Dou uma olhada no telefone depois da reunião para ver porque vibrou tanto. Essa mulher não para de me encher o saco! Karla manda vários áudios falando que o Paulinho está reclamando de dores. Mas ela ficou em casa justamente para resolver isso! Até dei uma cópia da chave da casa para ela cuidar do Paulinho, como tanto ela queria e pedia.
Primeiro atendo à roda dos jovens, grito mais alto que todos os outros juntos, e caminho sob o sol das onze horas da manhã de volta para casa.
— Felipe, não sei o que fazer! Esse seu filho tá chorando de dor e nenhum remédio tá aliviando. Acho que é frescura dele.
Paulinho está fechado, abraçando as pernas, não sofá, e a televisão ligada no desenho do Pica-Pau, como todo domingo cedo.
— Rapaz — digo encarando meu filho —, seja homem! Levanta daí, moleque.
— Papai, cabeça dodói — ele resmunga entre os dentes e de olhos apertados. Que desgraça de doença é essa que não passa logo? Karla me garantiu que Zika não era grave e passava rápido.
— Vem, filhão — pego o garoto no colo, que grita ai —, vamos pro postinho.
Na rua, coloco-o no chão para ir andando, mas ele se recusa. Levamos alguns minutos, mas Karla o convence a andar. Na metade do caminho Paulinho trava e fica dez minutos parado.
Pego o frasco de óleo que o pastor distribuiu hoje na reunião e derramo tudo na cabeça do garoto. O azeite lhe escorre na testa.
— Rapaz, seja homem. Não tá doendo mais, beleza?
— Tá dor sim, papai.
Peço um comprimido de Melhoral para Karla, que me entrega com relutância, dizendo ser inútil. Levanto e o apresento a Deus, e dou para Paulinho tomar. Sem água mesmo. Desta vez ele consegue voltar a caminhar.
E para de novo.
— Você quer me ajudar mesmo, né, Karla? Leva ele então.
Viro as costas e vou para casa. Hoje tem jogo, e não posso perder. Paulinho vai gostar de ficar a sós com Karla. Ele sempre quis uma mãe. É a chance dele ter esse desejo parcialmente satisfeito.
— E aí, Felipão! Hoje é o dia! Barça vai afundar.
Meu vizinho também está se preparando para o jogo.
— Ô, rapaz! Vai afundar na sua cara, só se for.
— E o Paulinho? Ele sempre vê o jogo contigo.
— Ah, ele, ele tá na tia dele. Preferiu ficar na Gi, lá tem doce...
O portão se abre. O vizinho e eu olhamos, e Paulinho entra. Sozinho. O garoto entra e vai direto para o quarto. Sua cara não está mais de sofrido, o que é bom. Karla deve ter conseguido. Ou o Melhoral consagrado. O vizinho me olha com cara de dúvida.
— Fica de boa, cara. Ele sabe o caminho de casa. Deve ter acabado o doce lá na Gi.
Vou para a frente da televisão. Paulinho fica no quarto. Estou tentando ser melhor, mas não adianta nada. Ele continua se isolando. Não deve ser problema comigo, mas essa doença deve estar causando esse afastamento. Esse demônio tem que sair!
Chega uma mensagem no meu telefone.
Zaki (12h42): E aí, Felipe, tudo bem?
Zaki (12h42): Será que dá Barça 3x1? Rsrs
O que esse cara ainda quer comigo? Roubou minha futura esposa e ainda quer ser meu amigo? Vá tomar banho. Dá licença que o jogo vai começar!
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Quantas dúvidas
Tiểu Thuyết ChungOs primos Felipe e Bruno tentam vencer os próprios defeitos ao lado de Bia, a obreira perfeita que abre mão da própria felicidade para ajudar os outros, apontando seus defeitos. Seus velhos amigos Meck e Valéria pensam estar bem, mas com as dificuld...