Quantas dúvidas

91 - Bruno

Hoje é o grande dia. Finalmente vamos saber quem passou e quem reprovou.

Silêncio na sala enquanto o professor diz as médias. Sei que o boletim vem por e-mail daqui a uns dias, mas ninguém na sala está pensando nisso.

Apenas na expectativa.

*

Arrebentou, meu! Tá ligado!

Agora sim, tudo pronto para partir para o próximo passo: faculdade. Na verdade falta uma coisinha antes: um emprego. Mas tenho certeza de que Deus vai abrir as portas.

A turma vai embora numa bagunça que chega a ser merecida depois de um semestre suportando o professor, não só pela sua mente fechada, mas pela dureza com que tratava a todos. Ele não pode mais tirar nota de nós.

Nós que passamos saímos saltitantes. Igor ainda me lança um olhar como o de alguém derrotado pelo amigo, ao qual respondo com um joia. Gabriel continua triste por estar entre os poucos que reprovaram.

— Não é o fim do mundo ter que aguentar o professor mais um semestre — digo para tentar alegrá-lo. — E aí, vamos sábado de novo no Força Jovem? Sei que você gostou do agito da galera, pode falar!

Nunca vi Gabriel tão tímido. Entretanto aceita meu convite antes de nos despedirmos.

— Bruninho?

A voz feminina é suave, mas sei que a Dani não dará sossego se eu não responder. Deus me ajude!

— Dani, foi legal estudar com você, mas agora não sei se nos veremos outra vez... A não ser que você também vá para o Força Jovem. Caso contrário, tchau.

— Espera! — Dani diz colocando a mão na minha frente. — Bruno, não quero nunca mais te ver. Fica comigo, você é tão gatinho e ao mesmo tempo tão inteligente. Você arrasa.

Sei que eu arraso... — Mas não posso, Dani. Você não compartilha a mesma fé que eu. E eu não fico com ninguém, sou um cara sério. Nossa, você não entende?

Dani tenta dar um abraço, mas eu recuo. Ela vai embora chorando e suas amigas ao lado tentam consolá-la. É difícil mas é o certo a se fazer. Não é hora de namorar, e sim de estudar e arrumar um emprego.

E creio que vou arrumar um bom.

Só peço a Deus que cuide do professor Igor, dê uma chance para ele deixar de ter uma mente tão fechada em sua incredulidade. E que dê forças ao Gabriel, que pegue firme. E que a Dani possa conhecê-lo, bem como todos da minha sala. Mesmo se tiver que ser eu a evangelizá-los.