Volto do trabalho direto para a igreja, como de costume, para evangelizar com os jovens. Que fome! Parece que quando comemos sem prazer a fome não é saciada.
Meu Deus, não aguento mais! Preciso de uma resposta! Não dá para continuar morando com a obreira Mokado. Não que eu seja melhor do que ela, mas eu não consigo nem comer com gosto naquele apartamento.
Depois da evangelização, que hoje demora mais, pois levo o dobro de jornais, tamanha minha revolta, chego quase na hora da reunião. Outra vez Meck está no canto, sozinho; Bruninho está no primeiro banco, o que é um ótimo sinal; Felipe não chegou, mas, com certeza, chegará atrasado; e Thalia, que sempre chegava mais cedo, não veio e nem deve vir para a reunião da noite. Mas observo bem o salão e... quem está na igreja? Minha mãe e meu irmão!
— Bia, minha filha! — diz minha mãe me abraçando. Confesso que tinha saudades de seu abraço. Envolvo-a com força, lembrando dos tempos em que, apesar de nossas diferenças, estávamos sempre perto numa família unida. Ao seu lado está Luquinha, mas ele eu não abraço nem por decreto! — Bia, volta pra casa! Estamos morrendo de saudade.
Depois de tudo que disseram, será que realmente me querem de volta? Eu amaria voltar a morar com minha família, mas tenho medo de acontecer novamente as afrontas.
— Desculpa, mãe... eu te amo muito, mas não posso.
— Mas, Bia, é lá que é sua casa. Olha, me perdoa por tudo que falei, eu estava nervosa. Sei que temos pensamentos diferentes, mas acima de qualquer diferença, você é minha filhinha. Eu te amo!
Ao relembrar da discussão que tivemos, vejo que também devo desculpas. Afinal, não sou perfeita.
— Não, Luquinha, eu que peço perdão a vocês. Eu não dei o valor que vocês mereciam. Mãe, eu te amo tanto, mas não mostrava. Eu tenho meus compromissos aqui, mas eu não vou mais deixar que eles me impeçam de dar o amor que você merece.
— Só de você voltar pra casa já está dando tudo que eu quero. Sua presença, você é o maior presente que eu posso receber.
Outra vez nos abraçamos. Luquinha faz uma cara de nojo, mas sei que ele compartilha do sentimento.
— Prometo que serei sua melhor filha, a mais perfeita.
— É fácil, sendo a única!
Até Luquinha ri. Limpo as lágrimas, e minha mãe também. Vou para frente, para a salinha das obreiras, me trocar. Minha família me segue até se assentar nas primeiras fileiras. Olho com questionamento.
— Vamos ficar para a reunião. Estamos precisando de Deus mais do que você imagina.
— Tá ligado!
Minha família se voltando para a fé. Uma casa. Comida de verdade. Não passar mais necessidades. Isso é uma vitória. Com o dinheirinho que estava juntando para ver um apartamento, posso completar a vaquinha dos jovens para comprar um computador para o Mídia. Não só um computador, mas o melhor.
Ainda tenho uma tristeza. Valéria não veio conversar comigo. Combinamos por vários dias mas ela sempre falta. Hoje vou falar com ela para remarcar de nos encontrarmos amanhã, antes do ensaio do Cultura. E se ela não vier, eu vou à casa dela.
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Quantas dúvidas
General FictionOs primos Felipe e Bruno tentam vencer os próprios defeitos ao lado de Bia, a obreira perfeita que abre mão da própria felicidade para ajudar os outros, apontando seus defeitos. Seus velhos amigos Meck e Valéria pensam estar bem, mas com as dificuld...