Capítulo 14

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A fúria e irritação retornaram quando Vennia encarou os portões da família Valentine. Estava tão furiosa que sequer conseguia raciocinar corretamente. Como entraria naquela mansão? Como falaria com Brandon? A vontade de estrangulá-lo era enorme. Era óbvio que ele abandonara Miriam. Miserável! Vennia mordeu os lábios de raiva. 

Mas precisava ser sensata, ninguém a ouviria. Quando pensou em desistir, uma voz a chamou.

— Ei, menina das flores, aonde pensa que vai? — uma das criadas a interrogou.

— Quem? Eu?

— Acaso não trabalha aqui na mansão dos Valentines?

Vennia pensou um minuto. Talvez fosse a sua chance.

— Sim. — dissera, não muito convincente. 

 — Entre. Os Valentines querem o chá servido dentro de cinco minutos. — abriu os portões. — Aproveite e decore os vasos com estes crisântemos que colhestes. E que vestes são estas? Trate de usar o vosso uniforme.

Vennia adentrou a mansão, e esgueirando-se para que não fosse pega em flagrante. Se descobrissem sua mentira, seria presa e mandada para um calabouço fétido. Encontrou os Valentines, a tomarem chá em uma estufa com plantas secas e murchas, o cinza alastrando-se pelo ambiente. Entrou no cubículo de vidro, expirou corajosamente, e então sorriu para todos ali presentes. 

Ali jaziam Heron, Diana, Kairus — oh, este lhe causava um arrepio na espinha, por conta do evento em que soltara cães furiosos para cima dela e de seu amigo —, Sophie, Lewis e Brandon. Victor não tomava chá com eles naquele momento (por razões óbvias), e preferiu ficar em seus aposentos, afastado de todos.

— Boa tarde a todos. — Vennia dissera calmamente. Focou os olhos em Brandon. — Olá, Sr. Brandon. Ainda lembra-se de mim?

Brandon cuspiu o chá, atordoado.

— Achou que poderia brincar com os sentimentos de uma pobre e órfã camponesa, e se safar dessa? — Vennia permanecia com seu sorriso estranho no rosto.

— Quem é esta mulher, meu filho? — Diana o puxou de lado. — O que fez à ela?

— Eu nunca a vi, mamãe. — Brandon agitava as mãos, com desdém para a moça parada na porta da estufa. — Não faço ideia de onde surgiu esta louca.

— Uma palavra, Sr. Brandon Valentine, uma só palavra — Vennia exprimiu entre dentes. — Miriam! Não te recordas deste nome? Neta de Hope Lionheart. Prometeu-te casar com minha irmã.

— Brandon! — Diana alarmou-se, levantando-se de uma vez da mesa. Sophie ficara pasma.

— É mentira! Mamãe, eu nunca vi essa mulher na vida. — Brandon mantinha-se cínico.

 Miriam está grávida e você é o pai — Vennia dissera aos berros.

— Miriam, Miriam, Miriam — Brandon replicava o nome da moça de modo pedante, arrogante. — Vou dizer mais uma vez, nunca ouvir falar no nome dessa moça. Eu não costumo lembrar das mulheres que abrem as pernas com tanta facilidade para mim.

Aquilo fora a gota d'água para Vennia. Soltou uma risada amarga. Agiria como uma louca, então. Irritou-se, praguejou contra todos ali presentes que tomavam chá. Falou dezenas de palavras profanas, bateu contra o peito, repetiu o nome de Miriam, para que ao menos Brandon falasse a verdade ao invés de esconder-se na saia de sua mãe.

A irritação borbulhava na superfície de sua pele. Brandon ainda negava, e não iria assumir o compromisso de casar-se com Miriam. A reputação de sua irmã ficaria manchada por conta daquele salafrário. Vennia desafiou a família Valentine aos berros. Ridicularizou Brandon, na frente de sua mãe, Diana, e afrontou Kairus Valentine, que ousou retirá-la a força da presença dele, assim como desacatou Heron, que somente observava a situação, quieto em sua serenidade.

Desgastada moral e fisicamente, a moça tateou seu avental e sentiu algo no bolso. Pegou a esquecida tesoura que usava para cortar o caule dos crisântemos de seu jardim, e então, Vennia brandou em fúria, deixando-se levar pelo calor do momento.

— Seu filho, a quem tanto proteges, Sra. Diana, engravidou a minha irmã — Vennia apontou o objeto afiado na direção de Brandon. — E eu não sairei daqui até que ele cumpra a sua promessa e se case com ela. Não deixaria que este homem mimado pisoteie o coração de Miriam.

Ninguém pareceu estar atento as palavras dela, ou sequer pareciam importarem-se. A única pessoa que parecia estupefata com toda a situação era Sophie, que sentia o desrespeito e hipocrisia nas palavras de seu irmão.

— Não se sente enojado por macular o corpo de uma garota inocente? — Vennia falava com as lágrimas trilhando o rosto. — Não sente nojo de si mesmo por renegar seu próprio filho?

— Tirem esta louca daqui. Guardas! Guardas! — ordenava Diana, quase sem fôlego.

— Soltem-me, seus malditos, soltem-me. — Vennia gritava ao ponto de sua garganta doer.

Fora pega bruscamente, o cesto com crisântemos caindo de suas mãos, sendo pisoteados pelos guardas, a tesoura escapando de suas mãos, e seu corpo sendo arrastado pelo chão, enquanto seus pés se debatiam para que não fosse aprisionada no cárcere.

Com toda a gritaria que fazia-se presente na sua casa, Victor foi até a janela do quarto, testemunhando a moça que era arrastada pelos guardas. Sentiu um imenso interesse nela. Agia como uma selvagem tresloucada que não tinha medo dos Valentines. Victor viu, na loucura daquela mulher, uma chance de arruinar o nome de sua família. E ele não perderia aquela chance por nada. A tal donzela escandalosa teria de ser sua aliada em seu ardil plano. E ela seria.



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