71 - Valéria

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Trocamos algumas mensagens e ficou decidido que o infeliz do meu patrão viria em minha casa hoje para... conversarmos.

— Oi, Val! — diz minha patroa ao lado do velho.

Minha patroa? Ela não deveria estar viajando?

— Oi, dona Carmen. Voltou cedo das férias!?

— Sim, eu precisava ver como está essa lindeza!

Ela aperta as bochechas do Michael, que chora e se esconde em meu colo. Ele também não gosta dos meus chefes. Ela ainda começa a falar sem parar de como devo cuidar da criança. Acha que não sei me virar? Minha casa, minhas regras; cuido do Michael como eu achar melhor. Não é palpite de gente de fora que vai mudar meu jeito de ser mãe.

— Me desculpa, Val, mas você tem um banheiro que eu possa usar?

Nossa, que educadinha! Mostro-lhe o único banheiro da casa, e mal volto para a sala e o marido dela tenta me dar um abraço.

— Sai daqui! Ei, você não falou que ela já estava com você!

— Calma, Valéria. Ela não é nada pra mim. Você que é.

Outra vez sinto minha cabeça dividida em duas. Um lado fica voando, lisonjeada com o comentário; outro tenta erguer meu punho para socar a cara desse infeliz.

— VAZA! — grito ao homem, e o bebê se assusta em meu colo.

— Hã? — resmunga minha patroa chegando atrás de mim. — O que aconteceu?

— Nada — dizemos o marido e eu ao mesmo tempo.

O clima esfria e falamos sobre meu trabalho, principalmente a respeito de conciliá-lo com minha nova vida de mãe. Antes de irem embora, porém, os dois me chamam para jantar fora. Sem Carmen perceber, seu marido pisca um olho para mim. Esse infeliz pensa em transformar esse jantar num encontro a três? Ah, tá! Penso duas vezes, pois a fome é grande, mas no fim rejeito a oferta do casal. Com dor no coração e vazio no estômago.

Não vai dar certo sair com esse homem. Por mais que meu coração queira, foi esse coração que me fez amar aquele vagabundo do Elton. Seguir meu coração? Nunca mais!

Quantas dúvidasOnde histórias criam vida. Descubra agora