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-X- Jimin -X-

Era uma alívio voltar para os braços dele. Sentir seus músculos esticando sob meus braços, agarrando a minha cintura. Eu devia ser mais forte, ter mais personalidade, ser a pessoa que eu construí durante esses anos. Por que ele me desconcentrava? Quando o pedi para me beijar, ele o fez, sem hesitar, sem pensar que talvez a ideia de ficarmos separados fosse melhor para nós dois. Certo que eu não penso dessa forma, muito menos ele. Nem tudo que queremos é o certo. Toquei sua nuca durante o beijo, ele estava arrepiando, senti os braços se retesarem me puxando ainda mais para perto, e minhas coxas estavam o prendendo mais do que antes, eu estava nos pressionando sem perceber. Então eu era o culpado disso. Eu chorei, o fiz ter pena de mim, então ele veio me salvar de novo, curar minhas dores. Burro. É isso que eu sou. Estava comprometendo o bem estar dele pelo meu.
-Kookie. -chamei me afastando dos seus lábios, a contragosto, óbvio. Ele me olhou confuso e arfante, eu gostava dessa expressão, era parecida com a que fazia quando eu parava de o provocar de repente. -Eu... estou te prendendo.
  -Você está em cima de mim.
  -Não. Não quis dizer isso. -eu ri. Deixei meus braços ainda sobre seus ombros e suspirei pesado. Era legal a ideia de Romeu e Julieta que ele tinha, mas ele sabia que os dois morriam no final? Por que todo mundo usa o exemplo desses dois sem se tocar da tragédia? -Jungkookie, amanhã eu vou te ver, vamos seguir caminhos diferentes, eu vou voltar para casa mais cedo do que você, como sempre e... -meu coração acelerou, começou a bater na garganta. Eu não podia o dispensar, nunca que faria isso, eu não era capaz de dizer para a pessoa mais importante da minha vida que fosse embora. Então eu não suportei. -Vou deixar a porta aberta, mas não entre quando chegar. Espera um pouquinho.
  -Voltamos a ser foras da lei, então? -perguntou com um sorrisinho.
  -É.
  -Jure, você vai comer direito, e nada de chorar de noite, que eu juro que eu venho te dar um beijo de boa noite, todos os dias. -ele ergueu o mindinho e eu parei encarando-o antes de me decidir. Eu gosto de beijos de boa noite. Apertei seu dedo com o meu e ele sorriu. -Ainda bem que apertou.
  Ele realmente parecia aliviado, como se temesse que eu preferisse não ter beijos de boa noite. Não sou tão idiota assim Jungkook, só um pouquinho. Senti seus dedos na minha cintura, tamborilarem como se estivesse nervoso, e percebi que eu o encarava profundamente, que meus olhos estavam muito focados nos seus e isso estava o assustando. Sua expressão mudou em segundos, ele pareceu confuso novamente.
-O que você fez em todos esses dias?
Sua pergunta era séria. E a resposta era mais ainda, eu não queria que ele soubesse da minha tristeza. Abaixei o olhar para a sua camisa, era azul claro, toquei o símbolo bordado no peito dele, uma flechinha. Senti a pressão das suas mãos que agora estavam nas minhas coxas, eu gostava quando ele fazia isso, me fazia me sentir dele, e isso me fazia sentir como um otário. Jungkook podia arranjar qualquer um melhor do que eu, mas eu o prendia, não era? Eu chorava como um bebê para ele ficar. Se ele quis ficar por mim... não posso fazer nada.
-Eu estudei, toda tarde, para afastar a ideia que eu estava sem você. -respondi, oque não deixava de ser verdade, os intervalos que eram perigosos. -Eu só tentei voltar para a minha vida de antes.
-Só fez isso? -ele perguntava como se soubesse de algo, e devia estar escrito na minha testa "culpado". -Jimin, você sempre fica assim quando está mentindo.
-Assim como?
-Mordendo a boca, evitando me olhar, tenso.
Era verdade. Mas eu nunca tinha percebido isso. Soltei o lábio dos dentes e ergui o olhar, ele parecia irritado novamente.
-Eu estudei, só isso. -repeti. Ele bufou e riu, mas não tinha graça nisso, ele ria quando estava irritado.
-Voce não tem jeito. -ele me puxou e deitou a cabeça no meu peito. -Eu te levaria para a cama agora, mas o perigo é maior.
-Maior que a sua vontade em mim? -perguntei um pouco magoado.
-É. É perigoso eles chegarem agora. O que aconteceria se ouvissem seus gemidos lá de baixo? Você não é silencioso, Park Jimin. -Ele deslizou as mãos até a minha bunda e a apertou com força. Se eu já estava sentindo minhas orelhas e bochechas queimando, nesse momento eu devo ter atingido um nível pimentão supremo.
-Mentiroso.
-Sou? Vamos perguntar ao Tae. Sabia que ele foi nos procurar naquele dia na escola?
Cobri a boca com a mão para acrescentar mais espanto. Então haviam me ouvido do corredor. Escondi meu rosto corado no seu ombro e senti o corpo dele tremer enquanto ria.
