— Obrigada por cuidarem tão bem de mim — a moça abraçou o Sr. McBride e a Sra. McBride.
— Não se esqueça de nós, Rosie querida. — a Sra. McBride afagou o rosto da donzela.
— Não se preocupem, escreverei para vós assim que puder. — abraçou-os outra vez.
Após esperar a moça se despedir do casal que cuidou dela por tanto tempo, Victor abriu a porta da carruagem para ela, e esperou-a entrar, enquanto ela dava uma última olhada para trás, incerta do futuro que a esperava.
— Quero guardar cada detalhe em minha mente — ela disse. — Quero lembrar-me dos rostos do Sr. e da Sra. McBride, quero lembrar-me do cheiro das flores, do canto dos pássaros, e nunca esquecer-me dos bons momentos que aqui vivi.
Encerrou seu monólogo, e acomodou-se no assento, enxugando as tímidas lágrimas. Acenou, mais uma vez, para o casal McBride.
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— Não gostas de prosear, Sr. Victor?
— Creio que eu seja melhor ouvinte que um tagarela. Mas, se tiver algo a perguntar, não hesitarei em responder.
— Então, conte-me, Sr. Victor. Almejo ter respostas para os anseios de minha alma.
Victor deu total atenção para a moça, tentando encontrar as palavras certas.
— O que queres saber?
— Eu tenho pai e mãe? — perguntou, tímida.
Victor engoliu a seco. Passou os olhos da moça para a janela, almejando fugir daquela pergunta.
— Sinto muito. És órfã, senhorita. Seus pais... faleceram no incêndio da igreja de Santa Cristina — cravou as unhas nas palmas das mãos. Refletiu se deveria deixá-la a par de tudo. — Incêndio este, causado por mim, quando eu era criança.
A boca da moça estava semiaberta. Esboçava um certo espanto, embora seus olhos não estivessem marejados.
— Tenho certeza de que não fizeste por mal. Afinal, como confessaste, era apenas uma criança.
— Não terás rancor por mim?
— Não. Mesmo sem saber dos detalhes, acredito que eu tenha o perdoado.
— Irônico! Também me perdoaste antes, quando soube do ocorrido com vossos pais.
— É o certo a ser feito — lançou um sorrisinho para ele, e logo voltou-se para a janela, arrumando o xale sobre os ombros.
Depois, passaram o resto da viagem, presos em um silêncio estranho.
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Ao chegarem em Londres, Victor contemplou a donzela ao seu lado ficar deslumbrada. Ela logo assustou-se com o barulho de um trotar incessante dos soldados que ali passavam, e agarrou-se, assustada, no braço de Victor.
— Está tudo bem, senhorita?
— Sim — respondeu, a mão sobre o peito, a respiração acelerada. — Só não estou acostumada com tanto barulho e agitação.
Victor pôs a mão sobre a dela, permitindo que os braços ficassem entrelaçados. O dedo polegar dele fazia pequenos círculos sobre o dorso da mão da moça, como se naquele mero afago, tentasse acalmá-la.
— Vamos?
Ela anuiu, muito resoluta. Cruzaram a rua, rumo em levá-la para ver a sua família.
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VENNIA
Historical Fiction❣ Livro vencedor do Wattys2020 na categoria Ficção Histórica. "Nunca confie em um Valentine", esta era a sentença que Vennia Lionheart ouvira durante toda a sua infância. Sua vida aparentava estar ligada por laços inquebráveis com a famigerada fam...