Se eu tivesse saído ontem a noite, teria uma explicação para a minha dor de cabeça repentina, mas não. Eu tinha amigos idiotas o suficiente para não me avisarem sobre um encontro de casais, onde eu seria o candelabro. Era sábado de manhã e eu estava deitado na minha cama, com uma dor de cabeça terrível, o único ponto bom é que a dor não aumentaria já que o sr. Park havia saído com a minha mãe desde cedo.
Mentalmente eu poderia ver Jimin com outro livro no rosto. Imaginei se gritar chamaria sua atenção para mim, mas eu não estava com força o suficiente para desperdiçar apenas para incomoda-lo. Quando eu já estava no meu quinquagésimo suspiro, a porta abriu e Jimin apareceu com uma bandeja. O olhei confuso, Jimin me trazendo comida e não estudando? Qual o milagre de hoje? Lá fora está nevando chocolate?
Me apoiando com os cotovelos, me sentei o mais confortável possível, ignorando a pontada de dor quando me recostei.
-Qual o milagre de hoje? -perguntei sorrindo fraco para ele.
-Eu... pensei que você não desceria para comer de um jeito ou de outro, então eu te trouxe o almoço. -ele sorriu e colocou a bandeja sobre minhas pernas. -Acho que você pegou uma virose, alguma coisa assim, você nem saiu ontem.
Eu ri, agora ele também lia pensamentos.
-Exatamente. -eu encarei a bandeja com tudo que eu gostava de comer e fiquei mais animado. -Sabe, você não é obrigado a almoçar lá embaixo. Me faz companhia. -pedi juntando as mãos e ele me fitou por um curto tempo.
-Jungkook...
-Por favor. Vai me deixar sozinho quando eu estou doente e quase desmaiando? E se eu me engasgar? Hum? Você vai se sentir culpado. -Eu sei que era claro o meu drama exagerado, mas fez ele rir, e isso era o primeiro passo para ganhar alguma coisa. -Você vem?
-Certo, Jungkook, eu almoço com você. -ele balançou a cabeça ainda com ar de riso e saiu do quarto para buscar o dele.Ponto para mim.
Ele voltou dez minutos depois com outra bandeja, a colocou na cama e se sentou com cuidado para não derrubar.
-Feliz? -perguntou com um sorrisinho.
-Muito. Você é um garotinho muito difícil, Jimin. -eu disse começando a comer. -Nunca almoçamos sozinhos.
-Nos conhecemos a dois meses, 'nunca' é muito pesado. -ele era muito fofo falando com as bochechas cheias. Pode dizer oque quiser que falar assim é má educação, mas ele era muito fofo. -Por que está me encarando? -perguntou ficando vermelho.
-Porque... você é... um bolinho?Meus nervos me traíram nesse instante em que ele ficou me encarando. Bolinho? Sério? Não tinha nada melhor para comparar?!
-Pare de dizer isso. -ele riu abaixando a cabeça, provavelmente escondendo a vermelhidão do rosto. -Eu não sou um bolinho.
-Meu mochi. -eu ri me esticando para amassar suas bochechas.
Quando me afastei ele estava mais vermelho que antes, eu voltei a comer sem incomoda-lo e ao terminar, coloquei a bandeja no chão, me sentindo de repente muito tonto, suspirei e me deitei fechando os olhos.
-Tudo bem? -Jimin perguntou, quando voltei a abrir os olhos, ele estava sentado ao meu lado, com as pernas cruzadas e um pouco inclinado. Acho que nunca estivemos tão próximos. -Está se sentindo mal? -sussurrou.
-Você pode ficar doente também se ficar muito perto. -eu não queria o afastar de mim, até o cheiro dele era bom, mas eu não o queria doente. -Quer se arriscar mesmo?
-Eu devia estar fazendo um trabalho agora, mas... seu drama funcionou. Faço de noite, cuido de você de tarde. -ele disse como se na sua mente um calendário imaginário estivesse mudando os post-its de lugar.
-Acho que ganhei um anjo da guarda.
-O que está sentindo? -perguntou pondo a mão na minha testa. -Você está pálido.
-Fiquei tonto. Não foi nada. -eu peguei sua mão que estava na minha testa e sem sentir, fiquei segurando-a.
-Precisa de alguma coisa?
-Uhum. -murmurei, eu tinha que me aproveitar um pouquinho, certo? Certo. -Podemos assistir Aladin?
-Quer assistir desenho? -perguntou rindo e eu assenti. -Tudo bem.
