Capítulo XXV

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Não me agradava nenhum pouco o que refletia no espelho, a imagem de um homem com medo e acuado. O que tentava esconder debaixo de uma calça jeans preta e uma camiseta branca pólo, era a confusão de uma pessoa que não sabia o que fazer diante de um encontro. Faltava apenas 1hora para encontrar Melissa em frente a estação de trem, e sim, se pudesse me trancava dentro do meu quarto e escreveria mil cartas para Ana Helena. Porém, sabia que seria deselegante da minha parte.

-Samuel está pronto?

Fui acordado dos meus pensamentos com a minha avó gritando perto da porta. Pelo seu tom de voz, estava mais animada que eu.

-Estou sim.

Tentei ignorar esse medo que invadia meu corpo, e abri a porta para que Amélia entrasse no quarto.

-Nossa, realmente está um galã. -Falou quando me viu, seus olhos negros brilharam de admiração.

-Obrigado.

A animação estava estampada no seu rosto enrugado. Tudo o que mais queria era ver o neto casado com uma mulher de classe financeira alta e que pudesse manter o casarão da família. Sua satisfação é ver algo que conseguiu construir com o meu avô passando em geração e geração, como um memorial.

-Melissa deve estar ansiosa...

Antes que pudesse dizer algo, ela sentou-se na minha cama bagunçada, e ficou olhando em colocar a jaqueta social. Eu realmente estava bonito, porém não adiantava estar desanimado com um encontro desses arranjado por Amélia. Não entendia esse medo que crescia dentro de mim a cada minuto que se passava no relógio. Melissa era encantadora, parecia ser uma companhia agradável, porém não era ela que desejava cada dia mais.

Ana Helena. Pensei.

-... Samuel está aqui ainda?

Olhei meio perdido para o seu rosto curioso e sorri. Tentei fingir que Ana não invadia meus pensamentos constantemente, e que podia controlar isso.

-Só estou um pouco cansado.

Amélia encarou meu rosto em busca de uma resposta verdadeira, e sem encontrar, desviou o olhar para o retrato de meus pais.

-Ela era linda.

Sim, Lúcia era a coisa mais bela que existiu na terra.

-Verdade.

-Pena que se foi tão jovem.

Lágrimas começaram a rolar sobre a sua face. Pela primeira vez compartilhei de sua dor, e fui até o seu corpo pequeno para abraçá-la.

-Ela está bem vovó.

Sentia minha jaqueta sendo molhada com as suas lágrimas. Apertei seu corpo contra o meu, como se fossemos um só. E chorei junto com ela. Apenas ouvindo nossos corações e a dor que ainda pulava nos nossos corpos.

¥¥¥¥¥

Fazia quinze minutos que observava Melissa de longe. Ela realmente estava muito bonita, vestida numa calça jeans e uma jaqueta da adidas cinza, disfarçava seu corpo rechonchudo. Mesmo de longe, enxergava seus lábios carnudos perfeitamente desenhados num batom vermelho. Ela mexia no celular impaciente, sem entender porque não havia chegado ainda. Mal poderia imaginar que, estava escondido atrás de uma banca de jornais, com medo de encarar seu rosto fofo e delicado.

Eu não deveria estar aqui. Pensei pela a vigésima vez. Porém, respirei fundo e fui ao encontro de Melissa.

Ao notar minha presença, sorriu discretamente e colocou o celular dentro do bolso da jaqueta. Tentei controlar as batidas do meu coração que gritava dentro do meu peito e me aproximei do seu corpo.

Coração de Papel ( Revisado)Onde histórias criam vida. Descubra agora