As fofocas a respeito do filho de Brandon Valentine haviam se espalhado com surpreendente velocidade pelos vilarejos de Hampshire. Na boca de todas as jovens senhoritas solteiras e das senhoras casadas, ressoavam a notícia do nascimento da criança, e uns cogitavam até mesmo que o bebê fosse prematuro, vide a brevidade da gravidez da esposa de Brandon, o que era apenas uma falácia por não saberem a devida verdade.
Naquela manhã, todos os membros da família Valentine (com exceção de Victor) fizeram-se presente na igreja, para o batismo* do pequeno Matt, que havia completado uma semana de vida. Aquela deveria ser a primeira vez que Brandon ficara a par de conhecer o próprio filho, embora estivesse íntimo ao ponto de segurar o bebê de bochechas rosadas envolto em várias mantas, em seus braços. Alheia ao marido e mantendo-se orgulhosa por ser uma Valentine, Miriam exibia um largo sorriso no rosto, muito pomposa em seu vestido brocado. O mesmo não podia ser dito do seu esposo. O semblante de Brandon não era dos melhores. Haviam profundas marcas arroxeadas abaixo de seus olhos e o seu rosto estava contornado por pelos ariscos e petulantes, deixando-o ainda com uma expressão cansada. O que ninguém sabia era o fato de Brandon estar apostando escondido, deliciando-se com a falsa ideia de liberdade enquanto desventurava-se em tabernas. Sim, ele não deixara a vida de jogatinas, mas pouco se sabia se o rapaz ainda esbanjava-se com suas amantes. Se a pobre Miriam soubesse de tal façanha do marido seu coração se quebraria em tantos pedaços que se tornaria muito difícil de restaurá-lo.
Brandon estava ficando sem dinheiro, gastou tudo o que tinha com noites boemias regadas a apostas com intenção de lucrar mais e mais ouro, mas disso não arrependia-se. Ficou pálido, antes de entrar na igreja, quando contemplou a esposa e a mãe, lado a lado. Ora, de fato Diana mantinha-se orgulhosa e tornou-se uma avó deveras presente e próxima de seu neto, sempre a ninar e a acalentar Matt em seus braços com um sorriso largo no rosto, mas murmurava quando o devolvia para a mãe.
Prosseguiu-se o batismo, o bebê fora imerso e logo o padre abençoou. Miriam entrou em júbilo enquanto ninava o filho nos braços, e Brandon continuava indiferente com a criança, pois o via apenas como um grilhão que o prendia naquele casamento aborrecido.
Ainda naquela mesma igreja, haviam outras pessoas presas em seus próprios mundos, absortas ao batismo que ocorria. Heron jazia obstinado a contemplar Hope, sentada algumas fileiras a frente, com a sua neta, Vennia. Oh, Heron sabia que já não era mais o mesmo jovem de outrora, porém quando avistava Hope, seu coração acendia em chamas apaixonadas, transformando todo o seu cerne. Sentia-se vívido outra vez. Mas ela já havia dado tantas nuances de que estava rejeitando-o. E ele não poderia culpá-la, afinal, ele era culpado por metade de sua angústia. Hope já havia sofrido muito com a morte do marido e do filho, e mesmo que Heron desejasse com todas as forças para que o passado voltasse, para que os dias felizes com cheiro de frangipani regressassem, a imagem da noiva desolada a esperá-lo debaixo de uma forte chuva, jamais se extinguiria de sua mente. Por conta de tais pensamentos angustiantes, Heron deixou-a por hora, com a crescente angústia do passado em sua memória.
Vennia testemunhara o quanto Miriam aventurou-se em experimentar uma dezena de vestidos, ansiosa para aquela ocasião. Viu a irmã tocar a sineta uma centena de vezes, a reclamar com as criadas pela costura dos vestidos, por estarem folgados demais, ou simplesmente porque a cor não lhe agraciava. Tudo isto para ficar bela ao ponto de captar a atenção de Brandon. Vennia revirou os olhos diante de tamanha bajulação da irmã pelo marido cafajeste. Havia ela esquecido das lágrimas que derramara por ele? Deixou-a com as criadas que cercavam Miriam com fitas, rendas e tecidos. Mas ali, na igreja, Vennia podia dizer com todas as letras que a sua irmã continuava surpreendentemente linda.
Muito estranhou que naquela manhã, Victor estava desaparecido. Suspirou de alívio. Ele já havia confessado uma vez que odiava casamentos, decerto, odiava batismos também. Vennia respirou profundamente e sentiu as bochechas queimarem quando avistou Stefan, na fileira vizinha. Pensou em ir até ele e conversar, mas logo refreou tal pensamento, pois sempre que encarava Stefan, suas pernas tremiam, suas mãos suavam e sua boca fazia questão de traía-la, enchendo-se de tolas palavras.

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VENNIA
Ficción histórica❣ Livro vencedor do Wattys2020 na categoria Ficção Histórica. "Nunca confie em um Valentine", esta era a sentença que Vennia Lionheart ouvira durante toda a sua infância. Sua vida aparentava estar ligada por laços inquebráveis com a famigerada fam...