Incrédula. Este era o estado de espírito de Vennia. Não conseguia crer de forma alguma que Miriam, uma donzela um ano mais nova que ela, tivesse recebido uma proposta de casamento. A irmã mais nova casando-se antes da mais velha. Aquilo era um ultraje para Vennia. Contudo, embora estivesse ardendo de ciúmes — morreria sem admitir tal coisa — sua contraparte alegrava-se com a animação de Miriam. Hope não admitia, mas permanecia ansiosa, tendo de lidar com o fato de que sua jovem netinha logo estaria casada. Com um Valentine.
Estava tudo indo rápido demais. Brandon praticamente parecia um hóspede no casebre. Apreciava o pequeno-almoço, contava seus relatos do regimento, encantava Miriam com sua voz doce, o que fazia o estômago de Vennia embrulhar. Em todos os momentos que o rapaz despojara a atenção de Miriam, em nenhum deles Brandon expusera que daria um anel para Miriam. Sequer ele a apresentara para a sua família.
Pobre iludida menina. Espalhava por todos os cantos que estava noiva de um Valentine. Precipitada, cega de paixão. Fofocava com as amigas a respeito do vestido, como seria a festa de seu casório e comentava até mesmo a respeito do imaginário buffet.
E Vennia, tal qual transfigurou-se em uma aborrecida enciumada, carcomia sua raiva daquele apressado noivado.
— Miriam está com esse namorico apenas para irritar-me — com o graveto em mãos espancava as folhas do arbusto. — Por que ela teve de crescer tão rápido? Era tão mais compreensível e gentil quando criança. Argh! Ela chateia-me ao ponto de fazer-me falar sozinha. O tal noivo de Miriam tira-me do sério. É um jovem acima de nossa posição social. O que mais iria querer com uma mocinha como minha iludida irmã, além de brincar consigo e destruir seu coração? E sempre que Miriam comete um engodo, vovó e eu sofremos as consequências.
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Passar os dias ao lado de Miriam, cansava-o. Ela era demasiado grudenta, nunca o largava, porém brincar com ela era divertido para Brandon. Torná-la sua noiva, foi de longe, a coisa mais espontânea que ele fizera em sua vida. Ela era tola, apaixonada, bem diferente de suas outras "noivas". Miriam o colocava em um pedestal. Ah, namorar com tantas mulheres ao mesmo tempo deixava-o exausto. Era exaustivo mentir. Não conseguia dar atenção a todas, todavia não conseguia parar. Era um vício e um ciclo. Enganava-as, fazia-as se apaixonar, para logo após vê-las desfazerem-se em lágrimas por perceberem que não se casariam com ele.
Jurou que ninguém o prenderia. Não era um pássaro fácil de ser pego. Considerava a si mesmo como um corcel selvagem e indomável.
Retornou para a mansão Valentine tarde da noite, com o cheiro de seu suor sobreposto por perfume feminino. Não poderia atravessar os corredores da casa e ainda ter de explicar para a mãe porque não estava dormindo no batalhão. Se dissesse que fora penalizado, ela seria compreensiva? Obviamente, mas Brandon não estava com paciência para atuar e fingir-se de coitadinho. Estava com sono e almejava dormir.
Subiu as paredes do lado de fora da mansão, adentrando a própria casa como se fosse um larápio, e abriu a primeira janela que apareceu no seu caminho. Acabou o moço por invadir o quarto de Sophie, sua irmã, rompeu pela janela e estabanou-se no assoalho.
Sophie meneou cabeça, pacientemente reprovando a atitude do irmão. Era uma moça deveras calma, com a paciência de um sábio. Tinha o rosto com traços delicados acompanhados por uma tez pálida e maçãs do rosto levemente coradas e olhos cinzentos que escondiam por detrás uma inteligência grandiosa. Na cabeça de fios brancos como a neve, uma coroa de tranças. Era uma moça que vivia a sentir fadiga, constantes falta de ar seguidas de respiração entrecortada e rápida. Nascera enferma e prematura, e mal conseguia praticar qualquer tipo de exercício que exigisse muito de sua capacidade física, pois seus pulmões não iriam suportar, e por conta disto, vivia seus dias em plenitude, longe de conflitos ou confusões que lhe desgastassem.
Suspirou, entendiada, ao ver que Brandon gargalhava, ainda esparramado ao chão.
— Tens o teu quarto, querido irmão. Gostaria muito que parasse de invadir os meus aposentos. Isto é demasiado constrangedor. — dissera monótona, enquanto fazia o ponto-cruz.
— Ah, irmãzinha, não sejas cruel. Se mamãe descobrir sobre as minhas escapadas antes do alvorecer, irá moer meus ossos.
— Duvido muito se a nossa mãe fará isso. És o filho predileto dela. Qualquer besteira que fazes, mamãe sempre dá um jeito de acobertar e continuar tratando-o como um rebento mimado.
— Estais sendo má, minha irmã. Além disso, suas palavras ariscas estão estragando a bela noite que tive com a minha dama.
— Desejo muito que torne-te responsável, Brandon, ou temo que as tuas noites de diversão logo se transformarão em noites de pesadelos.
— Oh, não seja agourenta. — sorriu, abobado
— Sinto que está apaixonando-se pela sua donzela.
— Não diga asneiras, maninha. Embora eu esteja gostando muito de cortejá-la. Mas a irmã dela não facilita nada. Sempre está pelos cantos da casa, nos vigiando.
— Gostas mesmo desta garota, ou fazes isto apenas para te satisfazer?
— Miriam é só o aperitivo, não o prato principal.
— Que horror. Como és repulsivo, Brandon. Logo posso prever que não pretende se casar com ela.
— Evidente que não. Uma camponesa e um Valentine? Seria uma união improvável. Desastrosa.
— Mas dissera que estavas gostando de cortejá-la.
— Não funciona assim, Sophie. O amor não é parecido como nos contos em que você desperdiça seu tempo lendo. Quando eu cansar-me dela, darei um jeito de me livrar deste noivado de mentirinha.
— Brincas com os sentimentos das donzelas, como se estas fossem menos que nada. Rezem, meu irmão, para que a tua alma não pereça no limbo por tamanho pecado que carregas.
Sophie bufou, irritada com Brandon, finalizando seu ponto-cruz. Guardou o pano decorado ao seu lado, na pequena poltrona, fechou as mãos repousando-as sobre o saiote do vestido.
— Soube através dos criados que o nosso primo está voltando para a mansão.
— Victor? — Brandon sobressaltou-se, enraivecido. — Aquele esquisitão que foi trancafiado em um hospício pelo vovô?
— Não fale desse jeito, irmão. E ele não foi para um hospício, mas para um hospital psiquiátrico.
— Qual a diferença? — Brandon indagou com desdém.
— Enquanto nosso o primo estiver aqui, por favor, peço-te para que pare com as vossas escapadas.
— E o que ele fará? Dirá para Diana? Sabes muito bem que o nosso primo esquisito odeia a nossa mãe. Por que achas que ele retornou somente agora?
— Não faço ideia, caro irmão. Mas sinto que ele não veio em missão de paz.
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VENNIA
Ficción histórica❣ Livro vencedor do Wattys2020 na categoria Ficção Histórica. "Nunca confie em um Valentine", esta era a sentença que Vennia Lionheart ouvira durante toda a sua infância. Sua vida aparentava estar ligada por laços inquebráveis com a famigerada fam...