VENNIA

Capítulo 27

— Ah, nenhuma destas peças combinam comigo. Ou são simples demais ou exóticas demais. — Miriam atirava as roupas para fora do baú. — Sinto meu corpo pesado, vivo sentindo dores nas costas, e agora, por conta das noites mal dormidas, porque o bebê não detém seus chutes, estou com manchas horrendas abaixo dos meus olhos. O Sr. Brandon está chegando e estou vestida com estes farrapos. Como encararei meu marido deste jeito? Estou horrorosa! E para o meu grandíssimo azar, meus sapatos não cabem mais nos meus pés inchados! — finalizou sua falação dramática, rompendo em um choro fingido que tampouco durou.

Em mais uma manhã, Vennia pegou-se a ouvir os lamentos de Miriam. A garota, com o corpo demasiado esférico levava os dias em objeções por cada pequena coisa, irritando-se facilmente com casos supérfluos. Ergueu-se com dificuldade onde jazia sentada rente ao baú escancarado com os vestidos jogados ao chão — uma bagunça que somente uma criança pequena faria —, e caminhou ainda descalça para o toucador, mudando completamente de semblante ao admirar os cosméticos e pinturas.

— Percebi esses dias, irmã, que tens conversado com o Sr. Victor. Todos dessa mansão sabem o quão reservado e de temperamento frio é este homem, mas ao que parece, na sua presença as palavras brotam da boca dele.

— E o que queres insinuar com isto? O Sr. Victor é livre para conversar com quem bem entender. Apenas sou educada em respondê-lo com franqueza.

— Uma resposta muito apressada esta que tu destes, afinal nada insinuei. Por que ficastes nervosa de repente? O que planeja, irmã? Queres casar-se com o Sr. Victor?!

Vennia podia sentir o coração travado, situado exatamente em sua garganta. A boca tremulou e as mãos suaram de imediato. Por Deus, será se a irmã havia descoberto? Havia sido revelado à Miriam o pecado de Vennia em casar-se em segredo para atender os caprichos de um homem de cerne deveras vingativo?

— Claro que não! — Vennia respondeu rápida como um raio.

— E o que o Sr. Victor fazia em vossos aposentos outro dia?

— Estava ensinando bordado para ele, visto que nós dois passamos os dias confinados nesta mansão enfadonha.

— Hmmm, pois eu podia jurar que estava a tentar seduzi-lo para si e trancá-lo em um casório.

— M-Miriam! Não diga uma coisa dessas. — Vennia corou. — Não planejo casar-me com este homem, por Deus! Não crie fantasias impossíveis em tua mente. Não tenho interesse algum em meter-me em um matrimônio com um Valentine, justo com um Valentine.

— Claro, como eu esqueceria. Ainda esperas pacientemente pelo desaparecido Stefan. Soube por meio de boatos que o Sr. Edward lhe propôs casamento. Devias ter aceito, Venni, pois quem irás casar com a vossa pessoa? Não possui dote, talento e nem mesmo uma boa aparência. — concluiu em um pensamento mordaz. — E se Stefan retornar para Hampshire, achas mesmo que ele casará contigo? Acredito que existam muitas mocinhas cultas e com dotes gordos em Londres.

— Pelo que posso notar ainda falas o que pensa, Miriam, sem ter o mínimo de decência e zelo pelos sentimentos alheios. Será se não cogita que as tuas palavras tão ásperas machucam-me tanto quanto uma afiada faca?

— Tanto faz — Miriam deu de ombros, virando na cadeira. — O que achas da minha maquiagem, irmã?

Os olhos azuis de Miriam jaziam cravados na face robusta exageradamente pálida de pó de arroz, e os lábios eram uma linha de puro escarlate, fazendo com que Vennia caísse em uma risada nada comedida. Seu riso alto ecoou pelo quarto, chateando Miriam.

— Qual é o motivo dessas gargalhadas de gralha, Venni?! Não estou achando graça alguma.

— Acaso farás parte de algum circo e não fiquei a saber? Céus, está parecendo um arlequim.