Após muitas voltas de carruagem, Victor enfim havia encontrado a casa de seu tio, Lewis, e se tivesse um pouco mais de sorte, poderia muito bem encontrar seus parentes que por lá viviam. Formou um nó com os dedos e bateu na porta.
— Pois não? — Sophie abriu a porta e não deixou de surpreender-se com a visita. Ficou boquiaberta e constrangeu-se por isso. Inclinou um pouco a cabeça para a frente, reverenciando o rapaz.
— Sophie — a reverenciou. — Como tem passado, minha prima?
— Estou bem. Obrigada por perguntar. — pôs uma mecha curta e desobediente atrás da orelha.
Quando ouviu a voz da filha na porta, chamando o nome de seu primo que tanto lhes fizera mal, Diana rapidamente correra para a entrada, dando defronte com ele. Quase desmaiou por um momento.
— Victor? — Diana quase gritara por ver o rapaz. — O que vieste fazer aqui?! Ora, Sophie, não o trate com tamanho apreço, esqueceste que esse crápula fez conosco? Não me digas que vieste até aqui, para nos ofender?! Passamos estes quatro anos longe de tua presença, por favor, não nos aflija mais. Por vossa culpa, estou impedida de ver meu neto, pois Miriam muito aborreceu-se com os Valentines.
— Preciso falar com Heron — Victor a interrompeu em suas lamúrias. — Onde está meu avô?
— Ele está... — Sophie ia indicar o caminho, mas Diana logo a censurou.
— Não diga nada a ele — Diana levantou a mão direita, impedindo a filha de falar. — Não quero que esse patife incomode meu pai. A saúde dele não anda nada bem, e não quero que ele piore somente por vê-lo. É melhor que vá embora.
Victor assentiu, mas assim que ia dando as costas, uma voz conhecida surgiu de dentro da casa.
— Deixe de besteiras, irmã — Lewis logo apareceu, descendo a escadaria. — Quem lhe deu permissão para espantar minhas visitas? Se lembro-me bem, tu também és a minha hóspede.
— Ora, irmão, jogarás o véu da desforra sobre mim? Victor não merece nosso afago e muito menos, nossas palavras. Testemunhaste o que ele fizera conosco.
— Correção: o que fizera contigo, Kairus e papai. Não deixe o meu convidado sob o manto da noite. Venha, Victor. Convido-o para entrar.
Victor assentiu, e de cabeça baixa, passou pela prima e pela enraivecida tia.
— Não tiro a razão de Diana por permanecer tão irritada. Afinal, a humilhação de anos atrás ainda está marcada em cada um de nós, como se fosse feita por ferro em brasas. — Lewis guiava Victor pela casa, rumo a Heron.
— Onde está o meu pai? Não se mudou para esta casa?
— Kairus vive em Queensville. Está a uma hora de distância daqui, contudo, nunca veio visitar-nos. Nisso, você e ele são iguais. Ambos apreciam a solidão.
— A solidão foi tudo o que eu tive, tio. Não a escolhi como companhia. Estarei sendo hipócrita se eu disser que arrependo-me do que fiz?
— Achei que era isto que almejava, Victor. Ter o poder e a fortuna de um Valentine, para nunca mais ser envergonhado em sua vida.
— Eu necessito ser perdoado.
— Mas, a questão é se tu já perdoaste — Lewis pigarreou. — Heron está no coreto. Podes ir até lá.
O rapaz assentiu. Atravessou o extenso jardim — este uma centena de vezes mais belo que o jardim dos Valentines —, e encontrou Heron, no coreto de pilares brancos com algumas trepadeiras em flor, sentado em um dos bancos a ler um livro, apoiado em sua bengala. Não havia mudado em nada em suas feições, como se o tempo tivesse parado para o idoso. Continuava carrancudo e mal-humorado.
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VENNIA
Historical Fiction❣ Livro vencedor do Wattys2020 na categoria Ficção Histórica. "Nunca confie em um Valentine", esta era a sentença que Vennia Lionheart ouvira durante toda a sua infância. Sua vida aparentava estar ligada por laços inquebráveis com a famigerada fam...