Alguns dias após a chegada da carta de Miriam, Hope e Vennia foram informadas de que deveriam morar na mansão dos Valentines, a pedido do próprio Brandon, que agora já estava transferido para outro regimento, e a sua esposa ficaria sozinha na mansão com o bebê, e chorava pela companhia da avó e da irmã. Victor fora mandado, como sempre, para cuidar da situação. E Vennia evitava olhá-lo com todas as forças. Ainda resguardava as mágoas da discussão de dias antes.
— Oh, não quero ter de sair de minha casa. — Hope tocava a mobília. — Deixar a minha casa assim, sem mais ou menos? Será tomada pelas teias de aranha.
— Vovó, nós já conversamos sobre isso. — Vennia ameniza a senhorinha. — Acaso não quer estar lá quando o seu bisneto nascer?
— Lógico que sim. Acaso está me acusando de não possuir coração?
— Além do mais, Miriam não saberá cuidar de uma criança recém-nascida. Precisará dos comandos de uma voz mais experiente. Voltaremos quando o Sr. Brandon regressar em definitivo ao seu lar.
— Mas Heron estará lá...
— Não se preocupe quanto a isto, vovó, prometo que tudo dará certo.
Victor assentiu para Vennia, felicitando-a por ser tão boa pacificadora.
Hope entrara em uma das carruagens, levando várias de seus itens decorativos, entupindo a carruagem — porque ninguém a convencera de que não era necessário levar tantas coisas —, enquanto Vennia teve de ir para a outra carruagem, na companhia de Victor. Arrumou uma sacola de pano bordada com flores em cor-de-rosa com os seus poucos vestidos, e adentrou-a.
Assim que acomodou-se, não deixou de sentir uma sensação de já ter vivido aquela situação. Como da vez em que Victor a tirou do calabouço ou a vez em que fora com ele para a cidade, assinar os papéis de casamento. Vennia sentiu uma espécie de murro no estômago. Victor parecia sereno quanto a tudo aquilo, enquanto ela, ainda rememorava-se de um casamento secreto que não parecia ter o mínimo de importância para ele.
E viveriam juntos debaixo do mesmo teto. Vennia pensou que se houvesse um Deus no céu, Ele estava a punindo por ter roubado as framboesas dos Valentines tempos atrás, quando era apenas uma pequena menina.
— Fui informado de que meu primo foi transferido para o regimento localizado em Gosport. — Victor avisou, de modo repentino. Possuía em mãos um livro.
— Gosport? Céus, por que justo este lugar? Tão longínquo de minha irmã.
— Ao que parece, o seu superior resolveu transferi-lo para lá, dada a sua péssima conduta como soldado. Partiu com urgente antecedência.
— Conhecendo o seu péssimo e indisciplinável caráter, espero que o Sr. Brandon não engravide outra donzela, e a engane com uma maldita falácia. Ele é um homem casado e brevemente será pai.
— Como se isto fosse o suficiente para mudar o caráter de alguém. — Victor desdenhou.
Vennia roía as unhas, nervosa pelo o que estava por vir. Morar na mansão dos Valentines... Nem em seus sonhos mais febris imaginou tal coisa.
— Pare de roer as unhas. Está me dando nos nervos. Deste jeito acabará roendo os próprios dedos.
— Estou nervosa. Mudando-me para um outro lar. É um outro mundo inatingível por mim. Espero que os Valentines não se cansem de minha tagarelice.
— De forma alguma. Deves ser invisível naquela casa. Falar o mínimo possível e não aborrecer meus insignificantes parentes por nada deste mundo. Não deves gargalhar, falar alto, fazer barulho e nem mesmo cochichar.

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VENNIA
Fiction Historique❣ Livro vencedor do Wattys2020 na categoria Ficção Histórica. "Nunca confie em um Valentine", esta era a sentença que Vennia Lionheart ouvira durante toda a sua infância. Sua vida aparentava estar ligada por laços inquebráveis com a famigerada fam...