35 - Meck

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Hoje teve ensaio de dança, não de teatro. Por isso fiquei depois do trabalho na igreja fazendo artes neutras, apesar dos convites das meninas para a quadra, onde Bruninho também estaria com elas ensaiando. Aproveito para emendar a noite ficando para a Terapia.

— Olha quem veio pra Terapia! — diz a obreira Bia. Atrás dela as outras jovens da dança chegam: Kawane, Duda e Julia, e Bruno no maior papo com elas. Logo atrás chega Felipe.

— Meck na Terapia? — diz Felipe; mas sua voz é tão alta que parece ter gritado.

— É pra glorificar em pé! — Bruno grita e arranca gargalhadas das três meninas. Kawane ainda lhe dá um soquinho no ombro.

Sou convidado para a roda de oração, um pouco antes de começar a reunião. Entregamos o ensaio, o projeto, nossas vidas, e tudo ao Senhor. Ao abrirmos os olhos, algumas pessoas estão passando por nós, membros que vieram para a reunião. Entretanto, meus olhos são atraídos para uma moça coberta de cores quentes; além dos belos cabelos acobreados, um vestido bordô rodado marcando sua cintura com um leve decote nas costas chama a atenção, bem como um salto vermelho estiloso. Não demoro (muito) para lembrar da rebatida no olhar, mas quando este chega nos jovens que, mesmo a oração tendo terminado, ainda permanecem na roda, todos olham para mim.

— Meck, Meck — Bruno exclama. Finjo não ter ouvido. Agora eu fico com o rosto coberto de vermelho.

Bruno vai para seu lugar, as meninas perto dele. Vou ao bebedouro, e alguém mais se aproxima.

— Oi — Thalia diz com um sorriso contido mas inocente, como criança, enquanto pega um copo.

Desta vez não fico olhando para ela. Tiro dela o foco para me preparar para a palestra, mas sua imagem fica. Pela primeira vez a vi com roupas mais femininas. Isso é um bom sinal. Sua autoestima está mais alta.

O pastor fala sobre paredes (sim, na Terapia! Eu já ergui paredões ao redor do meu coração, então estou certo, eu acho). E depois tem a roda de oração dos jovens. Antes de eu ir embora, Thalia é a única que vem atrás de mim para dizer tchau, já que eu saio sem me despedir de ninguém. Da porta ainda olho para dentro, pois ela volta para falar com a obreira. Admiro o movimento do tecido vermelho. É muito bonito seu vestido. Ou talvez eu só o ache tão bonito por causa dela, a pessoa que o está vestindo.

Quantas dúvidasOnde histórias criam vida. Descubra agora