Capítulo 8

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Vennia não era uma moça que possuía valiosa paciência. Verdadeiramente, nunca fora uma donzela paciente, e o fio de sua paciência parecia extinguir-se com Miriam, ao seu lado, murmurando ou reclamando enquanto buscavam por tecidos e fitas para costurar os vestidos nas lojas simples que haviam naquele vilarejo.

— Esse lugar muito assemelha-se a um chiqueiro. Há galinhas por todos os lados. Não se vê esse tipo de coisa em Londres.

— E como sabes? Acaso já fostes lá? — Vennia replicou, irritada.

— Uma de minhas amigas, Sabrina, disse-me este fato. Ela passou uma temporada inteira em Londres e contou cada detalhe com vivacidade. Disse-me que Londres é um lugar apenas para pessoas benquistas e com muito ouro. 

— Isso parece-me palavras de uma pessoa presunçosa.

— Não diga que minhas amigas são presunçosas. Por isso não tens amigos, Venni, e teu único amigo deixou-te. Está sempre deprimida, com esse olhar abatido e ombros caídos. Pessoas não gostam de donzelas tristes.

Vennia pensou em respondê-la, mas viu que seria somente uma perda de tempo. Miriam era jovem e tinha tendência em dizer bobagens antes de refletir uma centena de vezes.

Escolheram alguns tecidos e Miriam somente a atrasava, pois estava indecisa com as fitas.

— Apressa-te, Miriam, ainda tenho de comprar maçãs, rabanetes e batatas.

— Estou cansada de comer batatas. Todos os dias comemos batatas. Daqui a pouco, estarei me tornando um tubérculo de tanto comê-los. — Miriam dissera, enojada.

— Bom, se está cansada de comer batatas, deveria trabalhar para comprar aquilo que gosta, não achas?

— Trabalhar? — fizera uma careta de nojo. — Escolho antes casar-me com um homem muito rico, que me mimará com luxos e presentes até o resto de minha vida.

— Oh, Miriam querida, por que não pensa antes de falar? Dizer tudo o que pensa é rude, na maioria das vezes. E trabalhar não é nenhuma vergonha. Vergonhoso seria viver debaixo das asas de outras pessoas, sendo uma parasita.

— Ah, sabe como eu sou, irmã. Quero ir a cidade, participar dos bailes, e divertir-me. — Miriam agitava as fitas nas mãos, andando de costas, acabando por tombar em alguém, tropeçando na barra do vestido.

Era um soldado, vestido de vermelho, em que Miriam esbarrou. O rapaz, com seu sorriso puxado em um canto dos lábios, pegou Miriam pelos ombros, impedindo que a moça caísse ao chão. Ambos perderam-se em olhares por um bom tempo, e Vennia observando aquela cena sob um silêncio estranho.

— Desculpe... — Miriam sussurrou, petrificada.

— O erro foi meu, cara donzela. Que pecado o meu, esbarrar nesta flor de beldade.

Assim que ele retirou o chapéu preto de pluma branca e revelou sua identidade, Vennia reviu seus medos voltarem com força. 

— Brandon Valentine. — reverenciou, o cabelo branco perfeitamente alinhado, com o rabo de cavalo caindo sobre o ombro, amarrado por uma fita de cetim preta.

— Miriam Lionheart. — ofereceu a mão ao rapaz.

— Miriam, Miriam, Miriam... Bonito nome. Soa como uma poesia lírica.

Ele era um Valentine. Brandon Valentine, soldado do segundo batalhão do regimento de infantaria, tinha seus vinte e um anos, alto e formoso como se o rosto houvesse sido esculpido por uma horda de anjos. Sua voz tinha um timbre sedutor, como se forçasse para alcançar aquele tom.

VENNIAOnde histórias criam vida. Descubra agora