— Srta. Vennia — Victor a interceptou assim que ela saiu do quarto. — Teria um minuto de seu tempo para conversarmos.
Vennia assentiu. Por dentro, mui irritadiça. Seguiu os passos predicados de Victor, e adentraram em uma sala com vidraças mui enegrecidas, escondidas por cortinas vermelhas, que Vennia não mais atreveu-se a encarar pois lhe arrepiava os pelos do corpo. Por seu intenso medo do fogo, qualquer ínfimo tamanho que fosse ele, Victor optou por abrir as cortinas e as janelas para iluminar o lugar e ambos foram abençoados com a luz da enorme lua cheia. Ela notou os móveis, tão lustrados e limpos que chegavam a brilhar naquela luz do belo luar. O que mais tomara sua atenção naquela sala tão ilustre, fora o piano de cauda abandonado em um canto. Logo, Vennia notou que jamais havia entrado naquela sala antes. Haveriam tantos quartos não-descobertos por ela na mansão?
Como jaziam sozinhos, Vennia tratou de desabafar. Como aquele homem ousava ainda falar com ela, como se nada tivesse acontecido na campina? Irritou-se ao ponto de querer socá-lo.
— Estava querendo me matar? — Vennia tratou de disparar, furiosa.
— Eu? Apenas queria que aquele jovem cavalheiro lhe notasse.
— Pois saiba que eu quase morri. Pensei que o cavalo fosse me derrubar e machucar-me gravemente.
— Bom, nada disto aconteceu. E no lugar, fostes acalentada pelo teu amado. Acredito que eu mereça os devidos agradecimentos.
Vennia cruzou os braços e franziu o cenho.
— Oh, certo, desculpe-me pelo susto desta manhã. Vamos esquecer disto, sim? Gostaria de uma bebida quente? — Victor sugeriu. O rapaz parecia até mesmo bem mais a vontade, pois até o tom de sua voz era mais afável. — Está um clima bem frio.
— Adoraria um chocolate quente — Vennia abraçou o próprio corpo.
— No momento, só temos chá escocês. — por um milésimo de segundo, Vennia tivera a ilusão de que Victor sorria. — Gostaria de um chá escocês, Srta. Vennia?
— Oh, sim, por favor. Com bastante canela.
— Gostas de chá escocês, senhorita? — indagou surpreso.
— Amo todo tipo de chá, Sr. Victor — Vennia apertou o copo em suas mãos. — Quando eu era pequena, fingia que tomava chá com a rainha. Montava uma espécie de banquete feito de bolo de lama, óbvio que o bolo era apenas para enfeite, e pedia para a minha avó ferver água e fazer chá de canela para nós. Minha irmã e eu íamos para a varanda, e enfeitávamos tudo com flores e gravetos. Miriam era a minha convidada de honra, e eu, a anfitriã. Eram tempos bons, em que Miriam e eu éramos unidas. Perdoe-me por estar enchendo vossos ouvidos com estas minhas histórias passadas. Creio que deva preferir o silêncio a minha voz.
— Detesto o silêncio — Victor confessou. — Quando minha mãe era viva, lembro-me bem, nossa casa era cheia de sons e cores. Mas quando ela se foi... tudo tornou-se monótono, melancólico. Cinza! Tudo perdeu, aos poucos, o brilho da alegria.
— Muitas pessoas preferem o silêncio. Acho estranho que preferias o contrário.
— O silêncio foi tudo o que eu tive em minha vida. Pessoas ignorando-me, pessoas que recusavam-se a falar comigo, e a imensa solidão que passei no... — Victor interrompeu-se. — Enfim, por mais estranho que pareça, com o tempo, você passa a sentir falta de uma voz humana por perto. E, principalmente, sinto falta da voz da minha mãe. Aos poucos, estou esquecendo de como ela era.
A jovem muito ingênua, imaginou quantas histórias pitorescas haveria Victor, revivido. Imaginou a Sra. Alana Valentine a esbanjar beleza e graça nos bailes, sendo admirada pelo filho quando criança. Certamente, histórias que fisgariam a sua atenção.
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VENNIA
Ficción histórica❣ Livro vencedor do Wattys2020 na categoria Ficção Histórica. "Nunca confie em um Valentine", esta era a sentença que Vennia Lionheart ouvira durante toda a sua infância. Sua vida aparentava estar ligada por laços inquebráveis com a famigerada fam...