Capítulo 60

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ALGUNS ANOS DEPOIS...



Coisas boas aconteciam em agosto. E Victor tinha plena certeza de tal sentença enquanto permanecia deitado debaixo do salgueiro-chorão, na bela e vasta campina que apenas Hampshire poderia oferecer, com flores ametistas a brotar. Tinha a cabeça da esposa repousada sobre seu peito, a ler um livro para ela, sua voz soando como notas musicais. 

— Não seja malvado, Victor. Conte-me o fim da história.

— Detesto finais, meu amor. Você bem sabe.

Vennia apoiou-se nos cotovelos, indo de encontro aos lábios do marido. Um beijo cálido e leve. Momentos de fleuma como aquele, antes eram raros na vida de Victor, e agora, aquela era a sua vivência. 

Havia calmaria depois da tempestade.

Na campina, seu filho, James, um intrépido garotinho de cinco anos de vastos cabelos escuros e cintilantes olhos castanhos, brincava com os cachorros, em meio as flores ametistas. 

— Venha, mamãe! Brinque comigo e com a Floreta e o Buddy. — James referia-se aos cachorros.

— Estou indo, Jim — Vennia salpicou um beijo na bochecha de Victor e foi até ao filho, brincar com ele.

Ao longe, na campina, Victor avistou um senhorzinho com uma ovelha ao seu lado, já muito crescida e incapaz de ser carregada. Afastou-se um pouco da esposa e do filho e foi falar com o misterioso ancião.

— Então, meu filho, achaste o teu caminho? — indagou o senhorzinho.

— Posso dizer que estou em paz comigo mesmo. Perdoei e fui perdoado. Já não me encontro mais com rancor ou ódio.

— É muito bom ouvir isso. Sinto que não carregas mais nenhum peso em teu coração. Minhas felicitações — o senhorzinho afagou a cabeça de sua ovelha.

— Nunca me disse teu nome, caro senhor. E nunca o agradeci de forma apropriada, pois teu precioso conselho levou-me para minha esposa. 

— Como eu lhe disse, tenho muitos nomes.

Victor sorriu, abanando a cabeça. Aquele senhor era deveras misterioso, mas de alguma forma, fazia-o sentir-se em paz.

— Com quem está conversando, meu amor? — Vennia indagou, ao longe, ainda brincando com James.

— Estou conversando com... — mas Victor refreou-se no que ia falar. 

Assim que volveu-se para o senhorzinho, ele já havia partido levando consigo a sua ovelha. Victor estava grato por tudo que Deus havia lhe dado naqueles tempos. Tropeçou em tantos espinhos e pedras, enfrentou terríveis tormentas, mas no fim, vivia em harmoniosa bonança.

Quando, por fim, o sol conduziu-se por detrás da nuvens, o casal soubera que era hora de voltar para casa. Victor logo chamou o filho e pegou-o em seus braços. Vennia apanhou os sapatos, andando descalça na grama. Abriu os braços, sentindo a brisa no rosto, os cabelos dançando com o vento. James, nos braços de Victor, fizera o mesmo gesto.

— A mamãe parece que vai voar. 

— Isso porque, Jim — Victor sussurrou para o pequenino, — a mamãe, na verdade, é um anjo.

— O que tanto sussurram? — Vennia voltou-se para o marido e para o filho, com um sorriso largo.

— Nada — responderam, cúmplices, em uníssono. 

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