10 - Bruno

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A Kawane estava na calçada em frente à igreja me esperando.

— Não vai mesmo pra quadra hoje? Poxa, Bruninho, a gente tem que ensaiar nossa dança.

— Desculpa, Kawane, mas não consegui me desobrigar de ir na festa da minha priminha. Você não sabe o quanto eu tentei não ir...

— Nossa, imagino — ela diz rindo. — Que sacrifício, né? E nem pra convidar as amigas.

— Se eu te chamasse não ia sobrar salgadinho pras crianças.

Kawane me dá um tapinha de força considerável no ombro e fecha a cara. Como imaginei, ela logo solta uma risada. Não demora até ela encerrar a conversa sobre comida, seu assunto preferido.

— Beleza então, Bruninho! Vê se não vai deixar as crianças passando fome lá, hein? Tchau. — ela responde com um sorrisão.

Despeço-me dela com um sorriso ainda maior. A quadra fica para um lado e a minha priminha mora para outro. Atravesso a rua e, ao olhar para os lados, vejo Kawane olhando para trás. Para mim.

Vejo ainda na outra quadra o Meck olhando para trás, mas está tão longe que não sei se nos vê. Ainda mais porque ele usa óculos. Sigo andando mas de olho no Meck. Ele está meio desligado ultimamente, e nós não falamos muito sobre isso, eu e a obreira, porque ela já tentou falar com ele para saber o que está acontecendo, e ele nunca fala o que está errado.

— Olha o carinha que tá aí!

Caramba! É o Caio! Deus me ajude! Como não o vi chegando perto?

— Bruninha, tá indo pra onde?

O Weslei junto com o Caio não tira os olhos da minha camiseta. Fico sempre de frente para ele para evitar que veja atrás o texto A arte de salvar.

— Eu tô... indo pra uma festinha.

— Sério, cara? — diz Weslei. — Tá virando homem, é?

— Tá mesmo. Viu ele de olho no produto?

Caio vem do meu lado e dá tapinhas nas minhas costas. Viro-me um pouco e ele acompanha o movimento. Dou uma risadinha do seu comentário.

— Que, produto, cara? Tava... tava vendo meu amigo lá na outra quadra. Ele tá meio deprê.

— Chama ele pra festa também, carinha! Ou tua igreja não deixa?

— Que, igreja? Para com isso. Igreja...

Paro de dar ouvidos até pararem de falar da Kawane, quando consigo ir embora logo. Quase me pegaram na frente da igreja. Ou será que me viram saindo de lá? Se souberem que frequento essa igreja vão me zoar mil vezes mais. Já estou imaginando as piadinhas.

Deus me ajude!

Quantas dúvidasOnde histórias criam vida. Descubra agora