Conforme passava os dias ao lado de Stefan, mais e mais os sentimentos pelo seu amigo cresciam. No princípio, achou ingênua que aquelas emoções fossem parte da gratidão por Stefan ter salvo a sua vida, mas logo pôs em sua mente que tratava-se seriamente de amar Stefan. E o que entendia sobre o amor sendo que tinha apenas oito anos? Ora, nem ela mesma sabia. Tampouco era perita nesta área, apenas tinha conhecimento de que toda vez que seus olhos deparavam com os calorosos olhos esverdeados de Stefan, suas bochechas tornavam-se rubras, suas pernas ficavam fracas, suas mãos suavam, sentia-se uma boba toda vez que abria a boca para dizer algo.
— Passas o dia todo nesta janela suspirando, minha menina. — Hope colocava os pratos na mesa.
— Stefan está atrasado. — Vennia bufou.
Hope sorriu. Ah, a juventude impaciente, o florescer da paixão. Pobre de Vennia que não sabia a razão de tal sensação tão constante que aquecia seu infante peito, ansiando em ter o amigo repetidamente perto de si. Contava os minutos para passear pelas pradarias — porém, durante aqueles dias, o garoto jazia sumido como fumaça.
Quando escutou o assobio de pardal, o coração da pequena Vennia alegrou-se ao ponto de um sorriso esticar-se em seu rosto. Era Stefan. Apressou-se em assobiar de volta, para que ele a ouvisse, mas com seus lábios secos o som falhou miseravelmente em sair de sua boca, tomando forma de um silvo desafinado. Despediu-se da avó, e daquela vez, não precisou livrar-se de Miriam que por muitas vezes disparava atrás da irmã, seguindo-a. Vennia não necessitou confabular ou queixar-se, para despistar a curiosa Miriam, pois a menina estava encantada pelo chá de canela com biscoitos regados a geleia de morango.
— Esteja aqui antes do entardecer — Hope avisara Vennia, enquanto desfrutava de uma xícara de chá.
Vennia comeu um ou três biscoitos, a mando de sua avó, e então saiu. Stefan que a esperava debaixo da cerejeira, sentado rente as suas raízes, com uma folha verde próxima aos lábios, soprando-a, formando música daquele instrumento tão insólito.
— Olá, Venni. — Stefan cumprimentou a garota, que acenou para ele.
— Estávamos comendo biscoitos com geleia de morango e tomando chá de canela. Não gostaria de tomar um pouco?
— Creio que não. Minhas condições não são as melhores. — apontou para si, as bochechas sujas, as vestes encardidas, fora o cheiro forte e pertinente de suor.
— Stefan, está com o rosto coberto de fuligem! — Vennia imediatamente pôs a mão no bolso do vestido, em busca de um lenço. — Aqui. Tome.
Recebeu o lenço, e juntos, começaram a caminhar pela várzea.
— Obrigado, Venni — limpava o rosto com o lenço da amiga. — Estive trabalhando na casa do Sr. Sullivan estes dias. Ele possui muitos cavalos e ovelhas. Meu trabalho é colocar lenha em um forno gigantesco. Sei que é arriscado, mas ele me paga muito bem pelo serviço.
— Mas por que você estaria trabalhando, Stef? É só uma criança.
— Preciso de dinheiro. Logo terei doze anos, e terei de me virar por conta própria no... — impediu-se de continuar falando. — Além do mais, eu aguento o serviço. — mostrou um de seus encantadores sorrisos que Vennia não resistia.
— Eu posso ajudá-lo na casa do Sr. Sullivan, o que achas? Posso ajudar nas tarefas de colocar a lenha no forno assim como você.
— Sua avó não iria gostar nada da ideia.
— Tem razão. Pobre de mim. Gostaria tanto de te ajudar.
— Venni, não pensas em ser educada para se tornar uma dama?

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VENNIA
Ficción histórica❣ Livro vencedor do Wattys2020 na categoria Ficção Histórica. "Nunca confie em um Valentine", esta era a sentença que Vennia Lionheart ouvira durante toda a sua infância. Sua vida aparentava estar ligada por laços inquebráveis com a famigerada fam...