-Está com medo de terem te ouvido?
Assenti.
-Não tenha. Eu acho um som muito bonito e agradável. Quase uma música.
O estapeei e ele ficou tentando segurar minhas mãos. Consegui ainda atingir seu peito algumas vezes, mas ele me segurou com força pelas mãos e me puxou de lado, deixando meu pescoço exposto para seus beijos molhados.
-Eu queria muito. -disse se aproximando da minha clavícula. -Fazer você se sentir melhor, mas não podemos arriscar. Teremos que deixar para depois.
  -Chama isso de me fazer "sentir melhor"? Você disse que eu grito!
  -Não. Disse que a música que sai dos seus lábios quando eu estou carinhosamente lhe dando prazer é alta. -disse fazendo gestos obscenos com a mão e me deixando mais envergonhado.
  -Jungkook!
  -O que? Não é isso que fazemos?
-É, mas é pior você dizendo. -digo voltando a esconder o rosto na sua camisa azul. Aliás, eu nunca o via com essa camisa, e ele estava tão arrumado para ter ido apenas na casa dos amigos. -Onde estava? -pergunto ainda deitado no seu ombro.
-No cinema, com o Tae e o Yoongi. Já deve imaginar como foi divertido. -disse com ironia e senti meu coração ficar mais leve. Era péssimo sentir isso. Não o prenda assim, deixe ele enxergar o mundo sem você. Afinal, não foi isso oque você tentou fazer? Voltei a me agarrar mais nele, até meus pensamentos doíam. -E eu estava sem você.
-Jungkook-ah, você não devia se sentir mal por não estar comigo. -reclamei. -Devia ter aproveitado o filme.
-Era romance e o meu romance estava preso em casa. -o ouvi suspirar cansado. -Se você está em tudo ao meu redor não é exatamente culpa minha.
-Verdade. É minha. -sussurrei e ele me afastou delicadamente pelos ombros. -Eu sei.
-Nem pense em colocar culpa nessa sua cabecinha de bolinho. -disse dando duas cutucadas na minha têmpora. -Ouviu?
-Não ja prometi muitas coisas por uma noite? Não me faça prometer não me sentir culpado, é inevitável.
  Era verdade. Estava escurecendo e nem havíamos notado. Pelas portas de vidro da varanda, a aurora dava seus últimos suspiros antes de finalizar o dia. O céu estava rosa bem clarinho, começava a ficar roxo, era poluição aquilo, mas porque tudo que é ruim as vezes é tão doce? Ele puxou meu queixo me fazendo o olhar novamente, eu não estava mais atuando sorrisos como fiz quando ele chegou, agora eu estava ali, só eu, doce e sujo como o céu.
  -Jimin, eu não vou te fazer me prometer oque não quer. Mas eu tenho que admitir pra você que eu tenho medo. -ele disse sério, minha mão no seu peito captava as batidas rápidas do seu coração. Ele estava nervoso de novo.
  -Confia em mim, mais uma vez. Só uma vez. -estiquei um dedo e cutuquei sua bochecha tentando fazê-lo rir, mas ele não fez. -Jungkook, eu sei que eu disse coisas que não devia, ou devia, mas não tinha dito. Mas você precisa confiar que eu não vou ser burro dessa vez.
  -Você não me explicou oque você fez.
  Me levantei de supetão. Ele não podia saber, não devia saber daquilo. Era um assunto delicado para um relacionamento frágil. Andei até perto do vidro da varanda, meus dedos ainda estavam marcados ali, de quando fiquei assistindo a rua, esperando ele chegar. Respirei bem fundo e enquanto eu fazia isso, ouvi seus sapatos quando ele se levantou também.
  -Uma hora vamos ter que conversar sobre isso. -disse com calma, sem me pressionar.
  -Eu sei. Temos muitas coisas a mais para conversar. -me virei e ele ainda estava em frente à cadeira. -Muita coisa que não sabe sobre mim, e eu quero contar. Mas primeiro, quero estar calmo para contar tudo, quando pudermos ficar num lugar sem medo.
  -Okay. -ele não disse mais nada, só se aproximou contornando a cama, segurou meu rosto e me beijou. -Você vai ter tempo para pensar, e quero que pense bem. Por enquanto, eu vou para o meu quarto, está quase na hora deles chegarem, não vamos arriscar que nos ouçam correndo.
  -É melhor.
  Ele se virou para ir embora. Meus dedos formigaram para segurar a sua mão, mas eu me controlei, apertei bem forte os dedos contra as palmas e esperei ele chegar até a porta.
  -Boa noite, mochi. -disse já passando pela porta aberta. -Sonhe comigo, de preferência um sonho interessante, se me entende.
  Ele piscou e fechou a porta. Senti as orelhas queimando, meu corpo todo queimava. Me joguei na cama e afundei um travesseiro no rosto, com o sorriso mais trouxa que possa imaginar. Jeon Jungkook, eu queria muito te odiar. Too bad, but is too sweet.

The Cure - JikookOnde histórias criam vida. Descubra agora