15 - Meck

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Tudo se resume em sacrifício. A família é baseada no casamento, que envolve e é sacrifício constante, assim como nosso relacionamento com Deus.

Ainda acho um pouco pesado essa palavra, mas não posso dizer que o pastor está errado. É verdade o que ele diz, e eu sei como é um sacrifício a construção de uma família. Para começar, primeiro tem a questão de encontrar alguém de Deus, o que não é coisa fácil, ainda mais nos dias de hoje. E além de ser de Deus, precisa ser compatível. Tudo bem, não estou pensando nisso agora, é apenas uma comparação.

Mas outra coisa que o pastor fala é que não é uma obrigação. Sacrificar é algo que parte de dentro do servo que quer agradar seu senhor. Não é para pedir algo, simplesmente. É questão de obediência. Entendo essa parte, mas então entendo que não sou obrigado a entrar nessa campanha que está acontecendo, como todo fim de ano. Nem tenho nada! Meu empreguinho nem me sustentaria se eu morasse sozinho. Sem dinheiro não posso nem pensar em arrumar uma namorada. Isso não é também sacrifício?

Sobre não ser obrigação, parece que nem as obreiras estão nessa campanha. Como poderiam gastar tanto se estivessem com o propósito de colocar seu tudo no altar? Gastando mesmo! Hoje tem algum encontro das mulheres, e a maioria veio para a reunião pronta. O salão da igreja parece um desfile. São dezenas de vestidos diferentes, aparentemente caros e novos. Nenhuma está com algum que já usou antes, pelo menos desde quando venho na igreja. Como era de se esperar, quase nenhum é muito aberto ou justo; são modelos mais formais, mas não deixam de embelezar as pessoas que os vestem. Se eu comprasse um desses gastaria quase todo o meu salário, o que na verdade não valeria a pena, pois nem cairia muito bem em meu corpo masculino, é óbvio. Mas seria interessante ter um, pois são bem bonitos.

Até na roda dos jovens, após a reunião, algumas meninas estão de longos, só que mais simples, no máximo um pouco de renda em um ou outro. Exceto a obreira Bia, que deve estar sacrificando bastante para pagar seu vestido, o mais elaborado entre as jovens, que parece um cetim mais encorpado, dando mais volume na saia e, justo na altura da cintura, deixa a obreira ainda mais bonita. Bom, na minha mente não vejo problema em pensar isso, pois é a verdade. Agora, falar que uma mulher está bonita, isso eu não consigo.

Quando estou saindo da roda, ela me puxa, e o chiffon pendurado no fim de sua manga longa roça meu braço, dando mais um alerta aos meus sentidos que eu não queria ter. Isso só para me lembrar da reunião que eu não gosto. Não falo isso para ela, mas já deve saber que não gosto da Terapia.

Vou embora pensando na questão do sacrifício. Será que Deus quer algo de mim nessa campanha? Penso também nos projetos da FJ. O Comunicação tem muita coisa para se fazer, mas sendo o único jovem aqui no projeto, fico apenas com um ou dois departamentos, deixando várias coisas sem fazer. Consigo fotografar e montar artes e mosaicos, mas fazer reportagens, vídeos e entrevistas não dou conta. Ainda assim tenho algum tempo ocioso, e quero preenchê-lo para não pensar em vida sentimental. Talvez eu entre em mais um projeto. Isso poderia também tirar minha mente da Hanako. Ela está quase se apaixonando por mim! Deve faltar só umas duas decisões para entrar na rota da minha waifu e...

Ah, o que estou fazendo da vida? Abrindo mão da vida sentimental mas tentando conquistar o amor de uma personagem de jogo? Não é um sacrifício inteligente, mas o que posso fazer? No jogo sou um rapaz bonito e devo ter dinheiro, ou pelo menos no jogo o dinheiro não faz diferença em se eu estou pronto ou não para um relacionamento.

Não estou muito bem. No fundo, no fundo, sei que estou errado em me isolar das pessoas reais para me abrir apenas diante da tela do computador. Mas é um jeito de não sofrer no amor na vida real: não se abrindo para ele.

Quantas dúvidasOnde histórias criam vida. Descubra agora