75 - Felipe

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— Que virose é essa que não passa? Tá amarrado! Quando não é uma coisa é outra. Isso significa uma coisa: Vai ar-re-ben-tar!

Karla me olha com desprezo depois dessa palavra enquanto termina de passar os medicamentos no leitor de códigos. Ô, mulher besta.

— Quanto deu mesmo?

Ela olha para os lados. Somos apenas nós na farmácia. Uma das portas está fechada, pois passou das seis horas.

— Não é nada — Karla diz enquanto tira o jaleco com movimentos suaves.

— Fala aí, quanto é.

— É sério, Felipe. Pode deixar que eu pago. O Paulinho precisa disso urgente, e sei que você vai deixar pendurado, né?

— Não vou ficar devendo pra ninguém. Vê logo o preço aí, cara. Não sou mais assim. Vou pagar!

— Quero ver como está o menino. Eu posso ajudar. Me leva pra sua casa.

— Que? Para com isso, Karla.

Ela anda para o lado que eu saio sempre, o caminho para casa. Não quero criar confusão, pois isso deixaria meu filho triste comigo. Então apenas sigo Karla até a esquina e a guio daqui para frente até minha casa. A mulher não para de falar.

— ...Ela é muito trouxa, não sabe decidir o que é bom, fica só perdendo tempo. Na verdade ela nem sabe o que quer. Às vezes consigo levá-la comigo pra curtir um pouco, mas da última vez ela foi embora no meio da festa.

— Quer saber? Falta Deus. Duvido que ela continua assim cheia de dúvidas se voltar pra Força Jovem.

— Esse negócio de igreja? Ninguém curte isso, só os coitadinhos dos pobres e que não conseguem pegar ninguém. Pra gente normal é só uma perda de tempo.

Esse papo não está indo bem.

— Olha, Karla, se você quiser me ajudar, eu aceito, mas não fala mais isso, beleza? Você tá me desrespeitando na minha cara, e eu não aceito isso.

Meu sangue começa a esquentar, mas respiro fundo e lembro da minha promessa. A amizade do Paulinho é mais importante que meu orgulho.

Em casa ela e Paulinho se entendem até demais. Karla e Bia são mulheres capazes de fazer o Paulinho sorrir. Meu garoto já é sucesso com a mulherada desde pequeno!

As horas passam e o sol se põe.

— Já tá muito tarde. É bom você ir, senão pega mal.

— Tudo bem, Felipe. Obrigada por me deixar brincar com o esse lindinho.

Vá logo! Preciso correr para chegar na Terapia a tempo!

Quantas dúvidasOnde histórias criam vida. Descubra agora