Primeiro dia de aula do ano. Fico feliz por não encontrar Caio mesmo passando por sua rua. Mas ainda quero encontrá-lo, pois tenho a missão de levar a verdade a ele, pois se não for eu, quem vai lhe falar de Jesus? Espero que ele não tenha desistido da escola.
Logo no primeiro dia já tem alguns alunos mais velhos escondidos na sombra do estreito corredor entre atrás do último bloco de salas de aula e o muro da quadra, fumando alguma coisa.
Entro na sala de cabeça erguida, pois hoje não tem aula de química. As meninas da fila do canto esquerdo não tiram os olhos de mim. Sei que voltei das férias mais bonito (mesmo sem a ajuda da minha especialista da beleza: a mãe), mas as ignoro. Vim para estudar. E, se aparecer uma oportunidade, evangelizar alguém.
Segundo meu horário desse semestre, apenas precisarei vir à aula de quarta a sexta-feira. Por azar, as meninas, inclusive a Dani, e o Caio estão nas mesmas turmas que eu. Mais um semestre aturando o professor Igor e essas bênçãos!
— Bruninho, que saudade!
Dani arrasta sua carteira ao lado da minha, ignorando a chamada de atenção da professora e minha falta de interesse. Continuo anotando as equações no tablet, pois não posso perder um único assunto. Vou passar com nota alta em matemática também. Minha mãe ficaria orgulhosa.
— Bruninho? Tá sabendo da estreia no cinema amanhã?
— Dani, me dá licença que tô ocupado.
Olho por cima para vê-la retraída. Sei que fui rude, mas ela esquece rápido. Com certeza tentará ficar comigo na hora do intervalo.
Mas não. Vou aguentar firme no meu voto. Deus é comigo, ele sabe o que é melhor para mim. Confio nele.
— Bruninha deve ter arrumado um namorado — diz Caio ao me ver rejeitando a companhia das meninas durante o intervalo.
— Só, irmão — concorda o de cabelo dread, rindo lentamente.
— Não, ele vai virar homem. Ah, vai!
Caio parece bastante determinado nessa frase. Imagino o que ele vai tentar me fazer ver para virar homem. Pelo jeito não será hoje que falarei de Jesus para ele. Vou fugir (do pecado); ir embora por outro caminho, para não encontrar com ele.
Nas últimas aulas as meninas conversam com Caio jogando olhares e sorrisinhos para mim. Penso que estavam planejando algo para me tornar homem. E acerto. Elas me seguem depois da saída. Acelero o passo mas Dani continua me seguindo rápido. Não sei como, mas Caio e outras duas meninas me alcançam pela frente (como rodearam o quarteirão tão rápido?).
— Bruninho, finalmente, agora você não tem pra onde escapar! — diz Dani. O grupo forma uma corrente para me cercar em plena rua. Corro e me abaixo para passar por baixo, mas Caio me segura pela mochila.
— Tá com medo de quê? De Deus te castigar? Cara, é só uma menina. Tá com medo dela? Rapaz...
— Eu preciso ir embora, Caio. T-tenho compromisso. Mas... se vocês quiserem andar comigo, vão na igreja hoje a noite. Ou sábado a tarde.
Sinto escorrendo o suor debaixo dos braços. Foi difícil mas o convite saiu. Chamei a todos para a igreja.
— Só se você ficar comigo — diz Dani tentando me abraçar.
Escapo por baixo do braço dela e saio correndo. Só escuto as risadas dos colegas sumindo ao longe. Deus me ajude!
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Quantas dúvidas
General FictionOs primos Felipe e Bruno tentam vencer os próprios defeitos ao lado de Bia, a obreira perfeita que abre mão da própria felicidade para ajudar os outros, apontando seus defeitos. Seus velhos amigos Meck e Valéria pensam estar bem, mas com as dificuld...