por dentro. Soltei a maçaneta com um susto e recuei para a parede do outro lado. A porta deslizou nas dobradiças, revelando um quarto escuro. Jungkook estava parado no vão da porta, com as pernas nuas, coberto por uma camisa e a cueca.
Ele passou as mãos nos cabelos, com um olho fechado, como se tentasse me ver melhor daquele jeito. Pelo amassado no rosto eu concluí que ele tinha acabado de acordar. Ele parou com a mão ainda nos cabelos, relaxou os ombros e riu.
-O que está fazendo aqui, Jimin?
Sua voz me fez estremecer. Ele estava calmo, não trazia nada nas mãos e me olhava com carinho ainda. Ponto para mim, ele ainda não tinha encontrado.
-Vem cá. -ele abriu os braços. -Ou vai ficar parado aí para sempre?
Fui quase correndo para seus braços, o envolvi pela cintura e estiquei o corpo para deixar meu rosto no pescoço dele. Ficamos em tempo record ali na porta, enlaçados e negando nos soltar.
-Sentiu minha falta hoje, ou Taehyung foi suficiente? -ele perguntou.
-Sempre estou sentindo sua falta.
Ouvi ele rir baixinho, enquanto me afastava e puxava para dentro do quarto. A porta estalou ao se fechar. Eu entrei no quarto escuro, eu conseguia diferenciar a silhueta da cama, o armário, as portas para a varanda que estava mais clara por conta dos postes da rua. Sem dúvida era algo excitante estar ali, onde não conseguiam nos ouvir, e melhor, juntos.
-Eu estava com medo de entrar. -admiti. -Pensei que estivesse dormindo.
Ele balançou a cabeça, estava parado na minha frente, mas eu não conseguia ver o seu rosto.
-Eu tive um sonho perturbado. Você veio me salvar.
Mesmo sem o ver, eu enxerguei a sombra das suas bochechas se erguendo e supus que ele estivesse sorrindo. Na escuridão, toquei seus braços e fui o empurrando até a cama. Quando a parte de trás dos seus joelhos tocou na cama, ele caiu, me puxando junto pelos cotovelos. Caí desajeitado sobre ele, com todo o corpo pressionado contra o dele, oque não pareceu incomoda-lo.
-Jimin, a quanto tempo que eu não sentia o seu corpo. -disse ele de modo satisfeito. -Parece que fazem anos desde que você ficou assim.
-Me deixa quietinho aqui.
Abaixei a cabeça e a encaixei no ombro dele. Jungkook respirava acelerado, eu sentia as batidas frenéticas do coração. Lá fora, eu podia ouvir o som de alguns carros passando, e bem distante o som de uma sirene alarmando. O caos estava lá fora, os hematomas de uma sociedade opressora, as barreiras que teríamos que quebrar se um dia decidimos que aquilo seria para sempre. Eu estava disposto a quebra-las, mas no momento, eu pertencia a ele, e só a ele.
-Jimin, -ele chamou. -Lembra que você disse um dia que... existiam muitas coisas que você ainda tinha que me contar, mas tinha que pensar antes? Você pensou?
Engoli em seco.
Não imaginava que ele ainda se lembrasse daquilo. Ergui a cabeça e vi seus olhos refletindo a luz fraca da varanda, era tudo que eu consegui ver e talvez fosse melhor assim.
-Não está na hora de você saber de tudo, Jungkookie.
-Por que não?
-Ainda temos um relacionamento muito frágil para isso.
Ele se remexeu sob mim.
-Não temos um relacionamento frágil. -ele retrucou. -Não. Já passamos por muitas coisas juntos.
-Não diga muitas. Passamos por um conflito que quase nos deixou definitivamente afastados.
Me calei antes que falasse demais. Ele também não tinha resposta. Ficamos em silêncio por alguns minutos, e isso me incomodava profundamente, eu sentia que tinha feito um sulco no seu coração com aquelas palavras. Sentei-me sobre ele, não propositalmente, mas bem sobre seus quadris. Jungkook ergueu as mãos automaticamente e segurou minhas pernas.
-Vamos lá, não fique tão sério. -eu disse. -Vamos viver um momento de paz que não temos a tempos.
-Verdade. -ele disse com um suspiro. Se sentou me deixando bem próximo do seu rosto. Eu podia sentir enquanto ele respirava, podia sentir o pulmão subindo e descendo e o hálito no meu pescoço.
-Faça oque quiser.
-Não me ofereça tanto assim. -ele disse, num tom profundo que me deu arrepio. -O que eu quiser é muito.
Joguei meus braços sobre os ombros dele e me aproximei ainda mais, roubando um beijo rápido. Diziam que no escuro as bocas se encontravam sozinhas, e por sorte daquela vez tinha funcionado.
-Sou seu.
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The Cure - Jikook
Fanfiction"Devíamos amar quem quiséssemos, não é? Pessoas são pessoas." Jimin vivia sob ordens de um pai rigoroso. Jungkook era seu meio irmão, livre para fazer suas escolhas e forçado a aceitar aquele segundo casamento da sua mãe.