45-Jardim

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-Porque parou? Vamos,continue!-Fala a mulher de modo baixo,porém severo.

Encaro a janela por mais uns três segundos antes de desviar meu olhar para ela,minhas esperanças acabadas.

Olho para frente,para o que me espera depois da porta. Ele. É claro. Ele até podia ser bonito,mas não se comparava a beleza do que havia a sua volta.

Estávamos em um lugar magnífico. Tinha tantas plantas,e algumas pequenas flores como se fossem apenas enfeites do lugar,os arranjos iam até mais do que a minha altura,e havia uma mesa delicada de vidro no meio,com duas cadeiras do mesmo estilo.

Só depois de uma grande analise pelo jardim que volto a encaram Henry. Ele está usando uma blusa social branca e uma calca preta. Ele me encarava e sinto que pensa em algo que pela sua expressão eu nunca saberia.

Em cima da mesa tinha dois pratos e duas xícaras de porcelana além de talheres que provavelmente eram de prata.

-Esta bem melhor. Sente-se. -Ele diz,puxando a cadeira e eu sento,logo em seguida ele senta a minha frente.

-Por que me chamou aqui? -Pergunto,inconscientemente pegando uma colher e batendo ela de leve na mesa.

-Queria que viesse conhecer esse lugar. E também é o único lugar onde não podem escutar nossa conversa.

-O que quer me falar?

-Bem,eu tenho uma proposta. Você pode ficar e trabalhar pra mim.

-O que acontece se eu dizer não? -Pergunto,minhas mãos tremem.

-Bem.... Você sabe. Não há outra opção.

Pelas suas palavras e a sua cara já sabia muito bem o que acontecera comigo se dizer não.

-Com que eu trabalharia?-Se eu trabalhasse aqui ficaria mais fácil de fugir. Teria mais acesso as coisas,quem sabe eu conseguisse roubar um carro ou algo assim.

-Ajudante de cozinha.-Ele diz. Será mais difícil de fugir. Esperava algo melhor. Fico quieta e a mesma mulher que me trouxe aqui vem trazendo dois pedaços de bolo em uma bandeja.

Ela coloca na mesa e sai dando um aceno de cabeça. Ele começa a comer e eu sinto meu estômago embrulhar olhando pra isso.

-Há alguma coisa há mais? -Não me esqueci que ele disse sobre não ouvirem ele. Sinto que tem algo mais.

-Há, sim. Já ia esquecendo. Eu fiquei muito bravo por você avisar a policia sobre mim,não esperava isso de você. A Daise que eu me lembro não faria algo assim.

-Ainda bem que não sou a Daise que você se lembra.-Digo,antes de conseguir me conter. Ele me olha meio bravo e eu desvio o olhar.

-Sim.... Você mudou bastante com o tempo. Ficou mais velha,mais madura. Você lembra de Las Vegas?

-Não... Você me drogou,esqueceu? Aliás, como foi lá?

-Bem,estamos conversando sobre o passar do tempo,colocando a conversa em dia,sabe,você é bem mais legal bêbada. Menos certinha. Ai nos fomos até a loja,eu comprei as coisas e coloquei o medalhão no meio e depois eu fui embora.

-O que aconteceu com o medalhão?-Tinha me esquecido daquele pendrive.

-Meus funcionários estão criando um plano pra pegar ele de volta. Mas eu sei que a policia não vai conseguir decifrar o código.

-Que código?

-Um código que eu coloquei,como uma senha. Mas não vim aqui pra falar disso. Estávamos falando sobre você.

-Olha,você esta cheio de enrolação hoje. O que acontecerá comigo se disser não para sua ofertinha?

-Terei que te matar.

Seu rosto é serio quando ele fala isso e percebo que ele não esta brincando. Nunca pensei que ele fosse esse tipo de pessoa,acho que parte de mim nunca quis acreditar. Meu coração acelera e de repente me bate uma enorme vontade de chorar.

-Acho que não tenho outra opção não é?-Falo,tentado(bom,mais ou menos) esconder a raiva na minha voz.

-Qual das duas? -Ele fala e um riso irônico sai de mim.

-Trabalharei pra você.

Ele afirma com a cabeca e percebo um pequeno sorriso surgir em sua boca. Reviro os olhos. Meu pedaço de bolo ainda esta intacto,mas como eu não sei quando irei comer de novo começo a belisca-lo.

-Então,em breve eu vou viajar,por isso eu acho que preciso falar com você.

O rastro de um sorriso some do seu rosto e eu finjo que não estou assustada e continuo comendo o bolo,ainda olhando pra ele. Quando estou preste a levar outra parte pra minha boca ele segura meu pulso de maneira forte mas não suficiente pra me machucar.

-Essa casa é mais protegida do que você pode estar pensando. Se tentar alguma gracinha ou fazer algo que não deve,tenha certeza que será a ultima coisa que você vai fazer. E se sair dessa casa com vida,eu mesmo vou atrás de você pra ter certeza que sua vida será um inferno.

Meus olhos se arregalam e eu fico com medo. Não que eu não estivesse antes,mas é como se eu finalmente percebi a gravidade da minha situação.

Ele solta meu braço que está um pouco vermelho e com a marca de seus dedos e sai do jardim,me deixando completamente sozinha por alguns minutos,me fazendo pensar se realmente valeria a pena fugir,ou pelo menos tentar.

Então finalmente aquela mulher volta,severa como sempre.

-Venha,Henry me disse que você vai trabalhar na cozinha. Eu vou te mostrar as coisas. - Me levanto pensando,o que essa mulher mais fala pra mim é venha pra cá, venha pra lá.

Voltamos pra sala enorme entramos em um corredor quando de repente ouço um grande barulho,como uma bomba ou algo assim.

Com uma rapidez impressionante ela me puxa pelo braço por uma porta que nem tinha notado lá,aparentemente de limpeza e a fecha em seguida.

Olho para ela e ela me faz um shuuu com o dedo na boca. Confirmo minha cabeça.

Continuo ouvindo tiros e acho que postas sendo arrombadas quando tudo para um pouco.

Então de repente alguem abre minha porta com tudo.

Não qualquer alguém. Meu susto passa rápido quando percebo que é James,e eu pulo pra abraca-lo.

-Ai meu Deus,você está bem?-Ouço ele dizer e sinto seu corpo tremer.

-Sim,sim,estou e você? Como eu sinti sua falta.

Por fim nos afastamos e percebe que ele estava chorando. Passo minha mão por seus olhos sem perceber que eu estava chorando também.

-Porque está chorando?

-Eu achei que... Que... Eu achei tanta coisa. Não consigo acreditar que você está aqui na minha frente,bem.

Ele começa a rir e me pega no colo,como se eu fosse um bebê e eu começo a rir também.

-O que esta fazendo? -Digo rindo muito.

-Eu vou cuidar de você, mas primeiro vamos sair daqui.

Ele me tira da casa e pelo caminho vejo alguns corpos e alguns policiais investigando o local.

Finalmente saímos e ele me põe no chão, me olhando dos pés a cabeça pra ter certeza que estou bem.

-Que isso no seu braço?-Ele pergunta encostando na onde a algema ficava. Antes que eu pudesse responder um policial aparece.

-Você está bem? -afirmo com a cabeça e ele sorri-Que bom,estávamos procurando esse lugar a tempos,foi ótimo achar.

-E vocês o prenderam? Henry?-Pergunta James.

-Não,ele não estava aqui.-Ele fala e sai.

As palavras de Henry passam pela minha cabeça e eu tento me acalmar.

Isso não pode estar acontecendo de novo.

O homem da noite anteriorOnde histórias criam vida. Descubra agora