Agora eu sei o que é amar.

Capítulo 74

Juliana
Uma quadra antes de chegar em casa noto uma senhora de meia idade sentada no meio fio da calçada na sombra de uma árvore com um bebê no colo. Aquilo chama a minha atenção,pois ambos estão bem vestidos e eu estranhei. Encostei o carro do outro lado da rua e fui vê-la.- Boa tarde!  A senhora está se sentindo bem?

Senhora - Boa tarde querida,estou um pouco zonza! Está muito calor.

Juliana - É verdade, vou pegar água para a senhora.- voltei para o carro, peguei água mineral,meu estetoscópio e o aparelho de medir pressão que sempre tenho um pequeno kit no carro.
Volto para atendê-la,entrego a água para ela que primeiramente dá ao bebê, tão lindo e sorridente e somente depois ela toma uns poucos goles. Então começo a examiná-la. - Bom, os seus batimentos estão normais,mas sua pressão está alterada.- marcava 187x111.- A senhora usa alguma medicação?- perguntei,mas já tinha percebido o lenço cobrindo seus poucos cabelos.

Senhora - Sim uso,mas já tomei hoje, eu faço um tratamento de quimioterapia e esse calor está demais. Deve ter sido um pouco de cada coisa o motivo do meu mal estar.

Juliana - Isso com certeza! Desculpa,mas a senhora não deveria sair sozinha, ainda mais com um bebê de colo.- falava enquanto o bebê,se movimentava em minha direção como se quisesse o meu colo.

Senhora - Ah,meu anjo! Somos só nós dois,esse é meu netinho eu sou viúva há quatro anos,a mãe dele morreu praticamente no parto e ele é tudo o que eu tenho...meu tesouro.

Juliana - Nossa! Sinto muito pelas suas perdas, a senhora é admirável. Com tudo isso,ainda assim tira forças de onde não tem para cuidá-lo.- conversávamos enquanto o bebê sorridente mexia no estetoscópio que estava no meu pescoço.- Qual o nome dele?

Senhora - É João!

Juliana - Oi João,você gostou do meu estetoscópio é? Como você é lindo,sabia!- ele estendeu os braços para mim e sua vó me entregou ele.

Senhora - Ele gostou de v3! Já tens filhos?- pergunto ao notar a aliança em sua mão.

Juliana - Eu também gostei muito de você!- beijei seus cabelos. - Não ainda não tenho!- olho para ela.- Ele é bem sociável né,nem estranha.

Senhora - Às vezes ele estranha um pouco,mas ele gostou bastante de você. Olha só, não para de sorrir.

Juliana
Quem não parava de sorrir era eu, fiquei um bom tempo ali com eles e o João sempre no meu colo, não sei explicar, é como se ele preenchesse um vazio. E esses olhinhos castanhos claros grandes, lembrei do Lucas,brilhavam lindamente, ele é tão pequeno e já tem uma história de vida tão triste.- Ele já tem um aninho?

Senhora - Ainda não,vai completar 11 meses daqui a 5 dias.

Juliana - Ele é grande né? - sorri.- Você é um meninão, é um meninão lindão!- que sorriso lindo,mesmo com meia dúzia de dentes.- A senhora já está se sentindo melhor?

Senhora - Já sim meu anjo,pode ir! Desculpa ocupar o seu tempo, muito obrigada pela atenção,você é muito gentil.

Juliana - Bem capaz, não precisa agradecer. Eu vou levar a senhora e o João para casa.

Senhora - Não precisa, já demos trabalho demais por hoje.

Juliana - De maneira nenhuma vou deixá-la andando por aí sozinha com um bebê.- depois de alguns argumentos, ela acabou aceitando minha carona.
Coloquei as compras no porta malas para liberar espaço para ela e o João na parte de trás do carro,dirigi por uns vinte minutos e deixei eles em um bairro não muito longe da minha casa.
Estaciono em frente a uma casa antiga,com jardim e fachada muito bem cuidados.- Vem eu ajudo a senhora a descer.

Senhora - Segura o João que eu consigo descer sozinha.

Juliana - Ok!- estendi as mãos para pegá-lo e ele veio todo faceiro para o meu colo. Sinto que nos identificamos desde o primeiro momento, ele é uma graça de criança,fiz umas gracinhas para ele que dava cada risada gostosa.- Tchau lindão,vai com a vovó!- o entreguei,mas ele não fez esforço nenhum para sair do meu colo.

Senhora - Obrigada por tudo,você é um anjo! Tá cada vez mais difícil encontrar pessoas boas nesse mundo.

Juliana - Não precisa agradecer não,eu sou médica.- entrego meu cartão com meu contato para ela.- Se a senhora precisar,por favor me chame. E sugiro que a senhora não saía mais sozinha, principalmente carregando ele, é muito perigoso a senhora passar mal novamente na rua.

Senhora - É,eu sei querida! Mas estou numa missão e está um pouco complicado. Eu tô morrendo e quero garantir que o João fique bem,po...

Juliana - Não diz isso, hoje em dia a medicina está muito avançada. Me procura,posso tentar ajudar, encaminhar para um especialista e...

Senhora - Agradeço a sua preocupação,mas meu caso é muito difícil, só me preocupo mesmo com o João.

Juliana
Mesmo assim insisto para que ela me procure, nos despedimos com um abraço,dou um beijinho no João e fico observando eles entrarem na casa,aceno e só aí entro no carro. Volto para casa com os olhos marejados pela triste história da senhora e seu netinho. Como a vida pode ser cruel às vezes, mas Deus sabe de todas as coisas.