Hoje não vamos evangelizar. As almas a serem cuidadas são as nossas. A obreira Bia marcou para atender cada jovem hoje. Fico pensando: o que tenho para falar? Nada de importante. O jeito é apenas responder o que ela perguntar.
— Você está bem? Realmente? De verdade?
Ela nem pisca! Está tentando ler meus pensamentos através das minhas retinas. Mas não tenho o que esconder. O que havia de mais secreto em mim já foi mostrado nos teatros. Então permaneço com os olhos fixos nos dela. Por um instante até desvio o olhar, pois ainda é a obreira Bia que está ali; a mesma bela jovem de roupas bonitas e cabelão ondulado (que agora está preto).
— Ah, tô sim, obreira. Na luta, como sempre.
Primeiramente a obreira me parabeniza pelo trabalho no Mídia. É verdade que ele está dando frutos, pois já vieram alguns jovens novos através dos convites pelas redes sociais; mas ainda é muito pouco, e reconheço que poderia dar muito mais. O mesmo para o Cultura, mesmo eu sendo o pior ator daqui da FJ Marazul... e provavelmente de todo o estado!
Família nunca me deu problema. Amo meus pais, eles me amam, nunca brigamos, temos um pedaço do céu em casa. Apenas discutimos um pouco quando falta algo, ou seja, o problema não é familiar, mas financeiro. Mas eu creio que isso vai mudar; não sei como, mas vai. Deus não vai falhar!
Minhas finanças, pessoalmente, estão indo devagar, mas crescendo. Falo para a obreira que logo vou começar meu negócio próprio no ramo de mídia. Ela complementa dizendo que tudo que aprendemos no FJ não é em vão, e Deus honra os que se colocam à disposição. Ela também acredita que Deus está me honrando. Nisso apertamos as mãos.
Enquanto conversamos, não consigo evitar de reparar a mão dela. É a primeira vez que a vejo com aliança de compromisso. Quando penso um pouco no significado, meu coração dá uma acelerada. Eu não queria usar a outra aliança do par, pois se eu tivesse dinheiro para comprar um par de alianças, seria para a Thalia.
— E a vida sentimental?
— Que vida sentimental? — digo tentando disfarçar o baque com um sorriso que certamente está torto.
— E ela?
— Ela quem?
— A Thalia, Meck!
O dom dela de saber o que se passa na mente dos jovens passou dos limites agora! Parece que ela até adivinha pensamentos!
— A Thalia é... uma pessoa legal. Só isso, obreira. Não é... não.
— Vai dizer que você não tá gostando de...
— Eu não.
Essa mentira é pecado? Não posso assumir ainda que gosto dela, pois não tenho condições para casar nos próximos anos. Mas e se vier outro? Será que a obreira pode impedir por mim?
— Bem, já que é assim — ela continua —, olha... eu... tem... tem uma pessoa que gosta de você.
Minha vista embaça um grau, mesmo de óculos, por um instante. Entretanto meu coração não dispara. Está sob controle.
— Mas continue buscando. O Espírito Santo vai te mostrar quem é, e se é a pessoa certa para você, Meck. Não tenha pressa. E venha na Terapia! — Ela não poderia terminar se o insistente convite!
Continuar buscando é o que mais preciso. De que adianta falar para os outros através das fichas de projetos que tenho o Espírito Santo, se eu não der ouvidos à sua voz? Nunca ouvi antes sua voz, será que desta vez ele fala comigo?
VOCÊ ESTÁ LENDO
Quantas dúvidas
Ficción GeneralOs primos Felipe e Bruno tentam vencer os próprios defeitos ao lado de Bia, a obreira perfeita que abre mão da própria felicidade para ajudar os outros, apontando seus defeitos. Seus velhos amigos Meck e Valéria pensam estar bem, mas com as dificuld...