Capítulo 30

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Certo dia, Vennia encontrou sobre a cômoda de madeira de pinho, um lenço de algodão dobrado perfeitamente. Abriu-o com cuidado e deparou-se com um singelo bordado traçado em linha vermelha, e não apenas isto, como o que jazia ali era nada mais e nada menos que o seu nome estampado no tecido. Apertou o lenço contra o peito, jurando que o guardaria sempre junto a si. Contudo, não preocupou-se em saber quem era a pessoa por detrás daquele feito, pois logo julgou como sendo ação de Miriam ou Hope pois uma e outra faziam magníficos bordados.

Brandon havia retornado durante aqueles dias, porém, pouco deu atenção para Miriam. Apressado sugira e apressado se fora. Poucas vezes Vennia cruzara com ele no corredor, e durante estas vezes, o jovem parecia em uma busca inalcançável por Victor. Ademais, logo Vennia percebera que o rapaz também estava metido em uma das tramoias do Valentine de tapa-olho. Ambos eram homens terríveis, de comportamento mesquinho, ingratos e que se mereciam.

Apesar de sua curiosidade que era tão sólida quanto um bastião, Vennia manteve-se resistente em não questionar nada para Victor a respeito das conversas secretas que tinha com Brandon naqueles dias. Aos poucos, Vennia lutava contra os maus hábitos em ouvir os diálogos alheios, mas era um sentimento tão intenso este, em ficar escondida e escutar as vozes sussurrantes e os segredos indecorosos, que ela sentia como se dentro do seu peito, uma súbita flama conseguisse fazê-la arder de dentro para fora, inconstantemente.

Antes de Brandon partir, retornando ao seu regimento, Miriam chorou por horas, quase agarrando-se ao casaco do marido, impedindo-o de ir. Murmurou que sentia-se sozinha, que seu casamento não estava sendo da maneira que imaginara como seria. Entraram em uma grave discussão. Brandon não a confortou ou dissera palavras dóceis que outrora vivia lhe dizendo. De sua boca brotaram sentenças duras e ríspidas, como se aquele homem estivesse possesso e o Brandon de tempos remotos houvesse sido substituído por aquele ser de cerne cruento e olhos que cintilavam a mais pura ira. Restou à Vennia, acalentar a irmã desamparada e desiludida, todavia, Miriam recusou qualquer ato de bondade vindos da irmã mais velha, e trancou-se em seus aposentos, a chorar compulsivamente.

Vennia sentia-se como em uma brava maré, sem conseguir nadar ou mexer qualquer músculo. Miriam era a sua melhor amiga, mas desde então, recusava-se a conversar ou a sair do quarto, afundando-se em uma tristeza imensurável. E aquilo poderia fazer mal não somente à ela como ao seu bebê também. Hope, por outro lado, parecia estar revivendo os dias de sua juventude, sempre com as bochechas coradas sobre a tez engelhada. Os olhos brilhavam debaixo das pálpebras enrugadas, e de quando em vez, Vennia a flagrava a admirar Heron Valentine ao longe, sob suspiros nada castos.

Em uma ocasião, durante uma manhã fria com o céu carregado de nuvens lúridas, assim que Diana e Sophie haviam retornado de sua viagem a Londres — trazendo consigo dois convidados para se hospedarem na mansão —, Vennia depois de muito tempo, fora experimentar o pequeno-almoço na companhia de Victor. Haviam se passado dias desde que eles não trocaram uma palavra sequer, o que deixava toda aquela refeição deveras desconfortável.

Victor sequer tocava na comida a sua frente, optando apenas por uma xícara de chá de canela, enquanto lia seu icônico livro. Entre um mastigar de torradas e outro, Vennia sentiu a abrasante curiosidade em questionar algo para Victor. Era uma pergunta deveras boba, mas que carcomia Vennia com a intensidade de um vulcão.

— Quando nosso acordo se dissipar, Sr. Victor, não pretendes casar-se outra vez, e desta vez, em um matrimônio que seja autêntico?

