Após um banho demorado, estava finalmente despertado. Decidi vesti uma calça jeans escura, e uma camiseta branca que valorizava meus bíceps. Pois apesar da pouca idade, já tinha um corpo muito desenvolvido. Meus cabelos negros e encaracolados era um grande charme diante das garotas. Porém, meu nervosismo e timidez as deixavam espantadas. Os meus olhos que lembra muito os da minha vó, dizia mais sobre mim. Não tinha como esconder nada, quando olhavam dentro dos meus olhos.
-Você é lindo filho - dizia minha mãe.
Senti um leve aperto no coração ao lembrar dela. Segurei uma lágrima que insistia cair, e tentei afastar da minha mente essas lembranças. Pelo menos nesse instante, afinal, não estaria dentro do meu quarto agarrado no meu travesseiro para chorar.
Se controla Samuel. Pensei.
Desci as escadas me benzendo, é hábito por conta da religiosidade da minha avó. Tanto que, pela a casa existia muitas imagens de santos, um altar com Nossa Senhora Aparecida, e uma vela de sete dias.No qual, todos os dias minha avó reza o terço e abençoa o nosso lar. Isso se tornou um hábito, umas das tradições da família.
-Bença vó. - falei, quando vi sua figura pequena e encurvada tentando fazer umas panquecas. Porém, o cheiro de queimado pairava pelos os cômodos da casa, acusando que tinha saído errado.
-Deus te abençoe meu filho. -sussurrou, segurando a frigideira nas mãos enrugadas.
Passei ao seu lado e lhe dei um beijo na testa. Seu cheirinho de lavanda mais forte hoje.
-Quer ajuda vó?
Seus olhinhos puxados me encararam.
-Não precisa meu filho.
Ela era muito teimosa. Mas, decidi não retrucar e me sentei na cadeira vazia que ficava de frente a janela pequena da cozinha. Ainda tinha alguns minutos antes de chegar na lanchonete.
-Vó, como a senhora dormiu?
Meio desengonçada, jogou a frigideira dentro da pia e abriu a torneira, a fumaça pairava no ar, no entanto sua figura pequena e velha, me transmitia paz.
-Dormi bem meu filho....
Então, me levantei da cadeira indo em direção a uma cestinha com frutas. Peguei uma maçã vermelha e chamativa, e dei uma mordida. O gosto maravilhoso descendo pela minha garganta, aliviou a fome que estava sentindo.
-Samuel! Espere as panquecas! -gritou, quando me viu com a maçã nas mãos.
-Não poderei esperar... - Disse - beijando sua testa.
- Vou pra lanchonete.
Sem que ela pudesse dizer alguma coisa, virei as costas e saí.
♣♥♣♣
Cheguei na lanchonete em menos de quinze minutos. Pela a força do hábito olhei para a mesa perto da janela, porém ela ainda não havia chegado. Senti meu coração apertar.
-No horário. - disse ríspido meu chefe saindo de trás do balcão e jogando meu avental na minha cara.
Segurei o ar e tentei controlar minha vontade de dar um soco na sua cara amassada. Seus cabelos vermelhos, encaracolados e ressecados. Os olhos amarelados e esbugalhados que desbravava ódio e arrogância. As vezes acredito que sua falta de educação desceu pela a garganta e se depositou na sua barriga imensa.
-Sim. - respondi de cabeça baixa, colocando o avental na minha cintura.
-Irei resolver uns negócios - disse ele - empurrando meu ombro e me abandonando naquela lanchonete vazia. Não totalmente. Existia uma ou duas pessoas tomando café e mexendo no celular. Pessoas solitárias em busca de satisfazer seu vazio momentâneo.
Sem ter nada para fazer. Peguei um pedaço de guardanapo e comecei a fazer alguns borrões sem sentido. Meu pensamento foi na moça de cabelos loiros. E senti meu coração se engrandecer. Precisava mostrar para ela o que sentia, o sentimento que cresceu diante de apenas observações. Eu vigiava sua delicadeza de longe e me apaixonava mais ainda. Sem perceber, já havia escrito um pequeno bilhete:
Seu sorriso é a certeza que tenho para um dia feliz. Apenas sinto meu coração alegre toda vez que há vejo sentada na mesma mesa, pedindo o mesmo café e admirando as pessoas ao seu redor. ♥
Sorri quando li o que acabei de escrever sobre a moça. Ela precisava ler isso, nem que seja apenas no anonimato. Feito um bobo, corri até os fundos do galpão e peguei uma tesoura.
-Moço, quero a conta por favor -falou uma moça muito bonita, me fuzilando com os olhos. Talvez pela a demora do atendimento.
-Cinco reais - disse sem prestar atenção na nota de dinheiro na minha mão.
-Obrigada. - disse de forma ríspida.
Sem nem prestar atenção, continuei a cortar o pequeno guardanapo. Até ele se formar um coração de papel. O meu coração.
Fiquei admirando meu pequeno bilhete, nas minhas mãos. Quando senti o cheiro de rosas invadir o ar. Era ela. Hoje estava mais linda do que nunca. Seus cabelos loiros presos num rabo de cavalo. Seus olhos cor de mel estavam escondidos debaixo de uma lente de um óculos. Nunca tinha visto ela assim. Ela ficou com a aparência culta.
-O mesmo de sempre - falou suavemente. Sua voz era música para os meus ouvidos.
Fiquei um tempo admirando ela se sentar na mesma mesa perto da janela. Colocando sua bolsa vermelha na cadeira vazia e começar a admirar as pessoas que andavam pelas as ruas da cidade.
" Não baba Samuel. Pensei"
Peguei uma xícara branca, coloquei um pouco de café feito na hora. O cheirinho de cafeína invadia minhas narinas e sorri. Com as mãos trêmulas meio sem jeito, peguei um adoçante e coloquei duas gotas. Tentando não derramar o café no chão, enfiei a mão no bolso e senti o papel. Perdi a coragem de fazer isso. Mas, necessitava.
Com o corpo tremendo e tentando recuar. Levei seu pedido até sua mesa. Aproveitando que ainda continuava olhando para a janela, tão distraída. Coloquei o coração de papel jogado na mesa. E saí. Mesmo antes de notar minha presença.
♥♣♥♣
Meu coração acelerou quando há vi ler o pequeno bilhete. Com a maior delicadeza do mundo, sorriu. Pude ver um sorriso sincero estampado no seu rosto pequeno e angelical. Eu tinha arrancado essa dádiva! Apenas com aquelas palavras simples e sinceras. Após ler o bilhete, olhou para os lados em busca de alguma resposta. De um alguém. Queria poder sair de trás desse balcão e gritar que EU ESCREVI ISSO! Que eu estava completamente, suavemente, delicadamente admirado por ela. Porém, apenas guardei esse sorriso comigo.🍁🍁🍁🍁🍁🍁🍁🍁🍁🍁🍁🍁🍁
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Coração de Papel ( Revisado)
RomanceCartas escritas em pleno século 21 é clichê demais? Ela todos os dias sentava no mesmo lugar, pedia o mesmo café com duas gotas de adoçante e sorria toda vez que via uma carta deixada sobre a mesa. Ele apenas observava de longe, vendo seus olhos co...