Capítulo 19

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Miriam experimentava o vestido de noiva, aborrecida. O modelo da qual baseou-se a costura de seu vestido tinha a silhueta menor que a dela. Desfilava pela sala da casa, fumegando de ódio, pondo mil defeitos no tecido que cobria seu corpo que agora estava duas vezes maior.

— Estou gorda. — chorava, tirando a tiara com véu da cabeça, descabelando os fios dourados de sua cabeça. —  O vestido mal cabe em mim. Odeio esta cor. Odeio estes enfeites. Odeio tudo isto. Pinica-me, aperta-me. Por que essas coisas sempre acontecem comigo?

Vennia somente observava tudo. Os hormônios da gravidez estavam afetando-a. Resolveu que não replicaria Miriam, e ao invés disso, deixou a irmã sufocando-se em suas próprias contestações. Tocou o véu, apreciando a renda que a avó havia costurado com tanto carinho. De fato, Miriam nada valorizava ou elogiava. Voltou a bordar a barra do vestido da noiva.

Um gritinho ecoou pela sala, quando Miriam olhou para além da janela. Deu pulinhos, alucinada.

— Oh, uma carruagem! — Miriam exprimiu, afoita. — E é dos Valentines! Será o Sr. Brandon? Se for ele, não deve-me ver com o vestido de noiva antes do casamento. Dá azar.

Hope abriu a porta, e de fato, havia um homem da família Valentine, mas não era Brandon.

— Bom dia, senhora. — Victor entregou um buquê de margaridas para Hope.

— Oh, muito obrigada, meu jovem. — Hope ficara corada com o gesto.

— A Srta. Vennia está no momento? Gostaria imenso de falar com ela. — a voz de Victor podia ser impressionantemente dócil, isso quando fingia com zelo.

 Oh, sim. — Hope até mesmo ficou atordoada com a gentileza do rapaz. — Tens visita para ti, Venni querida.

Vennia deixou o bordado de lado e fora atender a porta. Quando viu Victor, sua ansiedade transformou-se em repentina ânsia.

— Sr. Victor — fizera uma meia reverência a contra gosto.

— Srta. Vennia. — falou, friamente.

— A que devo a honra de sua visita? — cruzou os braços, um pouco irritadiça.

Inclinadas, com os olhos arregalados com a presença daquele homem, estavam Hope e Miriam, que possivelmente, após a ida dele, dariam início a uma onda de cochichos e estrondosas fofocas.

— Podemos conversar em um lugar mais reservado? — Victor murmurou. Sentia o olhar de Miriam e Hope queimarem em suas costas.

— Vamos para a cozinha, então?

— Não. — Victor pôs a mão sobre a testa, com medo de ter outro ataque acaso contemplasse um resquício de fogo. — Para a cozinha, não.

— Tudo bem. — Vennia ficou atenta aquilo. Ele havia demonstrado a mesma reação frente ao tabelião. — Vamos aos meus aposentos.

Guiou para a parte leste da casa, abrindo a porta do quarto, induzindo-o a entrar.  

— Convidas um homem ao seu quarto, senhorita?

— Pelo que sei, nos casamos semana passada, queridinho — sussurrou para que a avó e a irmã não a ouvisse.

— Não fiques tão convencida, querida. — replicou.

Vennia sentou-se na beira da cama, esperando Victor falar. Porém, ele parecia mais atento em vistoriar o quarto da moça. Pegou-se de surpresa, era tudo deveras alvo e absterso. Notou na mobília, recém polida e na cama com dossel, os lençóis jaziam bem dobrados. Testemunhou logo que aquela humilde moça era francamente fascinada por limpeza.

— Seria melhor retirar o tapa-olho para ver melhor. — Vennia avisou-o, com um risinho sarcástico estampado no rosto.

— Que criatura irritante. Apenas ia elogiar o vosso lar. É realmente um lugar muito limpo. 

— Só porque moro em um casebre no bosque não significa que a minha casa seja um chiqueiro, Sr. Victor. — Vennia dissera, sendo descortês.

— Em minhas ilusões, achei que a sua casa seria cheia de patos e galinhas sobre a mobília ou com porcos a passearem pelos corredores.

— Pensastes errado. Criávamos apenas uma vaca e um asno, mas tive que me desfazer deles.

— Por quê?

 — Porque não tínhamos condições em mantê-los. Por que veio aqui? Não foi para revistar o meu quarto, foi? — levantou-se, indo até a janela.

— Não. — dissera, aproximando-se sutilmente dela.

— Então, o que queres? — virou-se para ele, encarando-o.

— Comprei isso para você. — pôs a mão dentro do casaco e entregou-lhe um embrulho.

— O que é?

— Abra-o.

Abriu o embrulho e Vennia deparou-se com um fino tecido de vestido.

— Comprou um vestido para mim? Um vestido... — Vennia sorriu consigo mesma. E era uma peça, em verdade, bonita. Era um vestido simples, mas muito belo, tingido de lilás com algumas flores brancas bordadas na barra do mesmo.

Talvez, Victor fosse gentil.

— Amanhã é o casamento de vossa irmã, então pensei que... — Victor deteve-se em seu falar.

— Pensou que...? — Vennia queria que ele completasse a frase. Ansiou para que ao menos, uma vez na vida, ele fosse afável.

— Pensei que... — desviou o rosto, do olhar dela cravejado na face dele.

Vennia se mordia por dentro. Oh, céus, que ele fosse amável. Haveria um coração mole debaixo daquela carapaça?

— Pensei que comprando isto, deixaria de andar com esses trapos. Deus, não acredito que apresentou-se perante ao tabelião vestida com isso. Não sabe a vergonha que senti. — Victor apontou para as roupas de Vennia. — Para alguém que é fascinada por limpeza veste-se excessivamente mal.

Jogou furiosa o embrulho com o vestido sobre a cama.

— Recuso este presente vil. Comprastes este vestido apenas com a intenção de humilhar-me.

— Vejo que não ganhas muitos presentes, não estou certo?!

— Não vou usá-lo, Sr. Victor. Se é isso que pensa das minhas vestes, farei questão em trajar somente os meus trapos para tão somente aborrecê-lo. Você não é o meu mestre, e muito menos é o meu marido, e ordeno que saia do meu quarto e de minha casa.

— Faça o que quiser com o vestido. Ao menos estou fazendo a minha parte.

Olhou para o vestido sobre a cama. O presente de Victor era docemente nada.

Vennia, naquele dia, sentiu-se esnobada por Victor Valentine, mas de forma alguma deixaria aquele pequeno empecilho abatê-la.


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