— Viu, Meck, quantos jovens novos vieram essas últimas semanas? Falei com alguns e tem vários que vieram pelo convite no Facebook. Sabia?
Meck acena que não, sem abrir a boca. Como consegue uma pessoa ficar tanto sem falar?
— Mídia tá arrebentando, rapaz — dou-lhe dois tapas nas costas, ao que ele sorri, ainda em silêncio.
Bia chega e cumprimenta o conversador pelo mesmo motivo. Apertam as mãos pouco antes de chegarem três exemplos: um grupo que nunca vimos na praça durante as evangelizações, mas os atendemos e vieram para o Conexão. Bia e eu, pois Meck ainda não consegue chegar nos jovens.
Segundos antes de começar chega uma pessoa que nunca sequer veio na igreja. Ela fica no último banco e de lá vê todo o Conexão com uma criança no colo. Depois de acabar, quando o pessoal vai para seus respectivos projetos, ela se levanta e olha para mim. Eu vou até ela.
— Qual é, Karla? Veio até aqui atrás de mim? Deixa o Paulinho comigo e pode ir. Já falei que não quero nada com você!
Ela mexe os olhos um pouco e começa a rir.
— Você se acha muito, né? Pensa que essas meninas aí vão querer ficar com um moleque como você? Olha elas! Se acham umas princesinhas... E você nem toma banho todo dia!
— Tomo sim... há algumas semanas. Mas e o que você quer?
— Quer saber? Você não vai entender. Homem é tudo igual.
— Tá me chamando de burro?
Karla começa a chorar enquanto levanta a voz e atrai a atenção dos outros, principalmente da obreira. Ela continua falando alto, quase perdendo a razão. Tento cortar a conversa, mesmo com vontade de discutir. O garoto ainda está doentinho.
— Vocês falam tanto de milagre nessa igreja, então por que o Paulinho ainda tá doente?
Que revolta! Levo o garoto até o pastor, fazemos uma oração e voltamos até Karla.
— Pronto! Ele tá curado.
— Mas ainda tá queimando de febre! Não falei?
— É você que sente a febre, mas ela não tá mais no menino.
— Que? Você é maluco! Vocês todos. O menino aí passando mal e... Ah!
Karla vai embora. E espero que não volte mais para perto de mim. Bia corre atrás dela e a alcança, mas as duas não mantém conversa. Karla corre de Bia, que volta triste. Então pego Paulinho no colo e percebo que ele não está mais com febre.
Estamos apenas alguns dos firmes ainda, nos preparando para ir embora, quando o pastor nos chama.
— Quem quer ser obreiro?
Sou o primeiro a levantar a mão. É minha chance de alcançar o nível espiritual da obreira Bia. Assim ela terá mais olhos para mim. E mais importante: ganharei mais almas. Curso de Obreiros chegando, vou me matricular logo. Bia me dá um olhar de dúvida.
— Vai mais que arrebentar! Esse FJ vai explodir! Já tenho até mais um testemunho!
Falo do Paulinho para os jovens, e todos ficam contentes. Isso até me dá mais força para enfrentar a batalha da vida.
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Quantas dúvidas
General FictionOs primos Felipe e Bruno tentam vencer os próprios defeitos ao lado de Bia, a obreira perfeita que abre mão da própria felicidade para ajudar os outros, apontando seus defeitos. Seus velhos amigos Meck e Valéria pensam estar bem, mas com as dificuld...