-Mas você tem que assistir comigo, aliás você é a Jasmine. Ontem eu entrei pela sua varanda, só não tenho tapete voador. -ele me deu um tapinha e eu me encolhi. -Não se bate num doente.
-Está abusando de uma virose. -ele se levantou e procurou o filme no computador, pôs o cabo na tv e voltou para a cama depois de desligar a luz e cobrir as janelas com as cortinas pesadas. Vê-lo fazer tudo aquilo era realmente perturbador. Como aquela bunda... digo, pessoa, consegue se movimentar tão perfeitamente. Ah, como foi horrível quando ele teve que se abaixar para pegar o cabo que estava no chão. Foi um show particular ótimo, seria melhor se eu pudesse aproveitar aquilo, mas eu tinha que fazer meu papel de bom moço e irmãozinho. -Agora vamos assistir.
-Sem ficar pensando em atividades viu? -pedi quando ele se esgueirou para debaixo do meu lençol. -Jiminie, você tem que prestar atenção no filme. E em mim se quiser.
-Por que em você? -perguntou enquanto o castelo da Disney ainda aparecia. -Eu não sou você que fica olhando para as minhas pernas.
-Ah, ficou magoado com isso? -perguntei rindo, Jimin ousado esse que encontrei no escuro. -Coisas bonitas tem que ser elogiadas. -me virei de lado e o observei olhar a tv com a cabeça em outro mundo.
-Não elogie minhas pernas. -ele disse com um sorrisinho ao se deitar de lado também. -Isso não é legal.
-Não é que não seja legal, é que o meu mochi fica vermelho. -disse apertando suas bochechas. -Pare de ser fofo, Jiminie.
-Pare com essas coisas. -ele afundou o rosto no travesseiro e eu ri o puxando mais para perto. Ele se encaixou no meu peito muito bem, eu sentia a sua respiração no meu ombro, os cabelos afagando o meu rosto e o seu corpo quente próximo ao meu -Chato.
-Agora eu sou chato? -perguntei fingindo um tom magoado. -Eu tenho vontade de te colocar num potinho, ou te amassar. Isso não é chato, é...
-Estranho. -ele virou o rosto e o deixou bem próximo ao meu. Meus instintos me fariam me aproximar mais, era o clássico depois de tanta provocação, principalmente estando tão perto. Mas Jimin não era como as outras pessoas, ele sorriu e voltou a se deitar. -Vamos assistir o filme, certo?
-Eu estava gostando do abraço. -eu fiz bico e ele acomodou a cabeça no meu peito, ficando um pouquinho de lado para assistir o filme, mas sem me largar. -É, assim 'tá bom.
-Você tem sorte de está doente.
-Uma hora ou outra você teria que admitir que gosta um pouquinho de mim e que eu sou um meio irmão incrível. -ele encolheu envergonhado e eu ri. -Além de muito modesto.
-Não me parece que quer assistir o filme. -em seu tom eu já imaginava o sorriso dele. -Fique quieto, Jungkook.
Eu me esforcei para assistir o filme, juro, mas eu adormeci em plenos dez minutos de desenho. Jimin continuou assistindo sem notar que eu havia apagado e quando voltei a acordar ele cantava baixinho Whole New World. Era tão bonito, sério, por que toda essa burocracia sobre meio-irmãos e por que ele tem que ser perfeitinho? Pelo menos seja hétero para eu considerar isso um defeito ao meu favor.
Esperei ele cantar até o fim da música e ri, ele se assustou comigo e se afastou um pouco.
-Pensei que estivesse dormindo. -ele sussurrou. -Parecia uma pedra.
-Você canta como um passarinho, Jimin.
-Pensei que eu fosse um robô e um bolinho. -ele brincou sorrindo. Eu odeio isso. -Se sente melhor?
-Você cantando me deixou mais desperto. -eu acariciei seus cabelos e ele fechou os olhos como um gato. -Tanto que... eu vou fazer pipoca pra gente.Me ergui um pouco.
-Não. Repouso. -ele disse me empurrando pelo peito de volta a cama. -Fique quieto Jungkookie.
Ele saiu do quarto e eu suspirei de alívio. Eu adorava a companhia dele, e eu queria o ajudar a fugir dessa vida automática, queria mostrar o mundo a ele, mas como eu poderia fazer isso se ele me tenta a cada dois segundos e inconscientemente?
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The Cure - Jikook
Fanfiction"Devíamos amar quem quiséssemos, não é? Pessoas são pessoas." Jimin vivia sob ordens de um pai rigoroso. Jungkook era seu meio irmão, livre para fazer suas escolhas e forçado a aceitar aquele segundo casamento da sua mãe.