Quantas dúvidas

39 - Bruno

Termino a última questão da prova e entrego-a ao professor. Em espírito oro com força para Deus abençoar para que eu não pegue dependência. Tá amarrado ficar mais um semestre aturando esse professor Igor.

— Bruno, você sabe quanto precisa de nota para passar?

Aceno com a cabeça, mas o professor me interrompe quando abro a boca para responder.

— Exatamente os quarenta pontos desta prova. Espero que seu deus tenha lhe passado as respostas, pois um único erro é o bastante para nos reencontrarmos nos próximos seis meses.

— Sim, senhor — digo com o respeito que consigo fingir.

Sei que eu deveria ter estudado mais, pois Deus não me deu as respostas. Isso seria colar. Já estou até vendo a guerra que vai ser no semestre que vem. Mas continuo, como bom ator que serei:

— E o senhor pode ter certeza que acertei tudo. Meu Deus não me passou nenhuma resposta, pois ele é justo, e isso seria colar. Mas ele me deu inteligência o suficiente, até mesmo para entender que Ele existe, coisa que muitos não têm cabeça o bastante para entender.

Igor pega a prova com raiva, amassa um pouco o papel, mas mantém a postura. Ele corrige a prova na minha frente, enquanto fico firme, mas tremendo por dentro. Para piorar o suspense, ele não marca se cada resposta está certa ou errada.

— Olha, parabéns, Bruno. A inteligência sua me surpreendeu. Mas você tirou trinta e nove. — Igor sorri maliciosamente. — Tenha orgulho, rapaz. Mais da metade dos alunos não conseguiria tirar nem trinta. Você é muito inteligente e capaz de entender como a realidade é. E no próximo semestre será sua oportunidade para isto. Eu mesmo vou ensiná-lo.

Tá amarrado! Queimado! Peguei dependência por causa de um ponto; um pontinho só. Que professor mais chato.

O pior é ter que lutar mais um semestre para manter a fé, sendo que toda semana virá uma luta em sala de aula. Não contra o professor Igor, mas contra mim mesmo, minha vontade de revidar e defender aquele que não precisa de defesa.

A melhor defesa que eu posso dar é meu testemunho. Eu creio que quando minha amada mãe for curada (não apenas ter a doença controlada, mas realmente curada, mesmo incurável), não vai ter professor, cientista, ateu, nada nem ninguém que possa contestar o poder de Deus.

E aí também toda a turma virá para minha tribo no FJ!