— Céus, que intimidade é esta? Acaso pergunto tais coisas para ti? Por que essa preocupação tão banal? Acaso está com ciúmes de minha pessoa?!

— Eu? Ciúmes? Lógico que não. Apenas estou preocupada em casar-te logo com uma boa moça, e deixar de vez esta façanha. Sabe, fingir por tanto tempo é cansativo e com o tempo tudo se torna entediante.

— Questiono desde quando somos íntimos para que tu sintas tamanha preocupação.

— Temos uma parceria, Sr. Victor, caso ainda não tenha percebido. E quando acabarmos nossa farsa, almejo ver-te casado com uma mulher decente, e imploro para que não mintas para ela.

— Como se eu necessitasse de conselhos de uma donzela que mal sabe vestir-se corretamente, ou dizer uma palavra sem ter um sotaque campestre fortíssimo.

Vennia queria lhe dizer o quanto aquela sentença repleta de sarcasmo de Victor feriu imensamente seus sentimentos, mas prosseguiu em sua falação, fingindo que ele não havia lhe magoado.

— Como és rude, Sr. Victor — repousou a xícara no pires. — Será possível que não vais me elogiar nem por um momento? Será se não mereço palavras de afago nem um pouquinho?

— Não farei. Desperdiçar tais palavras contigo. Não desejo perder meu tempo com a sua pessoa, Srta. Vennia. Já tenho de suportá-la todos os dias pelos corredores desta maldita mansão. Não me trates como se fôssemos velhos amigos.

— Possui um coração envolto de um pedra de gelo, Sr. Victor, e um coração congelado nunca conhecerá o calor do amor verdadeiro.

— Como se eu acreditasse em amor verdadeiro. Pura bobagem. Deverias preocupar-te com a vossa vida amorosa e esquecer-me. Afinal, suponho que seja mais difícil arranjarmos um marido para ti.

Levantou-se da mesa, a feição fechada em um semblante de raiva, enquanto cada pensamento seu, amaldiçoava aquele homem.

— Idiota! Sr. Victor, você é um idiota! E eu o odeio.

A ala escura e fria pela qual Vennia guiou-se a levaria para seus aposentos. Desde pequena, imaginou que talvez quando crescesse, sua vida fosse se transformar em um fabuloso conto de fadas. Naquele momento, estava a tornar-se um inferno. Ela não amava Victor, e Victor não a amava. Sacrificou-se, pela então felicidade de Miriam. Não o suportava, e odiava aquele homem com todas as forças.

Era típico que aquele tipo de coisa inexplicável acontecesse à ela. Em um dia, ganhava esperanças, e noutro alguém sempre a despedaçava, destroçando seus sonhos. Vennia sentia que a família Valentine, juntamente a Victor, sugava suas forças e a sua fé. Almejava mais que tudo que o abraço amigo de Stefan a confortasse, que estivesse presente para lhe beijar a testa, afagar seus ombros, e lhe dizer que tudo ficaria bem. Mas não seria da maneira que Vennia imaginava. Seu único consolo era somente imaginar que o dia seguinte seria melhor.

Sentiu o seu braço ser puxado para a escuridão da ala e como se tivesse visto um fantasma do passado, sua boca imediatamente abriu-se para despejar um grito álacre na mesma intensidade que os olhos ficavam marejados. O sorriso do homem que havia a convidado para a escuridão, desenhou-se no rosto de poucas sardas, enquanto Vennia admirava mais uma vez, ainda não crendo, que aqueles magníficos olhos esverdeados tinham a sua atenção, mais uma vez.

— S-Stefan!



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Então, amorinhas, estou muito doente. 😷🤒. Febre, dor de cabeça, dor no corpo, tosse seca... já tomei remédio, mas ainda continuo indisposta. 

Até outro dia e orem pela minha melhora. Amo vocês.


VENNIAOnde histórias criam vida. Descubra agora