Quando Victor acordou ainda conseguia sentir o cheiro de madeira queimada, e ainda tossia muito. Passou os olhos pelo lugar em que estava, e constatou pela luz nívea e pelas cortinas brancas que dançavam com a leve brisa que jazia em um quarto de hospital. Na mesa de cabeceira ao lado de seu leito, havia um vaso de vidro com algumas flores de camomila nele. Exalavam um bom perfume, e Victor permitiu-se aspirar aquela fragrância.
Piscou os olhos, muito cansado e com dores por todo o corpo. Percebeu que tinha em ambos os braços em uma atadura, além de ter um dos olhos inchados e com coloração púrpura, decerto, pelos dias em que Drongo o torturou, pois lembrava-se vagamente. Tocou a pele do pescoço e notou alguns pontos lá. Mexeu um pouco a cabeça e viu que não estava sozinho, pois no leito ao lado constatou sua doce Vennia adormecida, com ataduras nas pernas e nos braços. Victor esticou o braço, e como as camas não estavam muito distantes, apanhou a mão da moça e fechou-a em um aperto. Sorriu, aliviado por tê-la com vida. Na face da moça, algumas escoriações e hematomas, mas nada que manchasse a sua beleza.
No leito frente ao seu, estava Sophie que aparentava estar muito ferida. Possuía ataduras em ambos os braços e sobre um dos olhos. No momento, dormia serenamente. Pobrezinha, merecia descansar após todo o pesadelo que viveu.
Stefan também estava naquele mesmo quarto, com bandagens e ataduras. Estava acordado e olhava para o teto. Victor esforçou-se para sentar no leito, e ainda sentia os pulmões doerem por causa de toda a fumaça que inalou.
— Devia descansar, Sr. Victor — Stefan falou para ele. O lábio inferior cortado.
— Como viemos parar aqui?
— Um grupo de moradores locais nos viram e se compadeceram. Nos salvaram a tempo.
— Onde está a Srta. Olivia?
— Minha irmã não resistiu a gravidade dos ferimentos — Stefan contorceu o rosto, como se estivesse sentindo uma grande dor. — Veio a falecer.
— Eu sinto muito.
— Olivia tinha sérios problemas. Não a culpo. — Stefan deixou um suspiro pesado escapar. — A culpa é minha por não ter prestado atenção nos sinais. Não fui um bom irmão.
Stefan notou a mão de Victor sobre a mão de Vennia. Não ardeu-se em ciúmes ou mesmo enraiveceu-se.
— Tinhas medo do fogo, não tinha, Sr. Victor?
Victor assentiu, cabisbaixo.
— Então, por que não fugiu do fogo? — Stefan indagou, olhando-o com curiosidade. — Ficou gravemente ferido. Por que tentou salvar Olivia?
— Não podia permitir que aquele pesadelo retornasse novamente — lembrou-se da mãe e dos pais de Vennia a morrerem no incêndio da igreja. — Precisei engoli meus medos.
Stefan ainda olhava para Victor, que continuava de mãos dadas com a adormecida Vennia.
— Realmente a ama — Stefan concluiu por ele.
— Não sei explicar quando comecei a amá-la, mas não quero parar de sentir essa sensação que abrasa em meu peito. Bem sei que ela não me ama, contudo, não importa a escolha que ela faça, ficarei feliz por ela. Somente por Vennia ter compartilhado seus sorrisos comigo, já me sinto um abençoado.
Victor olhou doloroso para Stefan. Aquilo era demasiado difícil para ele.
— Vennia o ama, Sr. Stefan. Tenho certeza de que ela o ama. Sempre me disseram que se amamos uma pessoa, devemos deixá-la livre. Não posso mais prendê-la em uma farsa que perdura por tanto tempo. — soltou delicadamente a mão de Vennia.
VOCÊ ESTÁ LENDO
VENNIA
Historical Fiction❣ Livro vencedor do Wattys2020 na categoria Ficção Histórica. "Nunca confie em um Valentine", esta era a sentença que Vennia Lionheart ouvira durante toda a sua infância. Sua vida aparentava estar ligada por laços inquebráveis com a famigerada fam...