Capítulo 6

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Arrastou-se por noites os pesadelos que Vennia tinha com os cães da família Valentine, desde o infortúnio dia em que roubou as framboesas. Acordava agitada e não atrevia-se mais a pregar os olhos. Além dos pesadelos constantes, Vennia sofria com o repentino desaparecimento de Stefan. Desde aquele infortúnio dia, o rapazinho não dava mais as caras. 

Cansada de esperar por ele, Vennia fora procurar pelo garoto, mas óbvio que teria de esperar a sua avó adormecer. Vennia encontrava-se em uma espécie de castigo, pois Hope não deixava mais a menina sair de casa desde aquele infortúnio dia em que chegara em casa com os joelhos ralados, os cotovelos arranhados, lábio inchado, vestes sujas e cabelo desgrenhado.

Assim que anoiteceu, Vennia pulou a janela do seu quarto e portando somente uma lamparina, embrenhou-se na noite. Tinha referência mais ou menos de onde Stefan poderia estar. E essa pessoa poderia lhe dizer onde Stefan vivia.

Assim que o Sr. Sullivan fechou a porta do celeiro, quase gritou de grande espanto quando deparou-se com uma menina silenciosa de tez pálida como uma vela, de capa preta, e lamparina rente ao rosto, parada atrás dele.

— Que diabos?! — pôs a mão no peito, arfante com o susto. — Menina, isso são horas de estar na rua? Acaso não tem casa?

— O senhor deu trabalho para Stefan, não estou certa?

— Sim, mas há tempos que ele não trabalha mais para mim. Aquele ingrato cuspiu no prato.

— O senhor sabe me dizer aonde ele se encontra? — seus olhos suplicavam por uma resposta.

Vennia seguiu corretamente o endereço sugerido pelo Sr. Sullivan. Stefan não trabalhava mais colocando lenha no forno gigantesco do Sr. Sullivan. Ao invés disso, aceitara ficar na casa do Sr. Fernand, que não morava apenas na maior casa de todo o vilarejo, como também a casa mais bonita. Assim que Vennia aproximou-se das grandes janelas de vidro, notou que na casa do Sr. Fernand ocorria uma celebração. E não apenas isto, como testemunhou os dotes da tão famigerada Olivia, que tocava diante de piano com sua melodia angelical. Vennia contemplou o quanto ela era bonita. E demasiado pequena também. Tinha longos cabelos castanhos que domavam-se em grandes tranças. Vennia queria poder ver os olhos dela, visto que tocava piano de olhos fechados (o que fizera com quê Vennia a admirasse mais), mas podia imaginar que os olhos dela teria a cor do oceano.

Bateu na própria testa, recobrando a sua missão. Estava ali para ver Stefan. Averiguou toda a sala a procura dele, e viu somente a família Fernand, todos sentados, apreciando o som do martelar de piano que Olivia produzia.

Logo, deu-se por convencida de que Stefan era somente um empregado naquela casa, e que deveria estar aos fundos da casa. Rodeou-a, felicitando-se por estar certa. Stefan jazia aos fundos da casa, sentado nos degraus da porta que dava para a cozinha. Aparentava meio aéreo, olhando para a lua crescente no céu de poucas estrelas.

— Achei você. — a voz de Vennia o surpreendeu.

— O que faz aqui? — Stefan levantou-se da escadaria em um pulo.

— Precisava vê-lo. Oh, Stefan, sumistes por dias a fio. Pensei que talvez não quisesse mais ser meu amigo. Não fique aborrecido por eu estar aqui.

Contudo, Stefan não chateou-se ou ralhou com a menina. Em vez disso, correu até ela, e a prendeu em um abraço.

— Estou feliz por ver que está tudo bem contigo, Venni. — sussurrou nos cabelos dela.

Oh, se ele soubesse a festa que irrompia no coração de Vennia...

— Por que nunca mais fostes me ver ou brincar comigo? Aborreceu-se por que eu o instiguei a roubar as framboesas que pertenciam aos Valentines, não foi? O Sr. Sullivan disse que não trabalha mais para ele, e disse mais, falou para mim que agora trabalhas para o Sr. Oswald Fernand. É verdade tudo isto? Se trabalhas para o Sr. Fernand, por que ele o deixou aqui fora no frio, enquanto estão dentro de casa, aconchegados?

VENNIAOnde histórias criam vida. Descubra agora