Como todo sábado depois do trabalho, o ônibus passa em frente à igreja. E lá está ela, aquela obreira tão esforçada, tão bonita, tão exemplar, tão atraente de várias formas... E pensar que eu poderia estar com ela traz até hoje um certo aperto por dentro. Não que eu ainda queira, mas as lembranças não somem da memória. E não que eu não queira, pois ainda a acho a menina mais linda do mundo, por dentro e por fora.
Deixa isso para lá. Agora meu foco é Deus. Não voltei para a fé por causa de uma ou outra pessoa. Voltei porque agora sei o quanto preciso de ajuda.
Mas estou na última janela do ônibus quase vazio, e oportunidades não devem ser perdidas. Seja qual for.
— AÔO, BIA!
Ela nem precisa procurar! Olha direto para mim, que solto uma gargalhada à medida que o ônibus vai se distanciando da igreja.
Eu não vou negar: olhar para a obreira Bia traz uma sensação dos deuses, assim por dizer. Tão atenciosa com a gente, qualquer jovem se apaixonaria por ela numa única conversa. Menos se a conversa dela for como a que teve comigo, pouco antes de eu abandonar o curso de obreiros, abandonar a fé e ir para Grinter. Ainda me arrepio ao lembrar do não. Ou melhor, sinceramente não. Dói, não uma dor sofrida, só a de mexer num machucado profundo, mesmo cicatrizado. Seria mais um incômodo do que uma dor.
Enfim, preciso parar de focar nisso. Primeiro o Reino de Deus, depois as outras coisas. E aí, talvez, quem sabe o que o futuro aguarda para a Bia e para mim?
Ah! Que bom! Chegar em casa, esticar os pés, jogar as meias para longe, pegar meu cafezinho, talvez tomar um banho... Depois, para amenizar o cheiro de gasolina, limpo a casa, já que não mora mais ninguém.
Vou para a casa da tia Gi, almoçar, e já vejo o Paulinho. O Bruno já saiu, o vi na igreja com a Bia. Depois de almoçar e brincar com meu filhão, subirei à igreja também. Vou lá para animar aquela rapaziada, eles são muito parados; e depois reclamam que o grupo jovem está vazio.
É isso aí, vou mostrar para eles como que faz a igreja encher.
Vamos arrasar, moleque!
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Quantas dúvidas
Aktuelle LiteraturOs primos Felipe e Bruno tentam vencer os próprios defeitos ao lado de Bia, a obreira perfeita que abre mão da própria felicidade para ajudar os outros, apontando seus defeitos. Seus velhos amigos Meck e Valéria pensam estar bem, mas com as dificuld...