Capítulo 55

7K 1.1K 777
                                    

Hope encarava a carta que havia recebido das mãos do mensageiro. Encarava a bela letra, redigida em punho firme, na frente do envelope, com o nome de seu remetente. Heron Valentine. As mãos da senhorinha tremiam. Um dilema conhecido ebulindo em seu coração para que queimasse a carta e nunca mais ousasse pensar em Heron. Após alguma resistência, finalmente abriu-a e a leu, pulando algumas linhas. Era a mesma ladainha de sempre. Heron pedia desculpas por erros passados e confessava-se ainda ardentemente apaixonado por ela. Hope sorriu amarga. Era tarde demais para ter as mesmas emoções de uma jovem apaixonada. Muito tarde. 

Não havia mais nenhuma essência da paixão que sentia por Heron. Verdade que se conheceram desde crianças, que ela o amou mais que tudo, mas o destino os separou. Questionava a si mesma, se era possível perdoá-lo e amá-lo como outrora, logo ele, que tornara-se tão cruel e frio, um homem que traiu o próprio irmão, deixando-o na miséria, e não apenas isto, como também havia trancafiado o neto em um hospital psiquiátrico por anos. Como ela poderia amá-lo? Abanou a cabeça, desolada consigo mesma. Ela nunca deixara de amar Heron.

Viu pela janela da saleta, Vennia a brincar com Matt no jardim, sentados no banco, fazendo o garotinho rir a beça, usando meias nas mãos como se estas fossem fantoches. Contava histórias muito enfática, mudando o tom de sua voz, e gesticulando teatralmente. Acenou para a avó que ainda estava na janela. Hope decidiu ir até eles aproveitar o dia que estava mui belo. Olhou mais uma vez para a carta. Ela havia escolhido seu caminho a ser traçado, e Heron como tal, deveria fazer o mesmo. Antes de ir para o jardim, Hope jogou a carta de Heron no fogo da lareira, sendo consumida pelas flamas tímidas até viraram cinzas.

— Algum problema, vovó? Seus olhos estão vermelhos.

— Não, querida Venni. Não há problema algum comigo. Estou bem — fingiu um sorriso. — Ainda não me contaste a respeito da jornada que tiveste com o Sr. Victor.

— Ah, vovó, aquele homem apenas plantou uma semente de dúvida em meu coração. Já havia decidido o meu caminho, e de repente, vejo-me completamente perdida depois do beijo que ele deu-me.

— Ele beijou-te? — Hope parecia tão enrubescida quanto a neta.

— Sim, beijou-me. É um atrevido descarado! Mas sabe o que é pior de tudo, vovó, eu acabei por gostar daquele beijo. Peguei-me até mesmo clamando aos céus para que nossa carícia perdurasse por mais tempo. Achei-me uma completa pecadora, pois enquanto ele beijava-me, por alguns segundos, esqueci do Sr. Stefan.

— Minha netinha, não percebes? — Hope esperou Vennia menear a cabeça. — Gostas  do jovem Valentine.

— Não posso gostar dele. Seria um absurdo. Ah, vovó, estou tão confusa.

— Então, como explicas o que acabaste de me confessar?

— Fomos assaltados por malfeitores. Ficamos assustados. Talvez, tenha visto no Sr. Victor, uma espécie de protetor temporário.

— Ah, Venni, por que tens de ser tão teimosa? 

— Estou deveras confusa sobre os sentimentos que alimento a respeito do Sr. Stefan e do Sr. Victor — juntou as mãos, levando-as para frente do rosto. — Apenas desejo que esta tormenta, passe, pois sei que se eu escolher um, estarei magoando o outro, e isso é o que menos almejo.

— Sei exatamente como se sente, Venni, porque eu já estive em seu lugar.


Eric acompanhava Miriam no mercado, desta vez, ajudando-a a vender suas tortas de romã na loja. Era um estabelecimento pequeno, mas que ambos lutaram para conseguir. Eram sócios naquele ramo. De quando em vez, olhava para moça de madeixas douradas e olhos que cintilavam em um belo azul, e pegava-se até mesmo pensando em noivar com a moça, por fim, casando-se com ela, e criando Matt como se fosse seu filho. Tivera muitas oportunidades em confessar o que sentia para Miriam, mas sempre murchava e a coragem dissipava-se de si, enquanto a timidez o dominava. Porém, naquele dia, justo naquele dia, ele estava cheio de coragem.

VENNIAOnde histórias criam vida. Descubra agora